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montesclaros.com - Ano 26 - sexta-feira, 28 de março de 2025


Manoel Hygino    manoelhygino@santacasabh.org.br
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Por Manoel Hygino - 22/3/2025 07:25:05
É útil saber

Manoel Hygino

Uma notícia que precisa ser conhecida. Neste sábado, dia 22, a Santa Casa BH realiza mais uma etapa do mutirão de colonoscopia, beneficiando pacientes do SUS. A ação faz parte do Março Azul, campanha nacional que alerta sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de intestino, terceira principal causa de morte por câncer no Brasil.

A cerimônia oficial de abertura, no dia 15 de março, contou com a presença do provedor da Santa Casa BH, Roberto Otto Augusto de Lima, diretores e demais gestores da instituição. O evento foi prestigiado pelo Secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, pela Secretária de Estado Adjunta de Saúde, Poliana Cardoso Lopes, e por representantes da Sociedade Mineira de Coloproctologia (SMCP) e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).

O mutirão conta com equipe multiprofissional de coloproctologistas, anestesistas, residentes e técnicos de enfermagem da Santa Casa BH, além de especialistas convidados. A iniciativa, porém, dispõe de suporte fundamental dos guardiões do Instituto de Oncologia Santa Casa BH, os deputados Weliton Prado e Elismar Prado, que apoiam o Instituto por meio de emendas parlamentares.

O câncer colorretal, quando diagnosticado tardiamente, apresenta baixas chances de cura. O Inca estima que 65% dos casos ainda sejam detectados em estágios avançados, o que eleva os custos do tratamento e reduz significativamente a sobrevida.

Entre os principais fatores de risco para o câncer de intestino estão a idade acima de 45 anos, o histórico familiar da doença, o sedentarismo e a obesidade, bem como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e uma alimentação pobre em fibras e rica em gorduras saturadas.

“A colonoscopia é a principal ferramenta de prevenção, pois permite a identificação e remoção de pólipos antes que evoluam para um câncer. Quando a doença é diagnosticada precocemente, as chances de cura podem chegar a 90%”, destaca o coloproctologista e chefe do CDT da Santa Casa BH, Dr. Guilherme Santos.

Com o mutirão, a Santa Casa BH reafirma seu compromisso com a saúde dos mineiros, garantindo acesso rápido ao exame e reforçando a importância do diagnóstico precoce.
Não posso deixar de lembrar algo importante. O mutirão do Centro de Diagnóstico da Santa Casa BH, na Avenida Francisco Sales, 1111, junto ao edifício principal da instituição, a partir das 7 horas.


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Por Manoel Hygino - 19/3/2025 08:03:30
Raça e racismo

Manoel Hygino

A advogada Patrícia Punder, CEO da Punder Advogados, em recente artigo para diário da capital, comenta crises políticas, econômicas e sociais em várias regiões do mundo, atribuindo ao fato a intensificação das desigualdades sociais. Escreveu: “É importante citar a disseminação de ideologias extremistas como outro indicador do aumento do racismo. É tema que está na moda. E o racismo consegue abalar a tranquilidade brasileira e sufragar as vias da intolerância”.

Mencionada profissional do Direito anotou, com razão: “Líderes políticos e figuras públicas que adotam discursos nacionalistas e excludentes frequentemente legitimam atitudes racistas em suas bases de apoio. A ascensão de movimentos nacionalistas e de extrema-direita em vários países promoveu uma retórica abertamente racista, incentivando o uso da violência e discriminação. Sendo que as redes sociais se tornaram ferramentas eficazes para a propagação do discurso de ódio”.

Diante dos fatos e dos comentários, considero oportuno o discurso do novo membro da Academia Mineira de Letras, Dr. Paulo Sérgio Lacerda Beirão, quando trata de assunto tão referido na hora que atravessamos. Ele lança luzes sobre a questão. “Hoje sabemos, do ponto de vista biológico, que não existem raças humanas – existem diferentes fenótipos. Isso ficou mais evidente com os estudos genômicos, como mostrado pelo nosso colega da UFMG Sérgio Pena, e de histocompatibilidade. Exemplo ilustrativo: se alguém precisa de um transplante de órgão, ele poderá encontrar um melhor doador, mais compatível, em pessoa com diferente cor da pele do que em alguém com a mesma cor. Não existem raças, mas infelizmente existe racismo, que é uma construção social para justificar a exploração de povos e indivíduos”.

Adiante Paulo Sérgio, que é cientista, acrescentou: “No meu modo de ver, a cultura científica faz parte do patrimônio cultural da humanidade. Por cultura científica eu me refiro mais ao que poderia chamar de atitude científica do que ao conhecimento enciclopédico de fatos e informações científicas”.

E mais: “Há muita confusão entre o conhecimento gerado pela pesquisa científica com falsidades pseudocientíficas, disseminadas de forma indiscriminada. Há até pessoas que acham que podem divulgar opiniões pessoais como se fossem verdades científicas, alegando um suposto direito de liberdade de opinião”. “A ciência e o cientista têm por obrigação um compromisso com a verdade”.


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Por Manoel Hygino - 15/3/2025 07:09:20
Mais que um número

Manoel Hygino

Está circulando o número 84 da Revista da Academia Mineira de Letras, com excelentes matérias, assinadas por quem sabe escrever e, além do mais, por quem escolhe seriamente os temas. Fundada há mais de um século, como se observa nas primeiras páginas da edição, a publicação se tornou uma das publicações mais longevas do Estado, graças à tenacidade de seus editores e à nossa pujante cena literária.

Como enfatiza Jacyntho José Lins Brandão, presidente da Academia Mineira de Letras, “a revista dignifica e honra as letras mineiras”. No número que acaba de sair, o primeiro dossiê que a forma, por sugestão do jornalista Silvio Ribas, leva o título de “Literatura e cidade natal”, numa natural e simpática homenagem à terra de nascimento de escritores já consagrados em nosso meio.

Assim desfilam textos sobre Divinópolis e Adélia Prado, Itabira e Carlos Drummond de Andrade, Sacramento e Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Fernando Sabino e Belo Horizonte, Aiuruoca e Dantas Mota, Darcy Ribeiro e Montes Claros, Helena Morley e Diamantina, Lina Támega Peixoto e Cataguases, Curvelo e Silvio Ribas, Ângela Maria Rodrigues Laguardia e Barbacena, e finalmente Juiz de Fora e Pedro Nava.
As mais de 400 páginas da edição começam com os versos da poeta Flávia Queiroz Lima a enfeitar o contexto, sob título de “A cidade que me habita”: “Esteja em qualquer recinto, é seu olhar que me fita. Vestindo dores, perfumes, sedutora, em mim se infiltra, sinto ciúmes do vento, e ele, pairando, desliza, é dona de meus espaços, a cidade que me habita”.

Não se deve deixar de registrar que, em se falando de Minas e seu interior, Olavo Romano não poderia faltar. E não faltou. O texto “Casos de Olavo”, assinado por Ivete Walty, é como a abertura de tudo mais que vem à frente. Evocam-se episódios de quem foi companheiro de muitos anos de confrades e consagra marcas profundas em todos os que o sucederam.

O segundo dossiê, organizado por Ana Maria Clark Peres e, também Rogério Faria Tavares, exibe como tema central Chico Buarque de Holanda, ao ensejo de seus 80 anos. E o aniversariante confessa: “O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô era mineiro e meu tataravô, baiano”.


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Por Manoel Hygino - 13/3/2025 07:56:38
Lições do Oscar

Manoel Hygino

O Carnaval 2025 passou. Sua realização coincidiu com a escolha nos Estados Unidos das melhores produções do cinema mundial. O filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, entrou para a história.

Ao ser classificado como a melhor produção internacional, tornou-se a primeira película brasileira a conquistar o maior prêmio do cinema.

No entanto, o Brasil, seu povo, não se sente satisfeito e feliz. O êxito na sétima arte não apaga a tragédia que inspirou a película, nem os males irreparáveis que desabaram sobre a família de muitos brasileiros que perderam a vida e a de seus membros nos anos da ditadura.
As perdas caíram como estigma inapagável na vida dos familiares dos 434 mortos e desaparecidos durante o fatal período. Este é o número dos que se tornaram vítimas e foram catalogados pela Comissão Nacional da Verdade, que receberão como deferência do Estado, gratuitamente, as certidões de óbito dos parentes, atualizadas.

Este ano, a cerimônia do Oscar apresentou várias mudanças ao longo de suas três horas de duração. Mas para o Brasil e os brasileiros, elas foram muito maiores, porque mais profundas, não somente pelas expectativas de sucesso com que o final era ansiosamente aguardado. Havia mais que os aspectos técnicos e artísticos em jogo. É que se tratava de um enredo especial, envolvendo a vida da nação, do cidadão, da família, do amor à liberdade.

Enfim, o filme é a edição para as telas de um dos momentos mais cruéis da história do país. Julgava-se, até certo ponto, personagens, que participaram da vida da maior potência do Hemisfério Sul das Américas. O jornalista Luiz Carlos Azedo, que acompanhou de perto aquela época dolorosa, comentou: “Ainda estou aqui é um recorte dos 21 anos de ditadura militar, um tormentoso processo político marcado por sequestros, torturas e assassinatos, a partir do drama familiar de Eunice, viúva do ex-deputado Rubens Paiva (PTB-SP), que desapareceu num quartel do Exército no Rio de Janeiro.

É fruto de uma longa trajetória do cinema brasileiro, cujo reconhecimento internacional, iniciado com o Cinema Novo, hoje pode finalmente chegar à consagração artística maior e a um novo patamar de mercado”.
Com a festa do Oscar 2025, leva-se à cena um período difícil e perigoso da história do país. A película, que não conseguiu brindar Fernanda Torres como a maior atriz do mundo, põe em exame e julgamento a própria democracia no país, ainda sujeita a ventos fortes e tormentosos.


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Por Manoel Hygino - 11/3/2025 08:13:25
Tensão no salão oval

Manoel Hygino

Depois de um telefonema de véspera, Trump e Zelenski se encontraram no Salão Oval da Casa Branca. A ligação fora de uma hora e meia. Em Washington, na residência oficial do presidente dos Estados Unidos, a duração foi menor. O presidente da Ucrânia foi convidado a ir-se embora de modo grosseiro, quase expulso. O chefe da nação americana, antes de vê-lo partir, chamou-o de “canalha”, o que ficou gravado por televisões, rádios e jornais presentes.

Nos países de língua portuguesa, não há variação. É sempre sinônimo de vil, ordinário, patife, baixo, infame, algo semelhante e de baixo jaez. As folhas de todo o mundo publicaram: “Encontro de Trump e Zelensky tem gritos, bate-boca e ameaças. O que as câmeras de TV puderam gravar para olhos e ouvidos do planeta foi feito.

Maria Zakharova, porta-voz da diplomacia russa, opinou que Donald Trump e seu vice JD Vance demonstraram moderação diante do “canalha” durante a refrega verbal, que parecia apontar para alguma atitude física, tal a sua tensão e calor. Em verdade, o norte-americano esperava que, no ali da Casa Branca e com a presença de altas autoridades e Imprensa, Zelensky cederia à sua proposta. Esta, porém, não era a pretendida pelo mandatário de Kiev. “Paz a qualquer preço ou de graça, não”.

Para Trump, Zelensky teria de demonstrar gratidão à Casa Branca, pelo que fizera no governo Biden. “Vocês têm de mostrar gratidão”, insistia o titular Tio Sam, cobrando um cessar-fogo e cobrando em três vezes o apoio pelo EUA. Mas Trump queria mais: a exploração de minerais em terras ucranianas.

Zelensky não concordou em qualquer momento. Dirigiu-se ao interlocutor com a mesma franqueza como era arguido. Trump respondeu esbravejando. O contendor não as intimidou, mesmo acuado. O ucraniano dirigiu-se ao presidente da mais poderosa nação do mundo: “Você diz que chega de guerra”: “Eu acho que é muito importante você dizer estas palavras a Putin, porque ele é um terrorista e um assassino”.

O republicano de Tio Sam tentou contra-atacar: “Eu sou a favor da Ucrânia e da Rússia. Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial, referindo-se ao fato da Ucrânia buscar opor os EUA e o Ocidente à Rússia. “Você desrespeitou o seu país, gritou Trump com o dedo em riste”.

O vice J. D. Vance entrou em cena: “Eu acho desrespeitoso você vir aqui no Salão Oval e dizer essas coisas em frente à mídia americana”. A embaixadora ucraniana em Washington, Markarova Oksana, afundou a cabeça entre as mãos na plateia. Em Bruxelas, Ursula von der Leyen, presidente da União Europeia, garantiu: “Zelensky não está sozinho”.


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Por Manoel Hygino - 8/3/2025 07:17:34
Um santo venezuelano

Manoel Hygino

Nicolás, o da Venezuela, não eleito para exercer a presidência, é Maduro no nome; mas pelo tempo de vida, já deve estar “podrido”, como se diz em espanhol. Há pouco, colocou o exército venezuelano na fronteira com o Brasil, invadiu o espaço aéreo brasileiro e despachou para novo território e o da Colômbia 5,2 milhões de pessoas, abrigadas principalmente por aqui nos municípios da Calha Norte. E ainda declarou: “O Brasil não é confiável...”

Naqueles dias, corria a notícia de que Maduro não era de naturalidade venezuelana, pois originário da Colômbia. Inicialmente partida do jornalista Edgard Matsuki, a informação correu as Américas. O texto não era longo: “A novidade agora é a descoberta de que Nicolas Maduro é colombiano e não venezuelano nato, infringiu e infringe todas as regras da Constituição do país. Atores políticos são “plantados” pelo Sistema em muitos países, principalmente nas Américas.

Vivemos em um jogo de xadrez? Devemos observar muito esses “atores, titeres e payasos plantados” para atuar e obedecer ao “Sistema”. Comece a observar esses políticos que não sabem falar ou escrever bem o seu idioma, ou não têm os costumes do país onde estão e onde aparecem de repente. Alguns já têm até bom status no meio do povo. Não acreditem em suas histórias, com infâncias inventadas, busquem investigar”.
Quem tem interesse pesquisa. As respostas surgem claras: “Não”. Maduro nasceu em Caracas, em 23 de novembro de 1962. Não encontramos em fontes confiáveis. Achamos mensagens desmentindo a fake news. A história circula, no mínimo, desde 2013. Na época, a versão viralizou também pelo fato de a mãe de Nicolás ter nascido em Cúcuta, na Colômbia. Maduro declarou que se sentiria honrado por ser colombiano, mas nascera em Caracas. Além disso, investigações apontaram que os supostos documentos viralizados eram falsos.

Em todo caso, na tentativa, talvez, de proteger a Venezuela, o Papa Francisco, mesmo recolhido a leito hospitalar no Vaticano, autorizou a canonização de um leigo venezuelano. Foi José Gregorio Hernández Cisneros, conhecido como o “Médico dos Pobres”, já beatificado em 2021, que se tornará o primeiro santo daquele país. Chegou em boa hora.


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Por Manoel Hygino - 4/3/2025 06:52:42
Carnaval, pois sim

Manoel Hygino

Tempo de carnaval. Diz-se comumente que o Brasil é o país mais carnavalesco do planeta, neste e no século que passou. Momentos de alegria (a palavra “folia” diz muito para milhões) de meditação para outros tantos que pensam e sofrem diante da perspectiva de época.

Os políticos estão vivendo neste 2025 que novamente já se tornou precursor de eleições. Desta vez ainda, para escolher um presidente da República, governadores e componentes de casas legislativas. No entanto, os próximos dias e meses serão de acirrados embates sobre o processo do golpe de estado, que impelirá sentimentos e pensamentos, em face dos desacertos e razões duvidosas.

As perspectivas não são lisonjeiras e o cidadão imagina o pior. Tem razões de sobra. Percebo o horizonte sombrio, os céus escurecendo os dias com nuvens sombrias.

O advogado Celso Vilardi, representante do ex-presidente Jair Bolsonaro, pediu em audiência ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, anulação da delação premiada do ex-ajudante Mauro Cid. No entanto, não quis abrir o jogo com relação a outras petições formuladas ao magistrado.

O advogado também disse que a divulgação de novos áudios da Polícia Federal (PF) sobre a investigação que baseou o inquérito do golpe "não complicam" a situação de Bolsonaro. "Não tive acesso a todas as mídias. Isso precisa ser analisado dentro de um contexto, e não de frases separadas”, completou. Bolsonaro e mais 33 investigados foram denunciados ao STF.

A denúncia será julgada pela Primeira Turma do Supremo, colegiado composto pelo relator, Alexandre de Moraes, e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
Se a maioria dos ministros aceitar a denúncia, Bolsonaro e os outros acusados viram réus e passam a responder a uma ação penal, no STF.

Pelo regimento interno da Corte, cabe às duas turmas do tribunal julgar ações penais. Como o relator faz parte da Primeira Turma, a acusação será julgada pelo colegiado.

A data do julgamento ainda não foi definida. Considerando os trâmites legais, o caso pode ser julgado ainda neste primeiro semestre de 2025.

Isto quer dizer, em última análise, que o Carnaval será de angústia para dezenas de pessoas envolvidas ou supostamente envolvidas no rumoroso “affair” que pesa sobre a tranquilidade de toda a nação. Não é um bom período para se atravessar no Carnaval.


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Por Manoel Hygino - 1/3/2025 07:16:35
Nova Lima, Beagá

Manoel Hygino

Vem-me às mãos, às vésperas do Carnaval, um texto de Luís Cláudio da Silva Chaves que me chama a atenção. É um elogio espontâneo e belo sobre Nova Lima, a simpática cidade ao nosso lado, mas a que os belo-horizontinos não dão maior carinho, talvez por achar-se na Região Metropolitana, que detém outras atrações.

O autor se diz propenso a escrever sobre não relacionado diretamente à ciência do Direito, principalmente porque seu pai laborou, por vários anos, na Mineração Morro Velho, depois como Secretário Municipal de Cultura e, ainda, no magistério, lecionando no Colégio Liceu Imaculada Conceição.

Tecem-se os maiores elogios à cidade, de enorme área territorial, dotada de grandes e boas áreas florestais, utilizadas com todo respeito ambiental. Seu potencial cultural revela a alma e o sentimento de um povo maravilhoso. E assim por diante.

Lá, as manifestações folclóricas são tradicionais, como congado, a cavalhada, a folia de reis; as não convencionais como caçoadas, culinária, a arte popular, o artesanato, a música e a dança traduzem a alegria do povo novalimense e destacam o município em âmbito estadual.

E muito mais se poderia evocar sobre Nova Lima, pegada a Belo Horizonte, mas sobremodo distinta em vários aspectos. Quando se cuidou de fundar mais uma instituição para formar advogados na região, o Prof. Wilson Chaves, um dos professores do IMACO, pensou logo em Nova Lima. Daria certo? Os jovens residentes na capital se disporiam a fazer o curso do outro lado da serra? Claro que sim. E a Faculdade Milton Campos é, hoje, uma bela realidade e aos dois municípios causa orgulho.

Não se há de esquecer que lá existe, em termos esportivos, o Vila Nova, clube que, há décadas, tão bem representado o futebol mineiro. E há, também, a Rádio Itatiaia, fundada por Januário Carneiro, que conquistou com seus microfones e repórteres os campos esportivos de todos os continentes.

José Calazans, jornalista prestigiado, chefe da sucursal do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, adorava Nova Lima, ele que presidiu a Associação Mineira de Imprensa. E não se pode esquecer: a captação de água para fortalecer o abastecimento da população da capital, no tempo de Juscelino presidente da República, se deu exatamente em Bela Fama, município de Nova Lima, quando o prefeito de Beagá era o engenheiro Celso Mello de Azevedo.

Ficamos devendo. Há mais, porém fica para depois.


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Por Manoel Hygino - 26/2/2025 08:38:02
O futuro dirá

Manoel Hygino

Fica-se sabendo imediatamente de quase tudo que acontece, graças aos modernos meios de comunicação social. Claro que muito se ignora, exatamente porque se tem intenção de torná-lo público. Com a ascensão de Trump à Casa Branca, pela segunda vez, o ambiente internacional entrou em ebulição. Ele gosta de estar em evidência.

Tão logo assumiu, Trump deu uma reviravolta no cenário. A primeira foi a aproximação dos EUA com a Rússia. Ele e Vladimir Putin trataram de pôr fim à guerra da Ucrânia, aniversariante exatamente em fevereiro. Acontece que a política “América First”, não é exatamente a que o mundo desejaria. A “América, a do Norte”, pretende ser a dona do mundo - segundo Trump, mas a Europa não está inteiramente certa de que este é o melhor caminho para a paz.

E o presidente da Ucrânia tampouco julga sensata a condução para o fim do malfadado conflito, que Moscou dispense a participação de Kiev. Como proceder? Trump reafirma apoio à Otan, mas não quer que o homólogo ucraniano participe dos entendimentos com Kiev.
Em todo caso, Zelenski já admite renunciar à presidência, se isso conduzir à paz.

A situação neste nosso mundo é muito mais complexa, delicada e grave do que se pensa. E do que podem estar admitindo a esta hora Trump e os super milionários convidados a integrar suas equipes. Aylê- Salassié Filgueiras Quintão, jornalista que atuou nos maiores jornais do país, tem razões para emitir opiniões contrárias à política da Casa Branca.

“Sem disparar um tiro, o Presidente Donald Trump pretende acabar esse trânsito e decretar o fechamento da fronteira dos EUA com o México. (...)

As lições vêm dos países europeus, que se prontificam a ser solidários com os imigrantes, mas, sem alarde, estão sempre expulsando gente. Por motivos políticos ou para fugir das guerras, quase tribais, milhares de africanos e asiáticos são despejados anualmente na Europa. (...)

(...) A questão tornou-se tão trivial que deu lugar à dezenas de gangues de fronteira explorando levas de imigrantes latinos, oferecendo-lhes facilidades inexistentes, e cobrando deles valores quase impossíveis de serem pagos. E aí começavam as atrocidades: violências, estupros e crimes, contra e entre imigrantes, bem como subornos das autoridades fronteiriças. Alguns foram cooptados pelo tráfico de drogas. Trump vem cercando as fronteiras, com muradas, e dobrando o policiamento por ali”.


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Por Manoel Hygino - 25/2/2025 06:51:07
Imprensa e jornal

Manoel Hygino

Encontram-se comumente pessoas que argumentam não lerem mais os jornais para não conhecerem más notícias. Engano ou erro. Os veículos impressos divulgam simplesmente o que os demais meios de comunicação informam. Com os periódicos, contudo, as notícias ficam mais tempo nas mãos do leitor e, sob sua análise, gerando críticas sobre o conteúdo.

Há poucos dias, mereceu manchete em primeira página a informação de que 9.167 unidades do programa Minha Casa Minha Vida jamais tinham sido entregues. E não falta publicidade no ar eletronicamente, cantando loas ao sucesso do belo projeto. Culpa do jornal? A verdade é que 556 mil domicílios formam o déficit habitacional em Minas, calculado pela Fundação João Pinheiro. “O Ministério das Cidades justifica que os atrasos decorrem de múltiplos fatores, como questões judiciais e entraves administrativos”.

Em outro âmbito: o mesmo jornal belo-horizontino tornou público que Minas Gerais é um dos estados com mais elevado índice de violência contra a mulher no Brasil. Com maior número de homicídios, somente São Paulo, por motivos perfeitamente compreensíveis. São dados expostos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, referentes a 2023. E Minas tem fama de zelar pela boa convivência familiar e havendo vasta literatura sobre a matéria.

Uma das razões maiores, segundo especialistas no assunto, é que há em Minas uma das maiores regiões territoriais brasileiras, somente 70 – sim, 70 – delegacias especializadas para acolher as vítimas. Mais do que tímido, vergonhoso o fato, se se considerar que temos 853 municípios. Uma expansão da rede é imperiosa, pois o feminicídio campeia pelas montanhas.

Da alta significação da Imprensa em jornais, pode-se aferir por recente notícia publicada em todo o mundo, quando o Papa Francisco se encontrava ainda – e segue sob cuidados – sob atenção permanente das equipes do Hospital Gemelli, em Roma, após uma tomografia torácica que revelou inflamação no aparelho respiratório.

Após anunciar leve melhora do pontífice em particular nos indicadores, o próprio Vaticano soltou uma nota. “Ontem, Francisco recebeu a visita da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que disse que o viu ‘alerta e receptivo’ e que até mesmo ‘brincou’ com ele. O Vaticano disse que após tomar café da manhã, Francisco leu alguns jornais e depois discutiu seu trabalho com colaboradores mais próximos”.


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Por Manoel Hygino - 22/2/2025 07:22:53
Tempos do Laurentys

Manoel Hygino

Recorro a fatos relativos à Santa Casa de Belo Horizonte, em meus escritos no Hoje em Dia, jornal cuja existência acompanho desde o primeiro número. E continuou com a mesma disposição, considerando o papel da instituição hospitalar da capital e de Minas. Pela filantrópica, que tem idade aproximada da própria metrópole, passaram vultos de grande relevância na ciência/ arte de Hipócrates e mesmo expoentes da vida mineira e brasileira, tanto na órbita médica quanto na vida política e social do país.

Lembro, como exemplo, José de Laurentys Medeiros, médico e professor, que tinha verdadeira fascinação pela filantrópica, fundada dois anos após a inauguração da metrópole que sucedeu Ouro Preto. Nasceu Laurentys, em Pará de Minas, mesma cidade do governador Benedito Valadares e outros expoentes da medicina e da vida pública montanhesa. Em sua terra natal, na rua do Rosário, existia o estúdio de Carlitos e de Zé Correntinha, no número 17, eles que tiravam as fotos 3X 4 de toda a gente do Pará. Aliás, seu proprietário depois foi o Demétrio, neto de Laurentys, outro vidrado em fotografia.

O objeto da atenção de Laurentys, podia ser uma simples rosa até peças cirúrgicas. Certa vez, convidado para padrinho de casamento de um de seus assistentes, quando todos os convidados estavam na igreja, notou-se que o fotógrafo contratado não comparecera. Como Laurentys sempre carregava seu equipamento no porta-malas do carro, pediu licença, foi até o veículo entrar em cena com o material. Em seguida, como profissional, documentou a solenidade, possibilitando que os noivos vissem registrado o magno acontecimento.

O primeiro equipamento de ultrassonografia de Belo Horizonte foi adquirido pelo médico paraguaio Roberto Rueda, que aqui residiu e exerceu a profissão, depois de revalidar o diploma. José Malheiros dos Santos, patologista clínico, aproximou a Rueda de Laurentys. Assim, o colega paraminense começou a fazer dupla com o paraguaio para aplicação de estudos de fígado e vias biliares, principalmente nos casos de litíase, ou seja, de formação de cálculos ou pedras na vesícula.

Objetivava-se demonstrar praticamente que a ultrassonografia era mais eficiente que a radiologia nesses casos, pois oferecia maior precisão. Para prová-lo, Laurentys tirava as fotos da vesícula, se extirpada, e, ajoelhado no chão com a máquina fotográfica, comparava a víscera, a radiografia e o ultrassom.

Quando os pacientes da Santa Casa eram indigentes e não tinham como pagar o ultrassom, os assistentes de Laurentys os levavam ao consultório de Rueda, na avenida Brasil, que não cobrava absolutamente nada pelo procedimento. Hoje é diferente, porque há o SUS, que cumpre seu papel.





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Por Manoel Hygino - 19/2/2025 06:48:42
Crime e castigo

Manoel Hygino

O rádio foi e é extremamente importante na formação do homem e de uma comunidade. Lembro perfeitamente que meu ingresso no mundo de Dostoiévski se deu num dos momentos culminantes de força da radiofonia. Em Belo Horizonte, o ouro-pretano Francisco Andrade, conhecido pelas ondas como F. Andrade, apresentou por uma das emissoras Associadas (Mineira e Guarani), o romance do autor russo transposto ao novo meio de comunicação, “Crime e Castigo”. Apaixonei-me.

Agora se sabe e se proclama que Dostoiévski é e se tornou, há muito, autor universal e razões há de sobra para o conceito que lhe cerca o nome. Depois de se debruçar sobre os primeiros livros do ficcionista russo, a professora e autora, Vera Lúcia de Oliveira, que reside em Brasília, mergulha nos seus cinco últimos livros, fazendo análises concentradas também e especificamente em “Crime e Castigo”, embora se deva realçar a edição de “Meu marido Dostoievski”, escrito pela esposa do autor, Anna Grigorievna.

Vera Lúcia declara que releu as obras, com um olhar mais crítico, observador, querendo ver coisas importantes que pudesse transmitir. Ela revela que, além de análises que trazem para o universo do leitor russo autores como Gabriel Garcia Márquez e Graciliano Ramos, também faz uso

O mito de Napoleão, por exemplo, é utilizado para evidenciar certos aspectos de Crime e castigo e de seu protagonista, o estudante Raskólnikov. "Fico muito comovida com o sofrimento e a pobreza do Raskólnikov, e fui ver que ele foi movido por uma ideia obsessiva, ele queria ser igual a Napoleão. Então começo meu texto dizendo isso, o que motivou o crime foi a ideia de ser Napoleão, ele queria ser um homem superior a quem tudo seria permitido, inclusive, matar. É algo para a gente refletir".

Esse foi um dos poucos romances de Dostoiévski cujo sucesso foi imediato logo após a publicação, em 1866. Em O idiota, a pesquisadora se deparou com semelhanças desconcertantes entre o príncipe Michkin e o próprio autor. "O príncipe era epiléptico e Dostoiévski também. Sofreu muitos ataques e ficava totalmente debilitado. E o príncipe é de uma bondade enorme, parece um Jesus Cristo. Perdoa a tudo e a todos. É a ideia de um idiota mal compreendido. O livro fracassou no momento em que foi editado e foi publicado com muita dificuldade. É uma história muito comovente de um rapaz de uma bondade sem limites e também doente"


87261
Por Manoel Hygino - 18/2/2025 07:08:18
Norte do Brasil

Manoel Hygino

Pesquisar petróleo lá no Norte, junto ao Amapá? O presidente é plenamente favorável por motivos que expõe e repete a cada dia, pelos meios de comunicação. O público já está rouco de ouvir sua posição. No entanto, a ministra do Meio Ambiente é contra, sempre foi contra. Tem razão? Mas o problema permanece sem solução.

Como ficará?

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, que é de Minas, pesquisador, jornalista e professor na Universidade de Brasília, estudioso do problema em profundidade, tem razões firmes. “Com a ampliação irresponsável do Calha Norte e a sua transferência para o MDIR, procura-se, mais uma "sarna para coçar". Por experiência própria, nas três a quatro vezes de passagem por ali, observei que são os militares que, de fato, marcam presença nessas regiões isoladas de fronteira. Ninguém faz nada sem a ajuda deles, e são eles que dão atendimentos regulares à saúde das populações isoladas e distribuem suprimentos, inclusive às populações indígenas.

Suas ações sociais têm vieses de sensatez desconhecidos da politicagem. Só eles toleram aquele isolamento no maciço das Guianas ou na imensidão da floresta. Os demais órgãos federais estão quase sempre fechados ou são omissos com relação aos problemas da região que, aos poucos, vai-se tornando abrigo de milhares de imigrantes, expulsos da Venezuela, e vindos de outros países à procura de paz e emprego no Brasil.

Pulou de 74 municípios amazônicos fronteiriços para 789, estendendo-se para o sul da Amazônia até alcançar Pará, Mato Grosso e Tocantins. Atropelou diversos programas, projetos e instituições, inclusive ambientais. Atravessa rios, maciços montanhosos, florestas densas, territórios indígenas, áreas de preservação e até de mineração ativa. Um verdadeiro desatino no planejamento da ocupação do território. (...)
Ora, são 6,74 milhões de km² distribuídos entre oito países ricos em recursos naturais. Os interesses regionais levaram ao retórico Pacto Amazônico, uma política comum, integrada, no qual a Venezuela está presente, o que é delicado. O bolivarismo venezuelano, por exemplo, não tem limites.Com o aval do Brasil e da Argentina, Chavez conseguiu entrar no Mercosul, e quase destruiu o Tratado, tentando politizá-lo. "Porque não te calas!" - foi advertido devido a intromissões discursivas inoportunas”.


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Por Manoel Hygino - 15/2/2025 07:03:33
Em tempo de Trump

Manoel Hygino

O novo presidente dos EUA quer a América como um todo para a Casa Branca, é o que se deduz do sonho envolvente de Trump. Mas as coisas, os seus projetos não são exatamente como o republicano quer e anseia. O artigo do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, 3º vice-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais ajuda a sentir e compreender.

O magistrado participou, de 26 a 29 de janeiro, como palestrante e ouvinte do 21º Encuentro Internacional de Juristas, realizada na capital panamenha. As premissas a que chegou sobre a pequena república são também as minha. Vejamos: “A República do Panamá é o país mais desenvolvido da América Central. É um país democrático, com eleições gerais realizadas a cada cinco anos, para presidente e membros da Assembleia Legislativa unicameral. (...)

A Justiça panamenha firmou protocolos com a Espanha e outros países de língua espanhola, visando à adoção de novas tecnologias, eficiência, qualidade, e transparência”.

As bravatas e gritos de desafio e guerra de Trump ressoavam em todo o mundo, cônscio de que conflitos não são solução para à Terra em transe. No fundo, o que se quer é paz, já que os países estão em ponto explosivo ou sob efeito de embates que a nada de bom conduzem.

Veja-se o caso Rússia-Ucrânia e a pretensa pacificação entre Israel e palestinos em Gaza, que envolve as nações do Oriente Médio. Além do mais, os países e povos já enfrentam perspectivas internas sombrias.

Na área da Justiça e Direito, o desembargador pôde aferir alguns aspectos atuais e que não podem ser desconhecidos, examinado com sabedoria. “Neste campo, encaixou-se minha fala sobre juízes robôs. Sustentei que, como em quaisquer outras atividades humanas, a Inteligência Artificial pode praticar tarefas judiciais repetitivas e programadas. No entanto, não pode julgar casos concretos para cuja solução se exige valoração e experiência, como as que envolvem direitos fundamentais. Robôs não possuem sentimentos; logo não são aptos a analisar valores que a cultura humana procura realizar para satisfazer necessidades materiais e espirituais das pessoas. Por exemplo: o verdadeiro, o belo, o bem, o justo e o sagrado”.

Quanto a mim, concordo com o pensamento do escritor e jornalista de Angola, José Eduardo Agualusa: “Os disparates de Donald Trump, confusos e acorrentados, permanecerão como a imagem de um tempo vergonhoso, em que assistimos ao regresso da crueldade enquanto política de Estado num grande país democrático”.


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Por Manoel Hygino - 12/2/2025 07:36:05
Na hora H

Manoel Hygino

2025 corre na folhinha com velocidade incrível. São imposições do período do tempo que atravessamos e impõem novas regras e condições de sobrevivência ao ser humano. Como os cataclismos e atentados climáticos que ora se enfrenta. Temos de nos prevenir contra as rebeliões da natureza, causadas pelo próprio homem e a comunidade. Teço estas considerações iniciais diante da notícia que ora recebo. A primeira maternidade da capital mineira não parou, desde 1916 em que foi inaugurada. E tem de fazê-lo, pois no ano findo realizou 3.095 partos, funcionando 24 horas por dia nos sete da semana. Desde 2024, é certificada como Hospital Amigo da Criança e da Mulher e, a partir de 2006, atua segundo o Método Canguru. Há mais de 23 anos, realiza em parceria com a Associação das Voluntárias da Santa Casa (Avosc), curso para gestantes on-line e presencial, preparando mães e famílias para os cuidados do bebê.

E há mais uma boa novidade. A maternidade do Instituto Materno Infantil Santa Casa BH deu importante passo para fortalecer ainda mais a excelência de atendimento. A partir de 31 de janeiro, a assistência das parturientes inclui a utilização do Balão de Bakri e do campo coletor, dispositivos fundamentais para o manejo eficaz de hemorragias pós-parto, condição que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 14 milhões de mulheres por ano, com cerca de 70 mil evoluindo para óbito em decorrência dessa complicação. As novas aquisições foram apresentadas no evento “Zero Morte Materna por Hemorragia”, realizado no Salão Nobre da Santa Casa BH.

A coordenadora médica da maternidade, dra. Rafaela Carvalhaes, explicou que esse avanço levará mais segurança para os partos, tanto os vaginais quanto as cesarianas, resultado de um compromisso da instituição com a qualidade assistencial. “Os dispositivos não são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde, e o Balão de Bakri, em particular, possui um custo elevado, então, de fato, é um esforço coletivo que estamos realizando. No caso do campo coletor, seremos o único hospital 100% SUS da capital a ter o insumo”, ressalta.
O uso dos novos dispositivos também é uma das práticas da Santa Casa BH alinhadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos princípios do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

A instituição assinou o pacto oficialmente em 2024, tornando-se o primeiro hospital 100% SUS do Brasil a fazer parte do seleto grupo de organizações internacionalmente comprometidas em implementar ações em prol dos direitos humanos, diversidade e inclusão, responsabilidade ambiental e combate à corrupção.


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Por Manoel Hygino - 8/2/2025 08:26:44
E depois dos reféns?

Manoel Hygino

O leitor certamente acompanhou conosco a libertação dos reféns israelenses em Gaza, no território dominado pelo Hafez desde 7 de outubro de 2023. Uma novela dramática que desperta o interesse de todo o mundo. Depois de privados de tudo a que tem direito um ser humano civilizado, em processo lento e humilhante, mesmo mediante acordo mediado por Estados Unidos, Catar e Egito, o Hamas libertou os três primeiros reféns, apenas mulheres entre 24 e 31 anos, inicialmente.

As trocas de prisioneiros seguintes permaneceram no mesmo ritmo de morosidade e tensão, a despeito do empenho das partes envolvidas na difícil missão.

Em 7 de outubro, quando o Hamas entrou em área de Israel, sem qualquer aviso ou admoestação, em ação surpreendente, num fim de semana quando as famílias se achavam em sossego e paz, o Hamas matou 1.210 israelenses, sequestrando outros 251, aprisionados em túneis na faixa fatídica. Uma das prisioneiras declarou: “Eles invadiram nossos lares, nos mataram, nos sequestraram e queimaram nossas casas”. “Uma das moças perdeu dedos da mão esquerda durante a ação terrorista”.

Mas a libertação, apesar de tudo, se faz em grupos. Alguém comentou: “Nossos corações estão com todas as famílias ansiosas e enlutadas, cujos entes queridos não retornaram ainda. Não descansaremos ou ficaremos em silêncio até que tragamos de volta todas as nossas irmãs e irmãos do inferno do cativeiro em Gaza - os vivos para suas famílias - e os caídos e assassinados para serem sepultados com dignidade”.

O porta-voz do Hamas, em vídeo, elogiou os seus combatentes que, para ele, lutaram numa batalha determinada contra a invasão terrestre promovida por Israel”.

Márcio Coimbra, CEO da Casa Política, e presidente Executivo do Instituto Monitor da Democracia, observou: “No Oriente Médio, uma reação em cadeia desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, impulsionou um ano de mudanças impressionantes. Israel enterrou o Hamas sob os escombros, degradou a rede regional de representantes não estatais dos aiatolás, demoliu as próprias defesas de Teerã e, inadvertidamente, preparou o terreno para que rebeldes islâmicos derrubassem a ditadura de meio século da família Assad na Síria”.

Como será o Oriente Médio a curto e médio prazos?


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Por Manoel Hygino - 5/2/2025 06:57:30
Carreta x doença

Manoel Hygino

A frase é de mau gosto, mas corresponde a uma verdade: doença só faz mal à saúde. Logo, constitui ameaça ao ser humano. Em decorrência, vejo com a maior alegria notícia como a que repito, mutatis mutandis. Refere-se aos sete meses de atuação da Carreta da Família, Unidade Móvel de Saúde Oncológica, percorrendo cidades de Minas, levando educação, prevenção e identificação de casos de alta suspeição de câncer.

Resultado de parceria entre a Santa Casa BH e a Casa de Acolhida Padre Eustáquio, Cape, já realizou 1.383 atendimentos em seis municípios para oferecer acesso à saúde e melhorar a qualidade de vida da população. A Carreta já visitou Serro, Santana do Riacho, Alvorada de Minas, Serra Azul de Minas, Gouveia e Presidente Kubitschek, com equipe altamente qualificada do Instituto de Oncologia Santa Casa BH, com médicos, enfermeiros, técnicos de radiologia e outros especialistas, atendendo regiões em que o acesso à saúde especializada é escasso.

Além das cidades visitadas, a Carreta da Família também realizou uma ação especial entre os dias 16 e 18 de dezembro na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no bairro Gameleira, em Belo Horizonte. A iniciativa foi voltada à realização de mamografias e dermatoscopia, beneficiando tanto as recuperandas quanto às funcionárias da unidade. A visita resultou em um total de 87 atendimentos. De acordo com a gerente do Instituto de Oncologia Santa Casa BH, Sara Oliveira, para 40 das recuperandas, essa foi a primeira mamografia de suas vidas. "A ausência desse tipo de exame representa a negação de um passo essencial na prevenção. Hoje, essa realidade começou a mudar ", destacou.

Entre os dias 20 e 24 de janeiro, o veículo ficou no Parque de Exposição “Tino do Leite”, na cidade de Moeda, como programado.

Além de exames, o projeto capacita as equipes de Atenção Primária à Saúde locais, assegurando que o cuidado iniciado tenha continuidade após a passagem da Unidade Móvel. “Nossa abordagem integrada garante não apenas o rastreio e a possibilidade de um diagnóstico precoce, mas também acompanhamento eficaz e contínuo através da equipe de Navegação, que atua como um elo essencial entre os pacientes e os serviços de saúde,” explica João Bontempo, coordenador do programa.

A iniciativa é fruto do empenho de profissionais dedicados e de uma ampla rede de parceiros. “Essa união de forças reafirma nosso compromisso com a dignidade humana e a saúde de qualidade”, destaca o provedor da Santa Casa BH, Roberto Otto Augusto de Lima.


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Por Manoel Hygino - 4/2/2025 09:54:13
Um homem de bem

Manoel Hygino


Esperei que o 2 de dezembro fosse lembrado em todo o país. Em vão. Já estamos cruzando o segundo mês de 2025, sem que encontrasse a mínima referência à data. No entanto, deveria e merecia evocações.

Em 2 de dezembro de 1825, exatamente há dois séculos, nascia no Palácio de São Cristóvão, isto é, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, o cidadão brasileiro que tinha o enorme nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança, que trocando em miúdos – é o nosso Pedro II, que esteve à frente e a serviço da pátria por 49 anos.

É uma figura controvertida, mas foi um homem de bem, a quem muito deve a nação. Por onde andei, encontrei pegadas de sua passagem: no Chuí, em cujas areias de praia há marcos da sua visita ao Rio Grande do Sul. Um exemplo. Ou no Caraça, colégio símbolo de uma época, ou em Laguna, terra natal de Anita Garibaldi, em Santa Catarina, ou, ainda, a Minas, onde dentre outras viagens visitou Sabará e Macaúbas, antes de seguir a Lagoa Santa a fim de conhecer o cientista doutor Lund.

O monarca enfrentou a dura Guerra do Paraguai, o mais longo conflito do hemisfério, procedeu à libertação dos escravos, através da princesa Isabel; possibilitou o acesso à energia elétrica em seus primórdios; a ligação à Europa por cabo submarino; a telefonia; e outros desafios daquele tempo. Destituído do governo, em 15 de novembro de 1889 para instalação da República, abriu mão de ajuda financeira que o novo governo lhe ofereceu.

Trinta e dois anos após o 15 de novembro, Pedro II e sua mulher Thereza Cristina, expulsos ao exílio, tiveram seus restos mortais trazidos de volta. A iniciativa partiu do presidente Epitácio Pessoa, quando o decreto de banimento da família real que passava sobre ambos e os descendentes, foi anulado pelo Congresso Nacional.

Assim, resgatou-se a figura histórica de ambos, e seus restos mortais vieram a ser depositados em terras brasileiras. A tempestade que desabou sobre o Rio de Janeiro naquela oportunidade não turbou a recepção aos ex-monarcas. Agora estão na Catedral de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, onde repousam e são reverenciados.


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Por Manoel Hygino - 1/2/2025 07:49:32
O drama cotidiano

Manoel Hygino

Se as temperaturas alcançaram índices muito acima do costumeiro nesta época do ano, o mesmo se poderia dizer do nível da criminalidade cá nas montanhas. Os jornais enfatizam que os homicídios dispararam na capital e na Grande BH. Os mineiros aderiram à onda de violência e morte?

Para o jornalista Luiz Carlos Azedo, o negacionismo de Trump faz mal à saúde e prejudica o clima. Verdade que poderá comprovar-se não longe no tempo, já que umas das promessas mais claras de Trump é que a grande nação do Norte se desligará de vez da participação em cuidar do clima, como previsto na conferência de Paris. Péssima notícia, mas não a primeira.

Na capital mineira, na penúltima semana do primeiro mês de 2025, se o clima seco, quente ao extremo, sem a brisa das montanhas desanimava os trabalhadores, sobretudo os obrigados a laborar sob o sol, os periódicos informavam ainda em 2023 e 2024, os dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública mostravam crescimentos de 26,6% no número de vítimas de homicídio em Beagá e de 24,15% na Região Metropolitana. No interior, a elevação foi de 9,8%. Um especialista explicou: o fenômeno se deveu ao acirramento das rivalidades e de ações decorrentes por facções de foras da lei.

O calor aquece a ação criminosa?


A carne bovina também subiu até 30% em um ano na capital e na Região Metropolitana de BH. Simultaneamente, assiste-se ao triste espetáculo de vítimas da gastroenterite e outros males sazonais e não encontram atendimento em hospitais para pronto atendimento. Fazer o que?

Em meio às más notícias, não poucas ou inexpressivas, finalmente fez-se a decantada seleção de empreiteiras para a construção da BR-381, tristemente apelidada de rodovia da morte. Do jeito em que se encontrava, resultava em um acidente a cada 12 horas.

No elevado rol de más notícias, embora o festival de ostentação por aí, é trágico confirmar que o Ministério da Saúde não está disponibilizando ao SUS, que tem prestígio internacional, 76 itens, dos quais, 64 já extrapolaram o prazo de 180 dias estabelecido. Por falar nisso, não podemos perder o ensejo de denunciar a dificuldade financeira de Minas e do Vale do Jequitinhonha. É uma nova tragédia, se se considerar o relevante serviço prestado pelo Samu. Até quando? Perguntamos nós, repetindo Cícero na velha Roma.


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Por Manoel Hygino - 29/1/2025 09:13:27
O futuro chegando

Manoel Hygino

O mundo se assustou, sem se surpreender, com o teor dos discursos do novo presidente dos EUA. Não simplesmente por ele ser Donald Trump, mas por ser o chefe da nação mais poderosa do planeta. Ademais por não vivermos em tempo de absoluta paz e estabilidade social e política. Além das conhecidas guerras de Rússia versus Ucrânia e de Gaza, envolvendo Israel contra grupos e facções no Oriente Médio, há o avanço da extrema direita em potências europeias, além das vicissitudes internas na Coréia do Sul e riscos de erupções nas Américas.

A posse de Trump, pelo que se podia esperar, deveria acelerar mudanças ou efervescência política em curso no planeta. Se se confirmarem as promessas do sucessor de Biden, entraremos logo num processo de mudanças, cuja extensão e profundidade preocupam. A ideia de tomar de volta o canal do Panamá, de anexar o Canadá, de comprar a Groenlândia, de sobretaxar os produtos mexicanos e de outros países, de mudar para o Golfo da América o nome do Golfo do México, de expulsar os imigrantes latinos, de anistiar os invasores do Capitólio, que sob sua indiferença tentaram impedir a diplomação de seu antecessor, e ainda a formação de um ministério de notória tendência expansionista que incomoda desde já.

Não sem razão, uma senadora australiana de origem aborígene criticou o rei Charles III publicamente, devido ao legado da colonização britânica no país, quando o monarca discursava no Parlamento em Camberra. Peremptório, apelou: “Devolvam nossa terra", disse. “Esta não é sua terra, você não é meu rei”.

Em verdade, o universo de problemas levantados abrange numerosas nações à adoção de posições e muitos povos, que não deveriam ser exortados ou impelidos à adoção de posições que levassem a prováveis alterações. O mundo quer e precisa de paz.

Aliás, o chefe da Igreja Católica, em grande missa em Córsega, ilha de nascimento de Napoleão no Mediterrâneo, contrariando essa tendência, pediu paz em todo o “Oriente Médio” e para o “o povo ucraniano e o povo russo”. “Paz para a Palestina, para Israel, para o Líbano, para a Síria, para todo o Oriente Médio”. Declarou: “A guerra é sempre uma derrota”, ouvindo o apelo por 17,4 mil pessoas presencialmente e por meio de telões gigantes instalados pela cidade.

Mas Francisco é apenas o pontífice, embora a maior voz de uma religião, que dirigentes de outras nações poderiam e deveriam querer seguir.

Acima da grandeza americana - tem-se de restaurar a paz entre os homens de boa vontade, mediante desarmamento de espíritos e corações”.


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Por Manoel Hygino - 28/1/2025 07:39:08
Águas de Juramento

Manoel Hygino

A natureza não perdoa. Na terça-feira dia 13, por sinal, uma tromba d’água destruiu ponderável parte de Juramento, pela madrugada, deixando expressivo número de desabrigados, algumas dezenas em verdade. Entre as vítimas resgatadas pelos bombeiros estavam crianças, idosos e uma grávida.

Os jornais da capital publicaram que as fortes pancadas que têm caído na região não abriram exceção para “a pequena Juramento, que tem menos de 4 mil habitantes”. As ruas foram transformadas em corredeiras, que encobriram dezenas de carros e casas. O telefone não parou de soar na sede da guarnição, iniciando-se um árduo trabalho de resgate que se estendeu por mais de quatro horas.

Sem embargo, apesar do susto e dos adjetivos usados pelos colegas de Imprensa, não houve mortos nem feridos. Os que perderam suas moradias foram encaminhados para residências de familiares. À guisa de consolo, conheceu-se que a cidade de Miyazaki, na ilha de Kyushu, no sul do Japão, enfrentara um terremoto, causador de tremor a 40 quilômetros de profundidade. Emitiu-se alerta de tsunami, com ondas previstas para até 15 metros. Os jornais não esclareceram sobre vítimas.

Por aqui, os periódicos acrescentaram que, no Norte de Minas, a previsão para região de Montes Claros era de 29 mm de chuvas na terça (com 90% de chances), 21 mm na quarta (95%) e 8 mm na quinta (85%) – antes de intervalo até quarta-feira da semana seguinte.

Juramento se sentirá melhor, suponho, onde está do que nas lonjuras arriscadas do Japão, sujeitas a demonstrações de insatisfação das crostas terrestres e dos mares. O Juramento de cá fica às margens do rio que banha a cidade e que lhe dá nome, sendo um dos mananciais abastecedores de água de Montes Claros, de que foi distrito.

A denominação dada à cidade resulta, embora com dúvidas, do fato de ali ter sido executado José Dias, filho do bandeirante Fernão Dias, por ter tentado amotinar-se contra o pai e a suas ordens.

Quem desejar conhecer mais sobre Juramento e sua bela gente pode fazê-lo, lendo o livro que tem como título o nome da cidade, de autoria de Dário Teixeira Cotrim, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Montes-Clarense de Letras. É leitura agradável e que lança luzes sobre a história de uma cidade tranquila e feliz, encravada no norte-mineiro. Vale a pena, posso afiançar. Além de tudo se estará bem distante do Anel de Fogo do Pacífico, região com intensa atividade sísmica e vulcânica.


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Por Manoel Hygino - 22/1/2025 08:26:26
Uma bela história

Manoel Hygino

Há notícia para todos que se interessam pela história de Belo Horizonte. Tem-se de convir que, embora a capital seja nova, pois inaugurada, em 12 de dezembro de 1897, já há divergências sobre fatos ocorridos nestes pouco mais de cem anos de existência. É conveniente e indicado, pois, que se vá, desde já, esclarecidas as dúvidas que, aliás não poucas e raras.

Dir-se-á que a obra de Abílio Barreto pode aclarar distorções pretéritas, mas não é tanto assim. A bela contribuição do escritor registra fatos e feitos que poderão até ser ponto de partida para iluminar e desvendar incógnitas ou má interpretações do passado. Bastaria comparar anotações existentes entre a própria obra de Barreto com as contidas em condições do historiador Waldemar de Almeida Barbosa, por exemplo, mas isso não é tudo.

Daí a importância da grande pesquisa bibliográfica sobre a história da capital e do estado visando à preservação da memória.

À frente dessa iniciativa está o Instituto Cultural Amílcar Martins, o ICAM, com apoio do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura.

A partir do trabalho programado, serão elaboradas duas publicações, viabilizadas por parceria da SMC/PBH com o Ministério Público de Minas Gerais, ao qual, aliás, já se devem outras atividades valiosas à defesa de nosso passado. Numa primeira fase, as referências bibliográficas, abrangerão o conjunto de informações sobre os 300 anos de história de Minas completados em 2020, e, em segunda etapa, as específicas sobre a historiografia dos 125 anos de Belo Horizonte, completados em 2022.

Com a concretização do projeto, além de democratizar o acesso às informações e iniciativas à pesquisa histórica e cultural, com a conclusão do trabalho se disponibilizará a programação on-line do atual catálogo da Coleção Mineiriana, um esplêndido presente que o ICAM deu a Belo Horizonte nos anos mais recentes.

Para completar o raciocínio, acho que é dever reconhecer publicamente o que de positivo tem sido feito pelo ICAM e pelo Arquivo Público de Belo Horizonte em favor de nossa cultura e de nossa história. Tudo silenciosamente, mas com o esmero que a causa exige.


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Por Manoel Hygino - 21/1/2025 07:48:06
Meio milênio sagrado

Manoel Hygino

Não poderia deixar que passasse em branco um fato histórico. Neste ano, completam-se cinco séculos da morte de D. Leonor de Lancastre, a fundadora das Misericórdias. Ela nasceu em Beja, Portugal, em 2 de maio de 1458, para despedir-se no adeus final em novembro de 1525.

Leonor (encontra-se também grafado com i, Lionor) se casou com 14 anos incompletos, como costume nas cortes e teve um único filho, D. Afonso, que morreu em desastre de cavalaria, aos 16 anos, abrindo um profundo vácuo na família real. Embora com muito sofrimento, a jovem mãe venceu a perda irreparável, marcando sua vida com obras e iniciativas intemporais.

Descendente da melhor nobreza europeia, pois bisneta de Dom João I, de Portugal, e de Dom Felipe de Lancastre, da Inglaterra, foi rainha por 14 anos, falecendo aos 67 anos, mas transferindo à posteridade a obra solidária, hoje disseminada por quatro continentes.

Refiro-me à Irmandade da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia, fundada em 15 de agosto de 1498, numa capela anexa à Sé de Lisboa, empreendimento de que é patrona e inspiradora, cujo objetivo se integrou a sentimento dos homens de bem da comunidade lusitana e das nações que a sucedeu ajudou a construir.

Não se permitirá esquecer as tragédias que se abateram em ponderável parte da Europa, nos séculos XI a XV, requerendo o amparo das ordens religiosas, a que se deu alento, nova feição e incomparável labor de solidariedade das Santas Casas. No Brasil, por exemplo, as Santas Casas e entidades filantrópicas disponibilizam aos enfermos carentes mais da metade do número de leitos, inclusive via SUS, fornecidos pelo Estado.

Ao perder seu único filho e enviuvar-se, Dona Leonor avocou-se à fundação das confrarias e dos que dependem, em hora de dor. Todo brasileiro, nos grandes centros urbanos e nas pequenas cidades e nas localidades disseminadas pelos mais de oito milhões e 500 mil quilômetros quadrados do território nacional, a assistência imprescindível e permanente, a que cada ser humano tem direito.

Neste período da história, em que a Terra mostra evidentes sinais de esgotamento - pelas catástrofes e por inúmeros outros fenômenos mundo afora, e pelas perspectivas que se delineiam para um futuro não tão distante, a presença e atuação dessas beneméritas instituições demonstram a grandeza do projeto de agosto de 1498, adequadas ao tempo de hoje e de exigências sempre avultadas.


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Por Manoel Hygino - 18/1/2025 07:21:05
Grave hora atual

Manoel hygino

A Imprensa, todos os meios de comunicação enfim permanecem atentos e alertando continuamente para os graves problemas climáticos que já infundem medo até entre as populações das nações mais desenvolvidas e ricas. Mas a natureza não cessa com advertências severas entre os homens de boa vontade, o empresariado como um todo, as autoridades, os praticantes de todas as religiões.

Depois de sinais destrutivos, no Brasil temos muitos casos em cidades de todo o território. Lembremos, mais recentemente, o que houve em Dom Silvério, MG, mas também em diversas cidades paulistas como Ribeirão Preto e, ainda mais perto do tempo, em Ubatuba e Peruíbe, está inteiramente tomada pelas águas na primeira quinzena do mês e do ano, que deixou cerca de 500 desabrigados. A capital bandeirante sofre os males das chuvas e ventos, enquanto as praias do litoral foram consideradas impróprias à frequência humana. Mas tampouco Beagá faltou à escalada macabra, como se viu e se sentiu, com mais de uma dúzia de mortos no território mineiro.

Os Estados Unidos não escaparam à fúria. Os pavorosos incêndios na Califórnia, a destruição de parte luxuosa de Los Angeles, com caríssimos palacetes desabando diante das poderosas chamas, dão ideia do vulto da hora que atravessamos e não ainda superadas. Uma fase dificílima para a humanidade, em todas as regiões do planeta. Nos centros urbanos, que congregam mais de 50% da população mundial, como anotou Aylé-Salassié, o modelo industrial vulgarizou a emissão de gases destruidores da camada de ozônio que envolve a Terra.

Isso tudo levou e leva à destruição de áreas naturais e agricultáveis, sinalizando antes para os males de agora e os atuais para o futuro sombrio. Os efeitos desestabilizadores das condições climáticas não se inibem diante de tratados e acordos, sejam nos Estados Unidos, China, Brasil, Rússia, Alemanha, Grã-Bretanha.

É intrigante: a gente não sabe se chora ou se acha graça. Recebeu, segundo a própria, orientações espirituais de uma pequena estátua (de madeira) de Maria, mãe de Jesus, existente na igreja local, da qual vertia sangue e lágrimas. Nas suas advertências, Sasagawa relata genericamente, como no Apocalipse até em Nostradamus, as possibilidades dos desastres naturais, das crises sociais, e dos conflitos inesperados entre países.

Reconhece Sasagawa que os humanos estão “correndo atrás”, mas, ambiguamente: “enquanto alguns se esforçam solidariamente para conservar e proteger os recursos da natureza, outros destroem levianamente as pequenas oportunidades de amenizar os desafios e ameaças das mudanças”.


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Por Manoel Hygino - 15/1/2025 08:20:26
Nosso tempo sombrio

Manoel Hygino

Ingressamos em 2025 como navegadores portugueses ao se largarem das costas do velho continente, no século XV, para enfrentar as turbulências oceânicas em busca de novas terras e riquezas, quem sabe? Camões soube descrever em sua gigantesca obra os sentimentos e pensamentos dos navegadores seus marinheiros na tentativa de conquistas e aventuras a serem vencidas.

O mundo se encontra em meio a brumas e dúvidas de múltipla natureza. Márcio Coimbra, CEO da Casa Política e presidente-executivo do Instituto Monitor da Democracia, abre-se em um parágrafo: “Estamos diante de um inédito movimento de abalo das placas tectônicas da estabilidade internacional construídas no pós-guerra. Os níveis de democracia nunca foram tão baixos e governos antidemocráticos nunca foram tão robustos. O risco de mudança no equilíbrio mundial de forças nunca foi tão presente, em grande parte pelo perfil das lideranças que comandam importantes nações e a reorganização gerada pelos recentes conflitos. Todo este contexto se tornou peça central para entender o mundo e seu desenvolvimento geopolítico em tempos recentes”. À frente: “À medida que o ritmo da mudança acelera, o mundo parece se movimentar para uma nova mudança de paradigma. A questão é se isso acontecerá na mesa de negociação ou no campo de batalha”.

Luiz Carlos Azedo, periodista conceituado, também se manifesta: ”A situação se complicou com a eleição de Donald Trump, que tomará posse no próximo dia 20 e deve acelerar as mudanças políticas em curso no mundo. Nada será como antes. As declarações do novo presidente anunciam grande distopia: tomar de volta o Canal do Panamá, anexar o Canadá, comprar a Groenlândia, sobretaxar os produtos mexicanos, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, expulsar os imigrantes latinos, anistiar os invasores do Capitólio, que, sob sua liderança, tentaram impedir a diplomação de Joe Biden”.
Martin Moore, em “Democracia Hackeada”, discorre sobre a tecnologia que desestabiliza os governos mundiais e também se expressa: “A desilusão crescente do público com a democracia foi vaticinada e espalhada por um conjunto cada vez maior de críticas intelectuais e convocações à reforma radical. O que estamos testemunhando, escreveu o professor de teoria política Simon Tourney em 2015, é “o fim da política representativa”, na qual as pessoas estão ignorando e subvertendo estruturas e convenções estabelecidas”.

Existe, segundo Jason Brennan, cientista político na Universidade de Georgetown, “o renascimento da epistocracia, ou o governo exercido por especialistas políticos. A democracia passa por um momento crítico, um ponto de inflexão, uma crise existencial”.


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Por Manoel Hygino - 14/1/2025 10:03:33
Brincando de Deus

Manoel Hygino

Bem o sabeis. Aforismo, substantivo masculino, é a proposição ou sentença, isto é - máxima que - em poucas palavras - contém um princípio de grande alcance; uma síntese resultante da experiência, que não carece de demonstração.

Assim, tomei às mãos o volumoso “Os aforismos do Ciberpajé”, editado pela Somete, de São Paulo, cujo texto foi elaborado por Whisner Fraga e Carla Dias, mas de autoria de Edgar Franco, também responsável pelas ilustrações, enquanto a própria Carla cuidava do projeto gráfico.

É algo para se ler pensando, raciocinando, pois, o escritor partiu da ideia de que “do barro fomos feitos, ao barro retornaremos”, passando a limpo sua existência, e, a partir de seus universos ficcionais em encontro/confronto com sua realidade, tornando a criação artística a principal engrenagem de sua própria construção.

O coeditor diz mais: “Esta obra é um tratado de transmutação e, como tal, acumula funções: pode ser lido como ficção, como relato, como biografia, como crônica, como ensaio, e é muito mais: há aqui um amor à palavra, uma tentativa de transportar para o suporte verbal algo essencialmente intraduzível”.

O escritor, já no início, esclarece: “Já fui aplaudido algumas vezes, vaiado inúmeras vezes, criticado outras tantas, chamado de gênio por uns, louco por outros, inocente e ignorante por vários. Recebi prêmios e honrarias, e muitas patifarias, recebi abraços verdadeiros e incontáveis falsos afagos de bajuladores e interesseiros. Já fui expulso de muitos lugares pelo que falei e demonstrei, fui convidado a dizer o mesmo para muitos outros. Aprendi a não me importar com as flutuações humanas, com o que pensam de mim, com os julgamentos de todos, procuro manter-me puro como uma criança, acreditando no que faço e buscando ser integral e sereno como um Lobo Ancestral, sempre selvagem, focado, certeiro. Vivo”.

Muito difícil escolher um aforismo para representar Edgar Franco. Recolho um para que o leitor tenha ideia do conteúdo de seu pensar e sentir: “Você deve brincar de deus”: essa é a mais sagrada, curativa e integralizadora experiência, brinque de ser seu próprio deus todos os dias, crie suas realidades, faça uma vida leve, serena e selvagem para você experimentar. Só não queira jamais tornar-se o deus de mais alguém, pois isso envenenará sua pureza e será a sua ruína. Brinque hoje, agora, de ser seu próprio deus, divirta-se. Viva!




87227
Por Manoel Hygino - 11/1/2025 07:27:49
Chuvas no Norte

Manoel Hygino

Para começar o ano, os novos prefeitos do país tomaram posse. Vida nova com novas equipes para a gestão incipiente. Em Montes Claros, maior cidade no Norte de Minas e minha terra natal, Guilherme Guimarães, ex-vice-prefeito sucede a Humberto Souto, ainda internado em decorrência de AVC sofrido na noite de 22 de dezembro.

Leio no noticiário do Moc.com, que não nos deixa alheios aos acontecimentos e fatos: oito nomes do novo elenco administrativo foram mantidos, com formulação de algumas pastas e criação de novas secretarias. Chamou-me a atenção que o ato de transmissão do cargo, com o presidente da Câmara Municipal, em lugar de Guimarães Júnior Martins, foi realizado nas escadarias do prédio da antiga prefeitura, prejudicando o comparecimento de público maior em decorrência da chuva que caía sobre a cidade. Bom sinal!

O novo chefe do Executivo foi claro: “Queremos uma cidade inteligente, que consegue aproveitar seus recursos e suas potencialidades para reduzir suas vulnerabilidades. Assim o faremos de forma harmônica. Com harmonia, a gente consegue desenvolver. A guerra só leva ao mal. Mas a harmonia nos leva ao bem”. “Sabemos que no processo eleitoral muitas coisas aconteceram. Porém, temos que esquecer esse período. O partido de todos nós é o povo de Montes Claros. Não teremos problemas com a Câmara de Vereadores, pois nosso ideal é o mesmo: melhorar a vida da população, independentemente da ideologia”.

Anunciou que trabalhará em parceria com os governos Estadual e Federal, visando captar mais verbas para o município. “Sabemos que vivemos um pacto federativo, o que é fundamental. Precisamos contar efetivamente com o Governo Federal e do Estado, pois a maior fatia dos recursos (públicos) vão para essas, esfera de poder, e as coisas acontecem nos municípios”.

Oportuno lembrar que, quando prefeito de Belo Horizonte, o engenheiro Celso de Mello Azevedo tomou exatamente a iniciativa de iniciar um movimento para redistribuição das rendas públicas, então concentradas principalmente na União, em detrimento dos estados e municípios. Daí, nasceram o Movimento Municipalista Mineiro e, em seguida, a Associação Mineira de Municípios, de que ele foi também presidente. Logo, seria presidente da Associação Brasileira de Municípios, sediada no Rio de Janeiro.

Outro fato: a chuva de MOC, na posse, poderia superar 70%, com temperaturas máximas ligeiramente abaixo dos 30 graus. A estação das águas começou na região em 9 de outubro, podendo prolongar-se por mais 9 dias.


87222
Por Manoel Hygino - 4/1/2025 07:34:56
Corrupção ainda

Manoel Hygino

O cidadão deste país deveria merecer um mínimo de consideração quanto a seus direitos, além do ir e vir, aliás, ameaçado por tantas causas. A começar pela condição das vias públicas, seja das estradas, seja nas cidades.

Preocupa-nos em não sermos comparados a países bananeiros, mas nos inserimos entre eles, a cada dia e hora. Até nos preços dos hortigranjeiros, que podem subir independentemente de condições climáticas. A sede de lucros fáceis é um sintoma grave de nossa insensibilidade quanto ao direito de pai de família contar com poder aquisitivo para levar para casa a carne e o pão nosso de cada dia. Amém.

Nos altos escalões, há turbulência quase permanente nessa lamentável voracidade e ansiedade por poder, que repetidamente não medem consequências. Por tudo isto e muito mais que temos diariamente diante dos olhos e da consciência de cada um, é que todas as suspeitas de ilicitudes e crimes têm de ser investigados. Tem-se assistido a providências com esse objetivo adotadas por quem de dever.

Em Montes Claros, a maior cidade do Norte de Minas, por exemplo, a Operação Efialtes foi deflagrada para desarticular esquema criminoso envolvendo policiais civis. O Ministério Público de Minas Gerais, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Regional de Montes Claros, e da 1ª Promotoria de Justiça, deflagrou em 12 de dezembro a operação mencionada para desarticular um esquema criminoso. Cumpriram-se mandados de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos agentes públicos, determinando-se a indisponibilidade de seus bens móveis e imóveis e valores. Tinha-se de assim proceder.

As investigações apontaram indícios fortes, na prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, prevaricação, violação de sigilo funcional e lavagem de dinheiro, em regime de organização criminosa, além de outros delitos correlacionados.

Os pecadores pagam por suas ações. É uma guerra que se tem de estabelecer e manter em defesa do interesse público e do bolso do cidadão. Omitir-se nesses casos é cometer um outro crime.



87219
Por Manoel Hygino - 31/12/2024 07:51:10
Dádivas natalinas

Manoel Hygino

Dou especial atenção aos releases que me chegam da Santa Casa BH por óbvios motivos. Um deles, na metade de dezembro, relatava o caso de uma gestante, que aguardava uma filha com fenda palatina, uma malformação congênita, que causa uma abertura na parte superior do céu da boca e que ocorre durante o desenvolvimento do embrião. A mãe, contudo, encontrara o local adequado, pois ficou sabendo que a instituição é referência nesses casos e em partos de alto risco. “Fui encaminhada a realizar todo o processo lá mesmo, a delicadeza e o cuidado excepcional no atendimento a minha bebê se estenderam até o pós-parto, quando a pequena Sophia precisou dos cuidados imediatos na UTI Neonatal. Após o nascimento, minha filha foi levada para a UTI, pois precisava se alimentar através de sonda, já que a sua condição não permitia ser amamentada via oral. Ela permaneceu lá por três dias, avaliada por uma equipe multidisciplinar e, depois, encaminhada para a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais e Canguru, ficando lá por mais três dias”.

Essa história reflete milhares de outras que se desdobram na instituição. No entanto, para que a Unidade Neonatal continue oferecendo saúde de ponta para todos, é necessário realizar uma grande reforma estrutural.

Com objetivo de arrecadar recursos para a reforma, a Santa Casa BH lançou, no mês de novembro, a Campanha 1.000 vezes padrinhos. De acordo com a coordenadora médica do Instituto Materno Infantil Santa Casa BH, Dra. Filomena Rodrigues do Vale, a reestruturação foi planejada em todos os detalhes, incluindo melhorias das condições de climatização, iluminação e acústica, fatores indispensáveis para o melhor atendimento e desenvolvimento dos bebês, que exigem cuidado integral e individual, conforme suas necessidades.

Esta unidade da Santa Casa BH é referência no atendimento de recém-nascidos e prematuros que nascem com menos de um quilo e menores que 30 centímetros, além de bebês portadores de malformações neurológicas, pulmonares, gastrointestinais, geniturinárias (funções genitais e urinárias) e cardiovasculares de mais de 90% dos municípios mineiros. Nesse contexto, a Santa Casa BH se destaca na realização de cirurgias de cardiopatia congênita, sendo a única instituição 100% SUS do Estado que realiza o tratamento.

Atualmente, a unidade dispõe de 64 leitos, sendo 20 de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI), 14 de Unidade Cuidados Intermediários Neonatais e Canguru (UCI) e 30 de alojamento conjunto (recém-nascido permanece ao lado da mãe).


87218
Por Manoel Hygino - 28/12/2024 08:25:07
MOC cresce

Manoel Hygino

Montes Claros é a maior cidade do Norte de Minas em termos de população e como potência econômica. É algo que todo mundo sabe e nos deixa muito alegres. Mas a cidade não parou no tempo, a despeito de nosso gáudio. Ela não para. O atual prefeito muito fez e seu sucessor o segue. Guilherme Guimarães tem planos, projetos e firme disposição de trabalho. Falou à imprensa, dias atrás:

“Temos a fábrica de cimento que está sendo modernizada e foi recentemente adquirida pela CSN, a maior fábrica de cimentos do país. Temos também a fábrica de cafés em cápsulas Três Corações. Ou seja, temos um polo industrial diversificado, mas hoje percebemos que a vocação e o potencial de Montes Claros são, cada vez mais, voltados para a indústria farmacêutica. Com todas essas plantas funcionando, a cidade empregará cerca de 6 mil pessoas, sendo que aproximadamente 2.300 dessas vagas são de novos empregos. E aí está a nossa preocupação: investir na educação para que as pessoas que moram em Montes Claros possam se beneficiar desse investimento.

Não se vai sepultar o passado, nosso destino será diversificado. A pecuária é sólida, há o gado bovino, o algodão, o milho e a cana. São riquezas intransferíveis, assim como o talento intelectual e artístico dos que lá nasceram e se estabeleceram. Tem universidades que estão formando um quadro de profissionais que têm muito a oferecer à cidade, ao estado e ao país.
Para a cidade continuar em sua trajetória de desenvolvimento contará com a colaboração de um povo profundamente consciente. Segundo o futuro chefe do Executivo, o orçamento municipal passou de R$ 700 milhões por ano para R$ 2,5 bilhões, sem aumentar tributos. E há especialmente a perspectiva de ampliação da indústria farmacêutica.

Montes Claros está se transformando no principal polo farmacêutico da América Latina. E não é por favor algum. A cidade é um excelente ponto logístico, com aeroporto, linhas aéreas regulares, com rodovias já implantadas e outras chegando, como a BR-135, que será duplicada.

Para se ter ideia mais precisa, só a farmacêutica Novo Nordisk, da Noruega, investirá R$ 500 milhões na expansão da produção de insulina na fábrica que já tem na cidade, para ampliar a produção de enzimas para fabricação de enteroquinase e ALP, essenciais para fabrico de medicamentos como os análogos de PGLP-1 e insulina. As obras começarão em janeiro próximo e a conclusão será em janeiro de 2026.
Serão aplicados R$ 864 milhões para melhorias de processos e modernização da planta em Minas.


87214
Por Manoel Hygino - 27/12/2024 06:36:17
De vida nova

Manoel Hygino

O ano ainda não terminou, mas na Santa Casa há contentamento pelo que se fez em favor dos mineiros. Em outubro, a instituição, fundada há 125 anos, havia alcançado a marca de 250 transplantes de fígado, destacando-se mais uma vez como um dos principais centros transplantadores de órgãos em Minas e reafirmando seu compromisso com a excelência no cuidado à saúde.

Não é para menos. Em 2023, realizaram-se 44 transplantes desse órgão e, até outubro de 2024, somaram-se outros 32 procedimentos, atraindo pacientes de todas as cidades mineiras e mesmo de outros estados. O transplante de número 250 foi o de fígado de uma senhora de 69 anos, moradora de Alvorada de Minas.

Remanescente da paróquia de Santo Antônio do Rio do Peixe, Alvorada de Minas se tornou cidade e município com o nome atual por lei de 30.XXII.1952. Lá, ela esperava na fila, enfrentando complicações graves, até insuficiência renal.

A cirurgia demandou 6 horas, contando com 18 profissionais, como médicos, enfermeiros, psicólogo, assistente social e fisioterapeuta, coordenados pelo chefe do Transplante de Fígado, dr. Agnaldo Soares Lima. Ele considera “o transplante hepático, verdadeira transformação de vida. Muitos chegam em estado grave e, em poucas semanas, recuperam-se, retomam a alegria de viver. Essa é a maior recompensa de nossa profissão. Todos os trabalhos juntos para garantir a melhor recuperação. Esse esforço coletivo é a chave para nossa excelência”.

A paciente expressou gratidão pela doação e pelo atendimento: “agradeço acima de tudo, a Deus e a família do meu doador pela expressão de solidariedade. Foi pelo ato de amor e por todo o comprometimento e dedicação de cada profissional da Santa Casa BH que estou cada dia melhor. Vocês me permitiram sonhar outra vez!”.

Desde o primeiro transplante hepático, realizado em 2016, a Santa Casa BH atingiu a marca de 250 transplantes em menos de 10 anos. Atendendo pacientes de mais de 90% dos municípios de Minas, o que diferencia a Santa Casa é o cuidado e o amor dos profissionais. Independentemente dos desafios, todos trabalham incansavelmente para oferecer o melhor atendimento, seguindo o nosso ideal de promover saúde de ponta para todos, afirmou o diretor de Assistência à Saúde, dr. Cláudio Dornas.


87216
Por Manoel Hygino - 24/12/2024 07:04:05
A guerra lá longe

Manoel Hygino

Bashar al-Assad, presidente, ou ex, da Síria, declarou peremptoriamente que não planejara fuga. De todo modo, está agora aparentemente tranquilo em Moscou, graças à intervenção de Putin que decidiu hospedá-lo e com a qual mantinha relações amistosas e bem definidas ao longo de todo o período de sua ditadura. Como ficará, então, o complexo xadrez de interesses? Só o tempo dirá, porque há interesses imensos em jogo naquele pedaço do mundo. Fotos mostram Bashar e Putin em conversa na capital da nação com maior extensão geográfica do planeta.

O que não aconteceu, infelizmente, é o término da “Operação Especial” da Rússia contra a Ucrânia, conflito que caminha para o terceiro ano, sem perspectiva de solução, embora o presidente dos Estados Unidos, a empossar-se em janeiro, diga que pretende intermediar a pacificação. Vamos conferir.

O jornalista e escritor, Prof. Aylê-Salassié Quintão, faz uma síntese da situação, agora como Consultor da Catalytica Empreendimentos e Inovações Sociais.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia, há dois anos, já resultou em mais de um milhão de mortos, feridos e desaparecidos (Wall Street Journal:17.9.2024). Até setembro, a Rússia teria perdido 300 mil combatentes contra 130 mil combatentes da Ucrânia. Dois milhões de russos fugiram do país; 12 milhões de ucranianos emigraram. Milhões de famílias perderam seus lares e milhares de crianças tornaram-se órfãos. Grandes obras públicas e parte dos campos usados para produção de alimentos estão sendo destruídos. A fome já é vislumbrada.

Não existem estatísticas precisas, nem da ONU (ACNUR). Começam, entretanto, a surgir os primeiros relatos reais sobre a guerra, frutos da cobertura de jornalistas correspondentes , das agências de notícias, da grande imprensa internacional e dos estrategistas militares europeus e norte-americanos. (...)

No caso dos coreanos do Norte, a participação deles na guerra com a Ucrânia resultaria de um acordo para a venda de equipamentos e o suprimento de contingentes militares para os russos. (...)

Atacada por todos os lados, e vendo seus territórios ocupados, lavouras destruídas, a Ucrânia terminou por conseguir autorização dos Estados Unidos para usar os chamados mísseis "storm shadow", de longo alcance e precisão milimétrica que transportam grandes quantidades de explosivos. Foi uma resposta aos bombardeios de Kiev, a capital ucraniana”.
Fiquemos de olho: a China reivindica parte do seu território tomado pelos Russos em conflitos anteriores. E, então?


87211
Por Manoel Hygino - 17/12/2024 07:59:13
Micróbios, não

Manoel Hygino

Nada há de mais incômodo e preocupante do que aguardar resultados de exames em hospital. É algo que se repete milhares de vezes nos estabelecimentos do gênero em todo o país, ou mundo aos milhões, mas há gente cuidando de reduzir esse fenômeno. Graças ao esforço de pesquisadores e técnicos, produziu-se um equipamento que reduz o tempo de identificação dos microrganismos, de dias para minutos. Otimizam-se os tratamentos e beneficia-se toda a comunidade médica, os pacientes.

Os profissionais da área, as famílias, todo o sistema, enfim.

O Maldi-Tof, uma das tecnologias mais avançadas em diagnóstico microbiológico, criada na Alemanha, acaba de desembarcar na Santa Casa BH, no Laboratório de Análises Clínicas. Utilizando tecnologia de espectrometria de massa, o equipamento identifica bactérias e fungos com precisão em somente 15 minutos, enquanto antes o processo poderia exigir até 72 horas ou, no caso de fungos filamentosos, demandava até 10 dias.

Isso é bom demais para todos e é com alegria que redijo este texto, sabendo que, com essa aquisição, a Santa Casa se tornou a primeira instituição 100% SUS em Minas a implementar essa tecnologia, reforçando seu papel como referência em inovação e excelência em saúde. Irá, enfim, beneficiar toda a clientela do Sistema do estado.

Fiquei sabendo também: além de acelerar o diagnóstico, o equipamento permite identificar microrganismos resistentes a antibióticos, enfrentando um dos maiores desafios globais na saúde pública: o controle da resistência bacteriana. Essa inovação contribui para o uso mais racional de antimicrobianos e possibilita intervenções médicas mais assertivas em casos críticos, como sepse e surtos de infecções hospitalares.

Por tudo isso, havia satisfação no rosto daquela gente que compareceu no dia de inauguração do Maldi-Tof: os profissionais de saúde da instituição e representantes da Biomega, empresa fornecedora do equipamento.

O diretor de Assistência à Saúde da Santa Casa BH, Cláudio Dornas, a importância dessa conquista: “o Maldi-Tof é um dos equipamentos mais avançados disponíveis para diagnóstico microbiológico. Ele nos permite otimizar recursos, reduzir o tempo de internação e oferecer tratamentos mais rápidos e precisos aos nossos pacientes”.
O infectologista Mozar de Castro Neto ressaltou o impacto no atendimento clínico: “com diagnósticos rápidos, ganhamos tempo para intervir em casos graves. Essa agilidade melhora os desfechos clínicos e garante tratamentos mais direcionados e eficazes.”


87208
Por Manoel Hygino - 11/12/2024 08:09:54
Antes da República

Manoel Hygino

Há dias, referi-me aos “Ensaios para uma história da arte de Minas Gerais no século XIX - Volume II”, de Ricardo Giannetti. É uma obra preciosa, pelo seu conteúdo, assim como pelo estímulo que nos dá ao estudo, ou ao simples conhecimento, do que se fez naquele período da existência no Brasil já com independência. José Murilo de Carvalho, em “A formação das almas”, 2000, se atém ao tema com a importância e abrangência que merece.

Carvalho registra: “Ao final do Império, início da República, até mesmo os monarquistas começaram a reivindicar para si a herança de Tiradentes. Escrevendo após a proclamação, o visconde de Taunay reclamava contra o monopólio que os republicanos, especialmente os jacobinos, queriam manter sobre a memória do herói. Ao libertar o país, o Império, alegava, realizou o sonho de Tiradentes. Por essa razão, ‘também ele nos pertence’”.

“A idealização de seu rosto passou a ser feita não só pelos artistas positivistas, como Villares e Eduardo de Sá, mas também pelas características das revistas ilustradas da época. Para os positivistas, a idealização dos heróis era regra da estética comtiana; para os outros, era apenas parte da tentativa geral de criar o mito e o culto do herói”.

De todo modo, aí está o mérito de Leopoldino de Faria, um pintor do Estado do Rio, focalizado com o devido respeito e importância por Giannetti, no livro mencionado. Em verdade, o quadro começou a nascer ainda na Monarquia, sob Pedro II, já idealizado e longamente elaborado em meados da década de 1870, e finalizada em 1880”.

As datas assinaladas antecedem, em muito pois, ao surgimento das primeiras obras plásticas de exaltação ao herói que os entusiastas republicanos passarão a promover em suas propagandas, nos anos 1880, em redutos políticos e com maior ênfase, após 1889, em celebração para a qual irão contribuir os artistas Francisco Aurélio de Figueiredo, Pedro Américo, Décio Villares, Eduardo de Sá, Alberto Delfino, entre outros”.

Em síntese, Leopoldino ensinou a se homenagear o republicano, ainda na vigência da monarquia. O quadro “Resposta de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha” foi exposto, em 21 de dezembro de 1880, às 11 horas da manhã, em evento solenemente assinalado pela presença de Suas Majestades Imperiais e importantes convidados, em um dos salões da Typographia Nacional.

As mais altas autoridades do país, em última análise, rendiam preito de homenagem àquele que, em 1792, fora preso na rua dos Latoeiros, Rio de Janeiro, e enforcado. Presente toda a Imprensa da época, a inauguração da mostra demonstrava a grandeza de Joaquim José e que um novo tempo começara.


87209
Por Manoel Hygino - 10/12/2024 07:51:56
Municípios e favelas

Manoel Hygino

Já me referi ao tema algumas vezes. Mas ele continua candente, exigindo ou impondo novos exames, análises e avaliações. Favela está no cotidiano de um expressivo número de famílias, servindo como material para alegres sambas e carnavais, mas também para o noticiário cotidiano de imprensa, seja jornal, revista, rádio, televisão. É alegre dependendo das circunstâncias e datas, é triste e dramático de acordo com a hora e o local.

Li, há poucos dias, que se as favelas brasileiras fossem um Estado, seriam o 5º maior em número de domicílios e o 7º maior em renda. É algo que faz pensar; não basta mudar o substantivo para a comunidade. Favela existe em nosso meio em todas as grandes cidades.

A favela constitui um retrato da crise urbana, não há como negar ou disfarçar. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), organismo respeitável e a que se devem serviços relevantes, divulgou um estudo valioso sobre favelas e comunidades urbanas, baseado em dados do Censo de 2022. O documento revela a expansão da população favelada e o número de favelas em todo o país.

É algo sobremodo importante e precisa ser conhecido para um efetivo julgamento do que é o problema. Para o credenciado jornalista Luiz Carlos Azedo, veterano nos jornais e na confiança do público leitor, o documento publicado é um retrato de uma crise urbana sem solução à vista. Assim, quem conhece o número de municípios que formam Minas, não imagina o que há no restante do país, o que representa em demandas e exigências ao poder público.

Lembro com profundo respeito o nosso Serra da Saudade, que poderia servir de exemplo, o menor município do Brasil, uma pátria de paz e felicidade. E, no outro ângulo, a Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, a favela mais populosa do país, 72.021 habitantes e 30.371 domicílios, que segue em expansão, antevendo-se novos e mais graves problemas para a administração carioca.

Para não se permitir que se julgue um problema antigo, conviria registrar que o Distrito Federal não anda longe. A Brasília, que Juscelino sonhara sem desafios no gênero, tem 71.908 habitantes e 21.889 domicílios, continua crescendo horizontal e verticalmente. Sob a denominação agradável de Sol Nascente. Se não se agir agora, a capital nacional poderá enfrentar mais graves problemas. O tempo dirá.

Nossas políticas urbanas falharam. E as consequências vieram e virão inapelavelmente. E, quanto ao DF, não se olvidará que Brasília é a sede do governo da maior nação do hemisfério.


87207
Por Manoel Hygino - 9/12/2024 08:19:03
Os russos por aqui

Manoel Hygino

O Brasil continuou sendo descoberto em pleno século XXI, o que nos alegra e incentiva. Não somos encontrados apenas pelos espertalhões e organizações criminosas, que enchem os noticiários dos veículos de comunicação a cada dia e hora. Ainda bem. Assim, verificamos que a geógrafa Márcia Maria Duarte dos Santos, especialista em cartografia histórica, docente da Universidade Federal de Minas Gerais, em que é pesquisadora do Centro de Referência em Cartografia Histórica, oferecerá nova contribuição ao conhecimento da importância para Minas e o Brasil do médico e diplomata Georg Heinrich von Langdorff, o barão de Langdorff (1774-1852).

Conto agora. Em março, a professora estará no seminário sobre a vida e a obra do importante homem da ciência, de que pouco se lembra e se sabe atualmente. O encontro será no Instituto Cultural Amilcar Martins, em Belo Horizonte, na rua Ceará, um muito especial para eventos dessa natureza. Será ocasião muito propícia ao aprendizado sobre o barão, na primeira metade do século XIX.

Então veio para passear e conhecer a beleza desta parte do mundo. Diplomata, naturalista e médico, começou a aproximar-se do Brasil, quando, com o príncipe Waldeck, da Alemanha, visitou Portugal, onde introduziu, aliás, a vacina.

Numa vez posterior, esteve a serviço do governo russo, que o nomeou encarregado de seus negócios por aqui, em 1815.

Foi quando explorou cuidadosamente a terra e sua flora, tomando-se de entusiasmo. Voltou à pátria e, dois anos após, estava de regresso ao Brasil, já com consagrados naturalistas e o pintor Rugendas, este nome prestigiado até hoje. Por quatro anos, perambulou pelos sertões brasileiros, coletando material considerado extraordinário do ponto de vista de valor científico, levado em coleções para estudos na Europa.

Além de muitos relatórios valiosíssimos e inúmeros manuscritos de valor incalculável, que estão à disposição da ciência até nossos dias. No terceiro mês de 2025, a professora Márcia Maria destacará no UCAM, aspectos geográficos relativos ao roteiro cumprido pela expedição e sobre as observações de Langdorff com relação aos povos visitados, as propriedades agrícolas e os movimentos migratórios da população.

O naturalista alemão é autor de “Estudos escolhidos durante a viagem dos Russos à volta do Globo”; “Observações feitas durante uma viagem“ e “Memória acerca do Brasil”.

Daí se concluir que os russos então não demonstraram assim como os alemães, interesse pelo que é nosso, diferente do quando se mobilizaram o século XX por motivos ideológicos ou meramente comerciais.


87202
Por Manoel Hygino - 3/12/2024 07:18:16
Bons caminhos

Manoel Hygino

Li o release e não entendi “bulhufas” ou “bulhufas”, palavra tampouco encontrada na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e no Caldas Aulette. Refiro-me à notícia de que a Santa Casa de Belo Horizonte, maior hospital em número de internações nesta nossa Minas Gerais, “inova ao implementar a Farmácia de Dose Unitária, que eleva padrões de segurança, economia e qualidade no atendimento.

O conteúdo do texto, todavia, me esclareceu à suficiência: “No sistema de dose unitária, cada medicamento é preparado e entregue em doses individuais, prontas para a administração direta ao paciente. No modelo de distribuição por dose unitária, o medicamento é preparado em um ambiente estéril e entregue ao setor em embalagens individuais e prontas para administração.

Cada dose é rotulada com informações essenciais, como nome do paciente, nome do medicamento, dosagem, posologia, data de preparo e validade, garantindo a segurança do processo. Esse método permite um controle rigoroso e rastreabilidade do medicamento desde a preparação até a administração”.

Entendido assim que a Farmácia de Dose Unitária é algo valioso para o paciente, também se fica sabendo que ela é, em nosso meio, revolucionária, voltada para manipulação de medicação venenosa, com potencial para transformar o atendimento em pediatria, resultando de longa experiência bem sucedida.

Durante o projeto-piloto, que abrangeu dez leitos de Pediatria e 45 pacientes, observou-se que os resultados foram expressivos: dos 870 frascos de antibióticos venosos prescritos, apenas foram 270 utilizados, com redução de quase 70%. Há um ambiente controlado e estéril, minimizando o risco de contaminação dos medicamentos, permitindo que um único frasco atenda a vários pacientes.

As pessoas não prestam muita atenção nisto que se chamaria de “detalhes”, mas – no fundo - todos saem ganhando do experimento bem- sucedido: o paciente em primeiro lugar, é claro; os profissionais que atuam na área; o estabelecimento hospitalar, que consegue apreciável economia. Resultado à frente, tem-se segurança e eficiência.

Com as medicações preparadas prontas para uso, a enfermagem pode dedicar mais tempo ao cuidado direto com o paciente, elevando a qualidade do atendimento e o acolhimento.

Enfim sorriso geral - do provedor da Santa Casa, Roberto Otto Augusto de Lima, além de diretores, superintendentes, médicos e farmacêuticos. A parceria com o Instituto Ronald MacDonald, Chico Neves; o fundador e presidente da Casa de Acolhida padre Eustáquio - CAPE, José Marcílio Nunes Filho; e a Superintendente da CAPE, Mônica Araújo, enfim instituições que patrocinaram o projeto.


87199
Por Manoel Hygino - 28/11/2024 07:24:49
O dia da fome

Manoel Hygino

Foi incontestavelmente um acontecimento que marcou o mundo a reunião do G-20 no Brasil, neste quase finado 2024. Definido o local apenas em maio do ano passado, no encerramento da cúpula de 2021, em Roma, o Brasil nunca recebera a incumbência desde a criação do Grupo em 1999.
Foram 82 países, entre os quais os mais ricos do mundo, e 148 organizações internacionais, instituições financeiras e ONGs, que apoiaram a iniciativa e teses nem favor do combate à pobreza e a fome.
Os temas predominaram ao longo das discussões, embora também debatidas as guerras da Ucrânia e Oriente Médio, o combate ao aquecimento global, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e a taxação dos super-ricos.
Prevaleceu e ganhou dimensões a tese da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que agora adquiriu metas e fontes de financiamento. Enfim, são 750 milhões de pessoas em estado de miséria mundo afora.
A reunião do G20, no Brasil, se deu coincidentemente quase com o 17 de novembro, que é o Dia Mundial dos Pobres, pela oitava vez, celebrado a título de repercutir favoravelmente em corações e mentes.
O espetáculo de grandiosidade a que se assistiu no fim de semana na antiga e na atual capital de nossa República adverte para a imensidão do problema que resumiu o objetivo do G20. Deve sensibilizar todos os homens de boa vontade e com algum parecer para a inadiável união de esforços para evitar que o caos atual se transforme na calamidade futura.
O Dia Mundial dos Pobres, convocado pelo Papa Francisco, foi lembrando por excelente apelo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. Deixou impresso o alto dignitário: “É preciso superar a gravíssima exclusão social, configurada em muitos cenários de miséria- tantas pessoas sofrem sem o essencial, passam fome. Esses cenários pedem uma reação emergencial e urgente, para inspirar políticas públicas capazes de promover a dignidade humana”(...).

Evoco aqui o padre Antônio Vieira: “Lançai os olhos por todo o mundo e vereis que todo ele se vem a resolver em buscar o pão para a boca. Que faz o lavrador na terra, cortando-a com o arado, cavando, regando, semeando? Busca pão. Que o soldado na campanha, carregado de ferro, vigiando, derramando o sangue? Busca pão. Que faz o navegante no mar, içando, amainando, sondando, lutando com as ondas no mar, e com os ventos? Busca pão... nenhum espírito se nega a dar pelo pão a alma, e nenhum há que não dê pão e ao pão todo o seu cuidado”.


87196
Por Manoel Hygino - 26/11/2024 09:18:02
Um homem-bomba

Manoel Hygino

O cidadão deste país acompanha com preocupação os acontecimentos mais recentes registrados em Brasília. Refiro-me ao caso específico do apelidado homem-bomba, que provocou um alvoroço não apenas na capital da República. Em verdade, num mundo assoberbado por acidentes e incidentes de múltipla natureza, em que os problemas climáticos ocasionam danos imensos e as guerras como a da Ucrânia e do Oriente Médio deixam traumas e tragédias, de grande extensão e profundidade, a maior nação do hemisfério Sul das Américas se sente também abalada em seu histórico pacifismo, como disse.

Afinal, quem era esse indivíduo trinômico - Francisco, Wanderley, Luiz que surgiu do nada, como se diz hoje - para causar tanto transtorno, que não era o primeiro e único- na sede do governo federal? Quais suas verdadeiras intenções e projetos? Era ligado ao grupo terrorista ou mero instrumento de núcleos políticos ou ideológicos aos quais interessa a prática do quanto pior, melhor?

As primeiras investigações pareciam claras na voz das autoridades. O diretor-geral da Polícia Federal foi suficientemente claro em sua exposição inicial: “Esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Entendemos que esse episódio não é um fato isolado, mas conectado a outras ações, que, inclusive, a Polícia Federal tem investigado em seu período recente”. Como não poderia deixar de ser, Andrei Rodrigues, da PF, relacionou o caso aos ataques de 8 de janeiro e se posicionou contra a anistia a golpistas.

Trata-se, pois, de abolição do Estado Democrático de Direito e terrorismo. Houve premeditação das ações, pois a presença do chaveiro em Brasília já fora constatada em ocasiões anteriores, artefatos encontrado no carro de sua propriedade e no local alugado para permanecer na capital do país, atribuindo-se a ação à radicalização de grupos extremistas.

Que grupos serão estes? Um chaveiro do interior do estado sulino não teria condições financeiras para aquisição de instrumentos indispensáveis a seus planos. De onde vieram os recursos? Muito se gastou nos deslocamentos desde Santa Catarina, na compra de carros e do instrumental para o ataque, felizmente para cidadão, do país, não deu certo.

Os órgãos de segurança têm muito a nada a apurar. E em tempo recorde, porque nãos e sabe exatamente o que há por trás de tudo.


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Por Manoel Hygino - 23/11/2024 07:18:22
Falando em saúde

Manoel Hygino

A permanência em hospital, por mais amor que se tenha, não é algo desejável e agradável. Pensando nisso, é que surgiu no São Lucas Hospital Particular e Convênios, da Santa Casa BH, o Jardim da Cura Dulce Neves Cordeiro, no terraço do edifício, que se transformou no que se desejara: um local de humanização, acolhimento e conexão, para servir aos pacientes na recuperação, às famílias, aos profissionais de saúde que ali atuam.

Marcos Coelho e Laio Amaral, da Assessoria de Imprensa e Comunicação e Marketing da centenária instituição, me advertiram para o alto sentido social e humano do Jardim da Cura, idealizado pela médica Mônica Cordeiro, conselheira e agente de integridade, e que se tornou referência, na área hospitalar de Belo Horizonte.

O terraço, ganhando canteiros com plantas, bancos para os visitantes e com uma vista de grande parte da capital, além do gigantesco complexo hospitalar em uma das margens da avenida Francisco Sales, é bom sustento para os olhos e o coração.

O entusiasmo é grande e geral no São Lucas. Entre as principais inovações, destaca-se um moderno angiógrafo Siemens Artis Zee, que viabiliza procedimentos terapêuticos e diagnósticos elevando a qualidade do atendimento. O aparelho revoluciona o diagnóstico e o tratamento de doenças cardiovasculares, mapeando anormalidades e prevenindo condições graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), além de possibilitar procedimentos intervencionistas, como drenagens, embolizações, quimioembolizações, dentre outros.

O novo CDT do São Lucas proporciona, ainda, uma gama expandida de exames, incluindo colonoscopia e hemodinâmica, reforçando o compromisso da instituição em oferecer um serviço abrangente e de alta qualidade nas principais áreas da medicina.

Há mais de 100 anos, Belo Horizonte ganhava este que seria o seu primeiro hospital particular, criado para tratar casos de tuberculose, São Lucas Hospital Particular e Convênios se consolidou como uma das mais tradicionais instituições de saúde. É referência em cirurgia robótica ortopédica e foi o primeiro hospital do país a realizar 100 procedimentos com o robô rosa, um assistente eficiente e preciso, que possibilita recuperação mais rápida dos pacientes. No São Lucas, mais de 300 cirurgias já foram realizadas com essa inovação.

Também é reconhecido em todo o estado pelo tratamento de alto nível nos casos de epilepsia e AVC. Para quem não tem planos de saúde e não quer aguardar na fila do SUS, foi criado o São Lucas Para Todos. O programa tem a proposta de levar saúde de ponta para toda a população e, para isso, oferece procedimentos cirúrgicos a preços acessíveis e com a possibilidade de parcelamento.


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Por Manoel Hygino - 19/11/2024 08:38:04
Nazistas de volta

Manoel Hygino

Atlético perde para o xará de Goiânia, último colocado no Brasileirão; Cruzeiro é derrotado pelo time misto do Flamengo. Do América, nem se fale. Nos Estados Unidos, Donald Trump sai triunfante em sua disputa com a candidata democrata Kamala Harris, com resultados que não se esperava tão contundentes.

Torcedores do Galo e da Raposa perderam a graça na terça-feria, 5 de novembro, mas a decepção em números foi do tamanho do grande país no Norte das Américas. Os da América Central e que tinham sonhos perdem suas expectativas diante da renovação da promessa de Trump de fechar as fronteiras aos imigrantes. Duzentos e trinta mil brasileiros que vivem acima do Rio Grande esperam agora o pior.

Pior? Difícil preconizar. Os nazistas, que infernizavam a vida dos judeus antes e durante a II Guerra, seguem dispostos a brigar por suas malditas ideias. Esqueceram que Hitler não há mais, nem o Muro de Berlim, símbolo de um tempo que queremos bem distante. Para sempre.

No Brasil, a suástica e o que ela representou ainda eclodem vez por outra. Os desmiolados não perecem de vez. Mas mesmo lá nos rincões da Europa registram-se surtos. As ideias não parecem de uma vez para sempre. Centenas de policiais e promotores de Justiça alemães prenderam há poucos dias, oito indivíduos, sob suspeita de tramarem um golpe de Estado e de estabelecerem estruturas governamentais e sociais inspiradas no nazismo.

Os malucos de extrema direita buscavam dar um golpe na Saxônia e outros estados, que compunham a antiga Alemanha Oriental. Seriam vinte integrantes em atividade desde 2020, promovendo treinamentos com armas.

Os “Separatistas da Saxônia”, como se autointitulavam, defendiam o “colapso da civilização” e pregavam uma ideologia “nazista antissemita”. O grupo, adepto da teoria do “dia X”, projetava para breve a falência dos governos, criando a oportunidade de estabelecer ocasião para uma nova ordem.

A teoria desses lelés da cuca se assemelha em diálogos dos militares extremados dos Estados Unidos, segundo o “New York Times”, esta semana; aqueles que elegeram Donald Trump penando em expulsar os latinos que vivem ao Norte do Rio Grande.

Há doido para tudo em todos os tempos. No Brasil, também há os espertalhões, que agem em todos os flancos, embora o Ministério Público agora já aja com mais vigor. Difícil vencê-los, mas não impossível.


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Por Manoel Hygino - 13/11/2024 09:21:27
Sobre Pedro II

Manoel Hygino

O jornalista Gustavo Werneck, que tanto tem contribuído com a imprensa belo-horizontina para divulgação de nossa história, referiu-se, há dias, ao fato de que a Escola de Minas, em Ouro Preto, completará em 2026 150 anos. Registrou que o tradicional estabelecimento foi fundado em 12 de outubro de 1876 pelo cientista francês Claude Henri Gourceix (1842-1919), a instância do imperador Dom Pedro II.

Pois eu me sinto na obrigação de acrescentar o nome completo do segundo e último imperador: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paulo Leocádio, Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon, nascido no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro de 1825.

Em síntese: no ano que vem aí, registra-se o bicentenário do segundo Pedro à frente de nossos destinos, mais de trezentos que um primeiro homônimo apareceu por essas terras - o Álvares Cabral, o Cabral.

A figura de Dom Pedro é muito controvertida e até menos conhecida do que se devia. Sua aparência fidalga se perdia quando ele trajava o manto Papo de Tucano, com meias apertadas, o que realçava as pernas finas demais, relativamente ao corpo. Os opositores o chamavam de Pedro Banana ou de ditador tirano. Mas veio ao mundo para mandar, apesar do seu cacoete “já sei, já sei”, no fim de cada frase - o que o fez motivo de chacota, pelo menos nos grupinhos da rua do Ouvidor.

Quando o pai abdicou, tinha cinco anos. Ficou no Brasil, tendo como tutor José Bonifácio de Andrade e Silva, contando com grandes professores da época. Só terminou o reinado com a proclamação da República, 48 anos depois. Morreu em Paris, aos 66 anos, e seus restos mortais repousam em Petrópolis.

Ele passou a amar o Brasil.

Sérgio Buarque de Holanda registra que Pedro II se empenhava pela extinção do trabalho escravo, “mas achava que toda prudência era pouco nessa matéria. Gostaria que o Brasil tivesse em ordem as finanças e a moeda bem sólida, ainda que esse desejo pudesse conturbar a promoção do progresso material, da imigração, que também deseja”.

Proclamada a República naquele 15 de novembro (que daqui a pouco festejaremos) o governo provisório deliberara conceder a Pedro um subsídio extraordinário de cinco mil contos, pagos de uma só vez. A bordo do Alagoas, ao chegar o navio a São Vicente, o imperador deposto dirigiu um telegrama aos novos donos do poder dizendo que se recusava a aceitar o subsídio, e que, caso alguém o tivesse recebido em seu nome, deveria ser imediatamente restituído.


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Por Manoel Hygino - 12/11/2024 14:27:47
A fé existe

Manoel Hygino

Embora pudesse parecer diferente, Montes Claros, a maior cidade norte-mineira se tem demonstrado eminentemente religiosa. É constatação histórica que acompanho desde criança. O progresso econômico não lhe mudou os caminhos da fé, sobretudo cristã.

Verifiquei que, nos dias 3 e 6 de junho, lá se recebeu a peregrinação das Relíquias de Santa Terezinha do menino Jesus, celebrando 150 anos de nascimento da santa, 2023 passado. O evento, como ora se gosta de dizer, se iniciara no Brasil em fevereiro, para um itinerário de setenta cidades do país.

Conhecida como “maior santa dos tempos modernos”, como definiu Pio X, o percurso cumprido aqui constitui uma celebração do legado espiritual e do exemplo de fé, que conduzem consigo os restos mortais da santa, do que deles se conservou um século e meio. Na cidade norte-mineira, a população cristã-católica, os fiéis acolheram as relíquias de Terezinha, que prometera fazer cair uma chuva de rosas sobre aqueles que pedem por sua intercessão.

Esta é a terceira vez que as relíquias visitam o Brasil e a segunda a Montes Claros. A primeira aconteceu em 1997, ano em que a santa foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II, repetindo-se no ano seguinte. O fato deixou um legado visível na comunidade. Muitas experiências sinceras relatadas revelam-se na vida da santa, cuja presença fortalece a fé e promove a união entre os devotos.

Cerca de quatro meses após, em 19 de outubro, a cidade voltou-se para a lembrança mais intensa àquele que considera seu santo, um sacerdote espanhol, chamado Henrique Munaiz. Ele mudou-se para a cidade, vindo da Espanha, logo depois de ordenar-se no Brasil, como conta um jornalista montes-clarense que lhe acompanhou a vida de dedicação ao próximo. “Entregou-se definitivamente a ajudar pessoas. E a transmitir os Evangelhos de Jesus Cristo, que ele viveu como poucos, a exemplo de Francisco de Assis”.

Depois de décadas, reconhecido como o homem mais feliz da cidade, esplêndido em distribuir a Luz, disponível a todos, a qualquer hora, Padre Henrique foi internado num quadro de leucemia aguda. Faleceu na manhã de 19 de outubro, como hoje. Alou-se. Isto é: guarneceu de asas e voou ao seu novo e definitivo habitat, de onde presta seus milagrosos préstimos a santa francesa e o sacerdote espanhol.


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Por Manoel Hygino - 9/11/2024 07:20:08
Um sábio que parte

Manoel Hygino

Não é agradável redigir a notícia, mas não podemos ignorar o fato. Faleceu no Dia de Finados deste ano, 2 de novembro, Ivo Porto de Menezes, de prestigiosa família mineira. Professor Emérito da Escola de Arquitetura da UFMG. Doutor pela Escola de Minas da Universidade do Brasil, Arquiteto do IPHAN e da IEFHA-MG, Diretor do Arquivo Público Mineiro, realizou projetos e obras de restauração de edifícios de valor histórico ou artístico, sendo autor de diversos livros e artigos sobre a suas matérias preferidas - arquitetura e arte. Não seria o suficiente.

Em 2014, comemorando os 200 anos de falecimento de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ele publicou um livro sobremodo importante para quem desejar ou desejasse mais saber sobre o nosso grande escultor e se justificou: “não deixaria de levar aos estudiosos os dados colhidos ao longo de seu viver de pesquisador e mestre”.
E o nome do volume precioso não poderia ser mais simples: apenas o nome do Aleijadinho, editado pela CI Arte, de Belo Horizonte. É algo que não seria deixado de lado, se quiser conhecer e sentir mais de perto o grande artista mineiro, que por mais de dois séculos o precedeu.

Ivo Porto de Menezes conta, por exemplo, que desde 1956 se debruçava sobre a arte do mestre do barroco e, assim, relata como foi descoberta a imagem de Nossa Senhora do Carmo em São Bartolomeu, na década de 1970, localidade a 12 quilômetros de Ouro Preto. Fica nas proximidades da qual caiu recentemente um avião com bombeiros e duas pessoas da área de saúde e que ali foram prestar assistência a um piloto de aparelho que caíra.

Falar sobre Ivo Porto de Menezes exige tempo e disposição, o que não é próprio quando falamos de seu óbito. Este foi seguido pela da esposa, no dia 27 de outubro. A filha disse: “Era um ser humano de coração imenso, profissional, pai e esposo. Exemplo de amor pela esposa e simplicidade até nos momentos finais. Ele sempre dizia que só partiria depois da esposa, que não poderia deixá-la. A tristeza da partida é imensa, resta o consolo de que eles continuam juntos na eternidade”.

Tudo mineiramente, pranteado, sincero. Fica-se, porém, o dever do exemplo e voltar à obra de Ivo Porto de Menezes, também responsável pelo levantamento de uma rodovia, há muitos anos, que ligaria Belo Horizonte ao Rio de janeiro. Que tenha paz e sossego!


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Por Manoel Hygino - 6/11/2024 09:06:49
Um amigo nonagenário

Manoel Hygino

É novembro quase metade, dia 17. Tempo de formular uma saudação a Anderson Braga Horta pelos 90 anos. Palavras de alegria por estar-se vivo e poder lembrar o bom amigo, o conterrâneo sempre elogiado em verso e prosa, pela fidelidade à terra em que nasceu e que percorreu, desejando-a sempre melhor para seus filhos, guardando-a no coração. Nela se estila a essência de gratidão do menino de Carangola, que dali partiu para conhecer o vasto território habitado por gente que sabe valorizar o que ali existe.

Anderson faz 90 anos e por unanimidade o saudamos, reverenciamos sua obra, sempre marcante, em nosso gosto e em nossa memória.

Nasceu de poetas, com eles se foi formado – a infância, na adolescência, com longos percursos pelas estradas que já cortam a antiga província, terra de ricos proprietários que usavam escravos para extrair ouro e manda-lo ao luxo da metrópole, e as escravas para o evento carne, aumentando o número de sofredores – ou não - neste pedaço do hemisfério.

Em dúvida inexplicável, Anderson, em sua escrita, verso ou não, deixa de sua trajetória até hoje uma aura imensa de poesia, pois ela o possui, em todo tempo, em todo lugar.

No fim de contas, como confessa, Anderson não se tornou nem desenhista, nem pintor, nem músico, nem cantor.

A poesia chegou - com os primeiros amores - e passou a reger seus dias e suas noites, com muito esforço dedicação, esmero. Na poesia, mas também na prosa, na oratória, valendo-se de habilitações e méritos indiscutíveis, como se aprecia e se aplaude por jornais, revistas, seus numerosos livros, nas reuniões literárias, nas academias, nos discursos em várias regiões.

Neste 17 de novembro, repito o amigo e mestre ao bater à sua porta da casa dos noventa, esperando continue: “O ato está cumprido. A oferenda está feita. A vida vai: “Deo gratias”.
Anderson: No berço intangível da solidão.

Deus espalha o mel de sua voz.


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Por Manoel Hygino - 5/11/2024 08:03:36
Um retrato trágico

Manoel Hygino

Quem aqui vive ou que, de algum país distante toma conhecimento da vida brasileira, conhece a crise - vamos dizer bélica - que invadiu as grandes cidades. Terá ainda a pulsão de perguntar: que será de território tão grande e pleno de belas perspectivas, diante da sucessão de crimes contra a vida e a propriedade?

Atravessamos um período cruel em violência nas capitais dos estados maiores, transferido o problema em toda a sua extensão e profundidade aos demais núcleos e os interioranos.

O direito constitucional de ir e vir é apenas um texto sem obediência. Todo cidadão teme hoje sair à via pública até para locomoção ao trabalho. As famílias se inquietam à hora de levar os filhos à escola, essa também atormentada pelos riscos de várias naturezas.

O transporte urbano se tornou ameaça de todos os dias por motivos sabidos, inclusive pelas condições precárias dos veículos ou pelo desafio de passageiros dispostos à prática de atentados ao pudor e à integridade pessoal.

No Rio de Janeiro, outrora cantado em verso e prosa, a situação é de total e permanente insegurança. A avenida Brasil, principal via expressa, tem média de oito tiroteios a cada dois dias, segundo dados de entidade credenciada. Registram-se, nos últimos oito meses, mais de 1.500 tiroteios. Em média são mais de 190 confrontos por ano no importante trajeto de coletivos, cercado o itinerário por favelas sob domínio do crime organizado e alvo permanente de operações policiais.

Mencionada avenida, vizinha de 70 favelas é alvo incessante de disputas territoriais de facções, de milícias e traficantes e, consequentemente, de confrontos regados e estigmatizados por sangue.

As desavenças e desentendimentos domésticos se reiteram em cenas que nada têm a ver com civilização. Antes pelo contrário.

As mortes no que deveria ser lar estão inseridas no cotidiano de casais mal formados social e religiosamente pares que não aprenderam na infância viver em harmonia, entregues a costumes espúrios, de que não conseguem, nem se interessam, por se libertar. A polícia, a Justiça se veem em apuros para minimizar os problemas, enquanto o sistema carcerário se vê obrigado a ampliar suas vagas ad infinitum.

Lamentavelmente, estamos mal sob tais aspectos. Quem ganha é a criminalidade que avança interminavelmente, constituída de crescente e ativada proliferação de esquadrões e facções a serviço do mal.


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Por Manoel Hygino - 2/11/2024 09:50:01
Sem chover no molhado

Manoel Hygino

Comento aqui, sempre que necessário, posições e manifestações jurídicas de autoria do desembargador e terceiro vice-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Rogério Medeiros, ex-presidente do TRE, doutor em Direito Administrativo pela UFMG, professor, conferencista e escritor, antigo juiz de Direito de minha terra natal, Montes Claros.

É que o magistrado, nascido em São João del-Rei, sabe o que fala no momento em que sua palavra é relevante. É o caso presente, examinado no livro “A cultura de precedentes no Brasil: desafio e perspectivas”, tema sobremodo importante nessa hora em que “há assustador volume de recursos que chegam ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça”.

É, portanto, a hora correta para se aprofundar no assunto, como está no volume mencionado, em que o magistrado comparece com artigo “Precedentes, segurança jurídica e segurança pública”.

Lá, S. Exa. se estende. Em suma, aqui está: “as nações precisam definir um rumo para se desenvolverem institucionalmente. Nesse sentido, atuarão os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Um país somente se desenvolve se tiver instituições sólidas. As instituições, no Estado Democrático de Direito, necessitam conquistar a confiança dos cidadãos e cidadã. Os precedentes jurisprudenciais garantem a segurança jurídica, como explica a exposição de motivos do Código de Processo Civil de 2015. No âmbito do Processo Penal, os precedentes jurisprudenciais precisam também fortalecer a segurança pública. Em outras palavras, os tribunais devem aturar para coibir crimes violentos e garantir segurança para a população. Somente assim o país marchará rumo ao desenvolvimento pleno, à ordem e à paz social”.

Em última análise, o que se quer e se pretende, porque efetivamente mais sábio, é não chover no molhado, como diz o homem do povo. Utiliza-se a propósito a adoção do intuito como expressa reação à aparente insolubilidade do problema das lides repetidas. Eis: “A rigor, a utilização da súmula liberaria a comunidade jurídica do enfrentamento de questões idênticas e já decididas. A súmula não é ferramenta de libertação do juiz. É tentativa de obviar a necessidade de repetição de processos idênticos e que mereceram apreciação do Judiciário. Parece contrassenso reiterar pedido já formulado, percorrer todas as instâncias e suas vicissitudes, com a exata pré-ciência de qual será o resultado final”. (...)


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Por Manoel Hygino - 30/10/2024 08:31:26
O espectro da guerra

Manoel Hygino


Na segunda metade de outubro deste 2024, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi visto pela TV do Brasil, como nunca antes talvez, na reunião do Brics, em Kazam, pelo menos cá no Brasil. Isso porque o presidente brasileiro, em virtude de acidente em banheiro do Alvorada, feriu-se e não pôde comparecer. Putin entrou em cena para suprir a falta de Lula e tecer considerações sobre a não admissão a Venezuela no grupo de formadores do organismo internacional.

Mas como sempre, sem um sorriso sequer em qualquer minuto, o presidente de lá confirmou suas inclinações belicistas. Pela primeira vez admitiu que poderia empregar forças da aliada Coreia do Norte na guerra da Ucrânia, cedendo naquele país mais 12 mil soldados coreanos a Putin, além dos 3 mil já no conflito.

O comandante do Kremlin tem o pensamento predominantemente focado em guerra. Já no dia 14 de outubro, a Rússia criticara a manobra que a Otan iniciara, utilizando militares e 60 aeronaves de países-membros como resposta ao aumento da retórica e do arsenal nuclear russo desde a guerra com Ucrânia. Para Moscou era algo “exatamente perigoso e de consequências catastróficas”.

Não se precisa ir longe. Putin, em fevereiro de 2022, instruiu o Ministério da Defesa a colocar forças com as armas nucleares em alerta máximo sem razões pertinentes, assustando o mundo. Aconteceu quando a Rússia retaliou a União Europeia de fechar seu espaço aéreo a todo e qualquer avião russo ou de Bielorrússia, como sanção do ataque militar iniciado por Moscou contra a Ucrânia.

As novas restrições europeias anunciadas atingiam também a veículos de imprensa estatais da Rússia, como o Rússia Today e a agência de notícias Sputnik.

As sanções aplicadas à Rússia também se estenderam a Belarus, acusada de facilitar e participar do ataque russo à Ucrânia. “O regime (do presidente bielorusso Alexander) Lukashenko com um novo pacote de sanções, introduzindo medidas restritivas contra seus setores mais importantes, o que interromperá suas exportações”.

As restrições foram anunciadas após a Comissão Europeia tornar público que as lideranças políticas de algumas das principais economias ocidentais concordaram em remover as instituições bancárias russas da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (do inglês, Swift).

Mais tarde, a Rússia fechou seu espaço aéreo para companhias aéreas de 36 países, incluindo todos os 27 membros da União Europeia, em retaliação.


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Por Manoel Hygino - 29/10/2024 08:31:37
Diminuindo custos

Manoel Hygino

Declaração de Mirocles Véras, presidente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Brasil (CMB), relativa ao desempenho do setor no ano passado chama a atenção. Em 2023, as internações com perfil de alta complexidade somaram 61,33%. Assim, 1.813 hospitais filantrópicos disponibilizaram 184.328 leitos (unidades de internação e UTI), sendo 129.650 destinados ao Sistema Único de Saúde.

Deste modo, as filantrópicas se responsabilizaram por quase 70% dos procedimentos de transplantes e estiveram à frente de 68% dos transplantes de medula óssea e 62% dos de tecidos e células. Para o presidente da CMB, a rede hospitalar filantrópica é a base do SUS. Esses números não são apenas estatísticos; eles representam vidas salvas, cuidados oferecidos e a dedicação de milhares de profissionais comprometidos com a saúde e o bem-estar da nossa população. Fica evidente a importância e a sustentabilidade dessas instituições. Por conta disso, as instituições recorrem a maneiras de complementar esses valores com doações, emendas parlamentares, por exemplo.

A Santa Casa BH, maior complexo de saúde de Minas Gerais, celebrou a quebra de um ciclo de alta no endividamento e redução do passivo em 2023. Com um crescimento recorde na produção e, consequentemente, das receitas, a instituição conseguiu controlar custos e reduziu gastos com materiais médicos e medicamentos, obtendo economia mensal de aproximadamente R$ 2 milhões. O resultado é fruto de um trabalho meticuloso realizado pela Superintendência de Suporte à Saúde, criada em dezembro de 2022, com a junção dos setores de Compras e Farmácia, formando assim a Gerência de Suprimentos.

A gestão institucional concentrou esforços na análise e otimização dos processos, especialmente nos dois setores, para instituir a Gerência de Suprimentos. Essa integração permitiu a implementação de métodos avançados de controle de estoque, liberação e aquisição de materiais e medicamentos, além da realização de compras unificadas por espécie de produto, compras pelo menor preço independente da forma de pagamento, dentre outros.

Esses resultados reforçam o compromisso da instituição em oferecer um atendimento de qualidade, garantindo o cuidado seguro e responsável aos pacientes. Seguindo com o ideal de levar saúde de ponta para todos, por meio de uma gestão eficiente, sustentável e com o olhar voltado para o futuro.


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Por Manoel Hygino - 23/10/2024 09:40:22
O Brasil, hoje

Manoel Hygino

Primeiramente foi o Helene, um furacão que inúmeros estragos causaram aos Estados Unidos. Depois, o mais recente, o Milton e tampouco deixou de provocar danos imensuráveis. O olho foi à costa Leste. Que ele não voltou para nós, que já sofremos enormemente neste 2024 –- com a devastadora destruição de imensas regiões gaúchas. Depois, o desastre interminável de incêndios e queimadas em extensas regiões – do Amazonas ademais biomas de enorme importância para o país.

Em seguida, as enchentes no interior dos estados, antes atingidos por chamas, fumaça intensa e calor acima dos níveis já elevados de anteriores anos. A natureza está revoltada, enfurecida. Tempestades mais? Simultaneamente, a guerra sem fim entre países do Oriente Médio, com intervenção de grupos terroristas e por quem precisa defender-se.

Mas quem se dá ao prazer ou luxo de acompanhar os acontecimentos no país pelos veículos de comunicação se assusta (ou não mais se assusta com a infinidade de pessoas e organizações que se esmeram em ações de dar prejuízos aos demais, usando artifícios e instrumentos de toda natureza). Nem falo do incerto, com extenso grupo de aventureiros e marginais que atuam no campo da exploração mineral, nas áreas de garimpo. Estou lendo que um grupo indígena de Nazaré, simplesmente assassinou mais quatro pessoas em sua área de ação criminosa, com 68 mil hectares. Todo o imenso território da Amazônia está infestado de bandidos que fazem papel de bons moços.

Nas cidades disseminadas pelas regiões da nação, surgem também os chamados influenciadores, cujo propósito é aproveitar-se da ingenuidade de muitos para se completarem. Sem esquecer os marmanjos, até com décadas de vida, que estão utilizando de toda espécie e até de religiões para praticarem o mal contra menores e mulheres, a despeito das medidas determinadas pelo poder público.

Haja cadeia! Porque se há de destinar mais espaço para prender criminosos de toda origem e com toda modalidade para crimes até hediondos.

Mas temos de concordar com Roberto Brant, com referência à hora difícil que vivemos e suas causas: “Desde 1980, o Brasil tem sido um país de crescimento medíocre e cada vez mais desigual. 45% de nossa população vivem com até dois salários mínimos e somente 22% vivem com renda superior a cinco salários mínimos. Sob qualquer perspectiva não somos um caso de sucesso. Nossa renda por habitante hoje é igual à que tínhamos em 2013. Não é preciso dizer muito mais”.


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Por Manoel Hygino - 22/10/2024 08:59:59
Em favor da criança

Manoel Hygino

A Santa Casa é tradicional no atendimento de casos raros de pediatria. Lembra-se o exemplo do sociólogo Betinho, que se descobriu portador de hemofilia, bem como o irmão, o celebrado cartunista Henfil, que vieram de Bocaiuva para Belo Horizonte em busca de solução do desafio à não coagulação de sangue, como o herdeiro do trono russo, Alexei.

Os tempos passaram, não os problemas. Pensando nisso, a instituição, líder no país, acaba de criar um serviço especializado em Hematologia Pediátrica e Transplante Pediátrico, destinado a pacientes infanto-juvenis. Até recentemente, uma equipe mista atendia adultos e crianças, mas agora há uma equipe exclusivamente composta por hematologistas pediátricos, permitindo transplantes no gênero, quando já se realizam cerca de 12 procedimentos por ano.

Os leitos do transplante pediátrico contam com ambiente lúdico, acolhedor e especialmente projetado para crianças, inspirado no “espaço sideral”, paredes decoradas com figuras de astronautas, planetas e estrelas, rompendo com o estereótipo hospitalar e ajudando a minimizar o impacto emocional da internação.

O provedor Roberto Otto Augusto de Lima assistiu ao ato inaugural e conduzido pelo assessor de Relações Institucionais Luiz Antunes, presentes os diretores da instituição, Cláudio Dornas e Carlos Renato Couto, além da superintendente de Relações Institucionais, Raquel Ratton; a gerente de Governança Clínica e Transplantes, Sonale Oliveira e Thaís Azevedo; além da coordenadora da Hematologia Pediátrica, Dra. Raquel Neves, e toda a equipe médica.

Destaque para a presença dos deputados federais, Diego Andrade e Mário Henrique Caixa, que desempenham papel fundamental como "Guardiões dos Transplantes" no projeto "Guardiões da Saúde" – iniciativa da Santa Casa BH que aproxima os parlamentares da instituição e assegura aperfeiçoamento e ampliação nos serviços.

No evento, a Dra. Raquel Neves destacou que, com a criação da nova equipe, a Santa Casa BH se torna o único hospital 100% SUS em Minas Gerais a ter uma equipe transplantadora composta exclusivamente por hematologistas pediátricos, assegurando um atendimento altamente especializado e humanizado para crianças e adolescentes.


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Por Manoel Hygino - 19/10/2024 07:12:12
Ainda obesidade

Manoel Hygino

Ninguém deseja ser barrigudo ou ter sobrepeso. A estética existe poderosa na cabeça do ser humano, não se pode negar. Por outro lado, é uma questão de saúde e a obesidade é causa de numerosos males que a Medicina busca eliminar. A questão, contudo, não é apenas dos médicos, que sempre procuram evitar consequências danosas.

O desafio dos pacientes que passam por cirurgia bariátrica é flagrante aos olhos e nas preocupações cotidianas. Realizado o procedimento, o cidadão começa a recuperar peso novamente. Acompanhando o fato, o cirurgião Bruno Cortes Gonçalves, aluno do curso de doutorado da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, com colaboração dos demais médicos e equipe multidisciplinar do Ambulatório de Obesidade, projetou um inovador aplicativo, agora denominado Baritrip.

A proposta foi experimentada, deu certo plenamente, tendo o dr. Bruno Cortes Gonçalves recebido o Prêmio Dr. Thomaz de Aquino Borges Cordeiro, durante o XX Congresso Mineiro de Endocrinologia e Metabologia. Endocrinologista e coordenadora do Ambulatório de Obesidade Clínica da instituição, a médica Cláudia Maria Vieira, que participou do projeto, declara que o Baritrip já demonstrou o seu valor ao oferecer suporte contínuo tanto no pré quanto no pós-operatório.
“Em um cenário onde muitos aplicativos de saúde carecem de validação, o Baritrip se destaca por ter sido cuidadosamente desenvolvido e validado por especialistas e pelos próprios pacientes, avaliando e contribuindo para a construção da ferramenta, atingindo um Índice de Validade de Conteúdo (IVC) de 0,99 - índice que mede a concordância entre especialistas sobre a relevância de cada item. É calculado pela proporção de itens considerados relevantes pelos especialistas”.

O Baritrip reúne conteúdos clínicos e educativos de diversas áreas da saúde, promovendo um acompanhamento integral e personalizado aos pacientes. A funcionalidade e usabilidade do aplicativo chamaram a atenção no Congremem, sendo descrito como um marco importante no avanço da mHealth (saúde móvel) no Brasil.

Dr. Bruno Cortes Gonçalves, idealizador do projeto, destaca a importância do reconhecimento e os planos de expansão.

Para o professor da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, Dr. Alexandre Moura, o desenvolvimento do aplicativo é fruto de um esforço coletivo. “Estou orgulhoso de ter orientado o Dr. Bruno neste projeto de doutorado. É gratificante ver o impacto positivo do uso do Baritrip pelos pacientes do nosso Ambulatório de Obesidade. O futuro é promissor, e continuaremos firmes no propósito de oferecer soluções que melhorem a qualidade de vida das pessoas”.

O Baritrip foi apresentado no 36º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia – CBEM 2024, que ocorreu em Recife de 11 a 15 de outubro de 2024.


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Por Manoel Hygino - 16/10/2024 09:31:40
Um sólido sucesso

Manoel Hygino

Os que nos devotamos ao sagrado direito – e dever de escrever para a Imprensa - nos sentimos recompensados ou premiados quando constatamos o sucesso de iniciativas e projetos que aprovamos e resultam positivos. No mundo repleto de desacertos, incompreensões, inveja e rivalidades múltiplas, é comum e notório que mais se registrem os fracassos.

No entanto, desvanece e estimula verificar que conseguimos êxito em planos e empreendimentos pelos quais nos batemos ardorosa e confiantemente. Eis o que sentimos ao verificarmos o almeijado desenvolvimento que cerca e coroa planos longamente sonhados e arquitetados, sobretudo quando se trata de bem servir ao próximo, à comunidade a que nos achamos integrados.

Refiro-me ao CIEE/MG, cujas alicerces e construção acompanhamos, há anos, com o interesse dos pais com o futuro dos filhos. Naquele princípio não eram muitos os que devotavam amor à causa, até porque não suficientemente conhecida. Rapazes e moças se formavam, venciam um período valioso de suas existências em ofícios e habilitações. De uma hora para outra, constatavam que – concluído aquele período básico indispensável – quedavam sem maiores perspectivas de ingressar no mercado de trabalho. Nada pior para quem terminara um ciclo imprescindível ao exercício de um programa de vida.

O ideal de criação de uma entidade como o CIEE num primeiro instante parecera sonho, até porque o estado e a nação, os municípios, passavam por fases preliminares de evolução e afirmação. O Centro de Integração Empresa-Escola desembarcou em Minas Gerais sob os melhores e mais saudáveis auspícios. Aqui encontrou mais do que boa vontade e simpatia, porque se operava para deslanchar um processo que muito representaria para a sociedade, sobretudo num dos maiores estados do país, com alto potencial de matéria prima, com uma rede rodoviária de dimensões adequadas, com suporte favorável de energia, com um povo disposto ao trabalho e à produção.

O Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais surgiu exatamente na maior oportunidade ao desenvolvimento regional e nacional, contando com os mais jovens dispostos a dar contribuição ao progresso, evidentemente aliado à afirmação pessoal e profissional. O CIEE/MG demonstra, há bem tempo, a que veio e porque veio. Muito tem feito para consumação de seus projetos, a que nos integramos, desde um primeiro instante. E há muito mais a fazer, para satisfação e júbilo de todos nós, da primeira hora e minuto.


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Por Manoel Hygino - 12/10/2024 09:08:23
Seca no Sertão

Manoel Hygino

Eis outubro, extremamente quente, aguçando a necessidade de que a chuva, tão longamente esperada, não mais demore. Vivemos um dos anos de maior calor em dezenas de anos, no Norte de Minas, na região do Rio Verde Grande, no Noroeste, pelas bandas do Jequitinhonha. Os moradores das cidades e dos campos rezam e estendem olhos distantes à busca de um sinal de água que caia do céu.

José Ponciano Neto, homem de ontem, sertanejo de hoje, especialista em acompanhar mudanças climatológicas, recorda tempos semelhantes, idos e sofridos. Período que exigia fé, em Montes Claros, penitências e procissões que percorriam longas distâncias até o alto do morrinho, onde estão hoje as torres de transmissão das rádios do jornalista e advogado Paulo Narciso, que captam e ampliam a súplica para que o sertão não seja olvidado das benesses das chuvas.

Senhoras e mocinhas, idosos e rapazelhos, se juntavam em lugares predeterminados e sabidos para a caminhada até o pé do cruzeiro, no ponto mais elevado. Avultava o número de pessoas, gente humilde no decorrer do percurso, de terra aquecida pelo calor solar.

Os mais antigos contavam a guisa de estímulo que, depois dos difíceis períodos de estiagem dos anos 30 e 50 veio a temporada saudável das chuvas, que enchiam os reservatórios e de fé as boas almas que criam em Deus. As orações eram um coro, crianças à frente dos adultos. Muitas vezes, antes de completar-se a novena da fé, a chuva caía.

Os peregrinos, convictos fiéis, carregavam nas mãos, latas e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça e ramos de mato e capim, e a imagem da padroeira do Brasil. Houve uma vez em que, alcançando o alto do morro e começando as cantigas, desencadeou-se a protofonia de trovões seguida de ventania, com ventos muito fortes e gelo, obrigando os crentes a se abrigar, em algum lugar e da melhor maneira possível. Estava iniciado o tempo das chuvas. Naquele ano, os produtores rurais rezaram em agradecimento pela fartura de milho, feijão, arroz das baixadas e bois gordos. Para muitos, a fé está acabando e há os profetas da seca, que torcem para não chover. E há chamas por todos os lados e criminosos incendiários. Até quando?

A igrejinha foi construída, com muito sacrifício, por Dona Germana, procedente de Minas Novas, falecida em 15 de janeiro de 1902, tempo de chuva e esperança.


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Por Manoel Hygino - 9/10/2024 08:39:45
Nossos magistrados

Manoel Hygino

A Amagis dá sequência a uma esplêndida iniciativa, com a publicação do Volume II, contendo o relicário da vida de 18 magistrados que deram ênfase e grandeza ao Poder Judiciário mineiro, em seus 150 anos. E dá destaque à participação feminina nesse afã, com o belo artigo da Dra. Daniela de Freitas Marques, juíza do TJMG e professora da UFMG. É uma reflexão que merece ser lida.

A capa contém foto de Cecília Pedersoli, do sobrado setecentista que inicialmente sediou o Tribunal de Justiça do estado e cuja pintura original é de autoria do desembargador José Marcos Rodrigues Vieira, da 16ª Câmara Civil Especializada, valendo o esforço da edição para responder pela relevância do poder em Minas. Tudo muito belo, correto e justo.

Exalta-se, em quase noventa páginas, bem ilustradas com as fotos dos homenageados, a figura e a personalidade de cidadãos que enalteceram a nobilíssima missão de julgar. São artigos assinados por sucessores não menos ilustres.

O mestre João Martins de Carvalho Mourão é focalizado por Rogério Medeiros Garcia de Lima; Alfredo de Araújo Lopes da Costa por Evandro Lopes da Costa Teixeira; Nísio Batista de Oliveira por Marcos Henrique Caldeira Brant; Nelson Hungria Guimarães Hoff Bauer por Hermes Vilchez Guerrero; Antônio Martins Vilas Boas por Alberto Vilas Boas e Luiz Gustavo Villas Boas; Antônio Carlos Lafayette de Andrada por Doorgal Borges de Andrada; José de Assis Santiago e Sérgio Lellis Santiago, uma história de família, por Alexandre Quintino Santiago.

E mais: Olavo Bilac Pereira Pinto por Olavo Bilac Pinto Neto; Edésio Fernandes, por Cândido Luiz de Lima Fernandes; Ruy Gouthier de Vilhena por Francisco Albuquerque; Adhemar Ferreira Maciel por Gláucio Gonçalves; Márcio Aristeu Monteiro de Barros por Itelmar Raydan Evangelista; José Guido de Andrade por José Tarcízio de Almeida Melo; José Arthur de Carvalho Pereira, por José Arthur de Carvalho Pereira Filho; Sálvio de Figueiredo Teixeira por Gustavo Cheik de Figueiredo Teixeira; Paulo Geraldo de Oliveira Medina por Joaquim Herculano Rodrigues; e Herbert José Almeida Carneiro por Thiago Pires Silva Carneiro.

Pelo que se constata, um time de dezoito players, que dignifica a magistratura. Ao final da redação preconizada, ter-se-á um compêndio, que muito retrata a Associação e os que produziram tão expressiva retrospectiva da magistratura em um estado que tem muito a contar nesse preciso rol.

De todos os que se foram, guardei o pensamento de um autor, com relação ao que já se despedira: “Sua partida representou a perda de um colega, de um amigo, mas, acima de tudo, de um Juiz que soube viver e honrar sua toga, deixando um inesquecível legado a nos servir de inspiração”. A publicação foi apresentada pelo JD Luiz Carlos Rezende e Santos, presidente da entidade.


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Por Manoel Hygino - 5/10/2024 07:06:45
A cabeça do herói

Manoel Hygino

Decidira a capital mineira erguer uma estátua em honra e louvor a Joaquim José da Silva Xavier, em local a se escolher que fizesse justiça ao protomártir. O tempo era curto e o prefeito, nascido em Divino de Carangola, na Zona da Mata, incumbiu o seu chefe de gabinete de adotar as medidas próprias. O titular do cargo era o signatário deste comentário e o então alcaide, o advogado Amintas de Barros, alvo de permanentes críticas.

Após consultas à vereança, definiu-se o local: avenida Afonso Pena com avenida Brasil, cruzamento de várias vias. Saiu-se em busca de um escultor que projetasse a estátua e, como Amintas tinha interesses junto aos sacerdotes do alto do Carlos Prates, vi-me na contingência de ouvir os sacerdotes da Igreja Padre Eustáquio, reverência compreensível. Indicou-se um artista de Mogi, SP, holandês é claro, com quem se fixaram pormenores sobre a missão.

Aí demos conta de que não bastava o corpo propriamente dito, porque era imprescindível construir a cabeça do herói. Em primeiro lugar, teria obrigatoriamente de ser consentânea, em termos de dimensões, com as demais peças de bronze. E mais: com barba ou sem barba?

Buscou-se um modelo, mas se sabia que a cabeça do herói, levada do Rio de Janeiro, no final do século XVIII, para a então Vila Rica e afixada num poste de praça, simplesmente desaparecera. Dever-se-ia apelar para outro meio. Um deles foi o protótipo existente em frente à Câmara dos Deputados na antiga capital. Assim se fez: enquanto se construía a base do monumento por aqui, o escultor desenvolvia o esboço da cabeça em São Paulo. Depois se uniram as partes, para se chegar ao que hoje está exposto em Beagá. O dever estava cumprido, mas se reconhecem as imensas dificuldades para se alcançar o objetivo.
Ao estudioso incansável do tema, Ricardo Giannetti, muito presentemente de crédito seu há a atribuir, porque a cabeça de Joaquim José está cercada de enigma. Um artista se destaca: Leopoldino de Faria, nascido em Campos, RJ. Giannetti registra que foi ele o artista que idealizou e compôs, pela primeira vez, a figura de Tiradentes, em pequeno estudo que figurou na Exposição Geral de Belas Artes, em 1876, no Rio, em pleno curso do Segundo Reinado. Leopoldo o anotou: “Foi muito difícil improvisar na minha palheta as tintas para patentear a vossos olhos a triste verdade histórica. Fiquem, pois, gravados em vossa memória os mártires de 1792, e transmita aos vindouros como dívida sagrada, que no pó dos anos existia olvidada”.

O mesmo dirá com relação a Ricardo Giannetti, que muito fez para recuperar a figura do herói, como nós vemos em praças, museus e exposições. A ele se atribuem outros importantes estudos.


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Por Manoel Hygino - 2/10/2024 08:50:30
Hora de transplante

Manoel Hygino

Está na manchete, em setembro, de um dos jornais diários de Belo Horizonte: “Aumentam os transplantes em Minas Gerais, mas ainda há 8 mil na fila”. Informações que alentam os enfermos que necessitam desse tipo de procedimento cirúrgico e, simultaneamente, atiram uma pá de cal sobre a expectativa, porque a demanda é, em realidade, grande.

No entanto, a extensão da fila constitui uma demonstração inequívoca da confiança que a população hoje deposita no sistema de saúde brasileiro, em competentes médicos e demais profissionais da área. Não estamos mais no tempo daquele cirurgião inglês que ganhou natural projeção internacional ao fazer um transplante de coração na África do Sul. Ainda bem.

O médico Omar Lopes Cançado, diretor do MG Transplantes, que pertence à Fhemig, esclareceu: “No ano passado, nós batemos o recorde histórico de Minas Gerais em termos de doação para transplante. Em 2024, continuamos melhorando, e a nossa expectativa é que cresça cerca de 15%. Mas ainda é um número abaixo do que a gente gostaria, uma vez que as filas de espera ainda são grandes, especialmente para rins e córneas. A única maneira de conseguirmos diminuir essa espera é aumentando o número de doadores, para que possamos salvar mais pessoas que estão esperando”, explica Omar Lopes Cançado, diretor do MG Transplantes, que pertence à Fhemig.

E a histórica Santa Casa, com sua conhecida e reconhecida competência e solidariedade, está de plantão, principalmente após o SUS, e afiança que fará mais desses procedimentos neste 2024.

Só a Santa Casa BH, hospital de alta complexidade 100% SUS, de janeiro a agosto deste ano foram realizados 233 transplantes – 41 de rim, 30 de fígado, 16 de coração, 91 de medula óssea e 55 de córneas.

O médico Pedro Augusto Macedo, nefrologista e superintendente de Governança Clínica da Santa Casa BH, percebe um aumento no número de procedimentos. Ele considera que é possível melhorar. “Se a gente for olhar os dados do Ministério da Saúde, sobre Minas, vemos que, em relação a 2023, o aumento foi de apenas 4% no primeiro semestre”.

A instituição belo-horizontina de saúde, a primeira da capital, está trabalhando, mantendo-se em plantão permanente. Tem-se de fazer incessantemente a busca ativa de potenciais doadores. Quanto mais rapidamente se vencer esta fase essencial para que os pacientes voltem à vida normal. A Santa Casa BH é o principal hospital transplantador de órgãos de Minas e um dos maiores do Brasil.


87162
Por Manoel Hygino - 1/10/2024 08:49:10
Só perguntando

Manoel Hygino

A Associação Nacional dos Escritores, sediada em Brasília, promove uma série de palestras em seu auditório, desde 2018, seguidas de edição dos textos em livro na série “Quintas Literárias”, que atrai número expressivo de leitores. Na publicação mais recente, referente a 2023, manifesta-se Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, engenheiro que foi senador pelo Distrito Federal, que responde à pergunta: penaria Cabral sobre o território que descobriu, terminando com a voz de Caxias, Nabuco, Deodoro, Rio Branco, Ulysses e Lula. Termina assim: “O governo Lula tem dado provas de boas intenções em relação à proteção ambiental, mas poderia apresentar as metas e as estratégias de um plano de desenvolvimento sustentável: o sistema industrial sintonizado com as tecnologias digitais e com o aproveitamento econômico e social de nossa rica diversidade”.

Proteger as florestas da Amazônia é pagar dívida do passado, agora é preciso dizer como usá-la com respeito, responsabilidade e sustentabilidade para eleger o bem-estar da sociedade brasileira e do mundo.

Não deve ignorar os erros e equívocos de governantes do passado, mas precisa apontar para a unificação do Brasil, social e política, mesmo com desigualdade e discordâncias.

Quando vamos, além do pagamento de dívidas e correção de erros do passado, marchar para o futuro, integrados e como exemplo para o mundo? Como fazer e em que prazo para colocar o Brasil entre os países com eficiência econômica, justiça social, democracia, liberdade, desenvolvimento sustentável, estabilidade monetária, respeitando as regras democráticas?

E agora, qual o rumo para o futuro, em um mundo globalizado, ameaçado pela fragilidade da democracia, a catástrofe das mudanças climáticas, por armas de destruição em massa, pelos riscos das tecnologias sem controle ético, e pelo avanço econômico com tanta desigualdade e pobreza ao ponto de quebrar o sentimento de semelhança entre os seres humanos?

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque sugere: “Grandes problemas atuais são planetários e exigem soluções planetárias, tais como: migração, meio ambiente, pobreza, crimes financeiros e fiscais, circulação de fake news, comércio de órgão e de drogas ilícitas, lavagem de dinheiro, impacto da inteligência artificial. Lidar com esses problemas e projetos não é questão apenas de acordos internacionais entre países, mas de propostas internacionais para o conjunto dos países. Por isto, as decisões de cada país devem considerar os interesses dos outros. A diplomacia que servia para defender os interesses do Brasil contra o resto do mundo, agora deve cuidar também dos desafios da atual civilização-comum, com seus problemas transnacionais”.


87159
Por Manoel Hygino - 28/9/2024 07:22:56
A serviço da lei

Manoel Hygino

O nome de Carlos Mário da Silva Velloso está inserido na história do sistema jurídico brasileiro. Nascido em Entre Rio de Minas, em 1936, fez o ginasial no Colégio Santo Antônio de São João del-Rei, transferindo-se para Belo Horizonte em 1953. Passou pelo vestibular de Filosofia, mas sentiu ou percebeu que seu caminho e destino eram pelo Direito. E tem sido assim ao longo do tempo.

Em 1967, foi nomeado juiz federal no Estado, com a idade mínima à época. Reconhece que a Constituição de 1988 trouxe avanços, fortalecendo o Poder Judiciário e o Ministério Público, graças ao que a Carta se tornou “a mais democrática das Constituições que tivemos”. Devendo ela completar 36 anos em 5 de outubro, constitui motivo de orgulho de todos os que se devotam à lei e à justiça. Ex-professor da PUC-Minas e da UnB, por mais de 30 anos, aposentou-se, Carlos Mário, com mais de três décadas, como titular da UnB.

Embora aposentado na cátedra, Carlos Mário da Silva Velloso permanece em plena atividade em seu escritório de advocacia, cuja atuação se estende a todos os estados, à mercê do prestígio pessoal e do bom nome de seus colegas. Ele não vê problema com a judicialização do Brasil, pois a existência de 80 mil processos demonstra que o cidadão confia na Justiça.

Tudo leva a crer que assim continuará, pois as novas gerações de profissionais estão inteiramente cônscias de sua responsabilidade. Se há tão elevado número de processos, o que se deve fazer é ampliar o número de juízes, de modo a corresponder à expectativa e à confiança.

Em sua opinião: “O Ministério Público, com a Polícia Federal e Receita Federal, enfrentaram e investigaram a maior corrupção na administração pública brasileira, resultando em condenações. Casos e mais casos, com confissões e delações de dirigentes de empresas estatais e de servidores públicos e autoridades, com devolução de dinheiro aos cofres públicos, isto é, às vítimas, foram noticiados pela imprensa. A sociedade não se esquece e não pode se esquecer de tudo isto. De modo que vejo na operação que acabou denominada de ‘Lava-jato’, porque se iniciou num posto de combustíveis, em Brasília, algo muito positivo”.

O ilustre jurista é membro da Academia Mineira de Letras, mas também da Academia Brasileira de Letras e da Academia Internacional de Direito e Economia. Para ele, é de se realçar o Brasil ter cerca de 1.300 faculdades de Direito, número maior que de todas as congêneres do mundo ocidental. E na Mineira de Letras, já estão o desembargador José Fernandes, filho, e o ex-ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel.


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Por Manoel Hygino - 25/9/2024 09:35:07
O pleito municipal

Manoel Hygino

No turbilhão de opiniões e frases de efeito que se ouvem neste ciclo eleitoral, em que também se manifestam candidatos dos partidos sobre as dificuldades e problemas que avassalam o país de ponta a ponta, movidos por interesses inúmeros e nem sempre confessáveis, é grato saber que nem tudo está irremediavelmente perdido, ao sentir o calor e a sinceridade de brasileiros alçados a posições relevantes.

É o que se pode avaliar das palavras da ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TRE), que tem a grave responsabilidade de comandar o pleito do mês que vem. Em palestra na Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC), ela teceu considerações valiosas sobre a hora que vivemos, quando atormentados pela inclemência do clima e pela insanidade de alguns homens por aqui nascidos e realizados.

Após analisar a situação da mulher, pobre e desamparada dos poderes públicos, durante decênios, ela lembra a proibição de estudar dessa parte da população, situação não completamente superada ou equacionada.

Observou: “as tecnologias propiciaram outra forma de algemar as liberdades, induzindo pessoas a pensar o que não pensaram por conta própria, através de mentiras e desinformações. Às vezes, sinto que estamos saindo da Idade Média para a Idade Mídia, com pouca liberdade sendo oferecida”. Para a ministra, este é o “desafio de nosso tempo”, gravíssimo.

Evocou o ministro Sepúlveda Pertence ao julgar que as “eleições gerais são um passado, porque o problema são as municipais”. E explicou porque: “Não se brigava, não se matava, não tinha inimizade por causa de um presidente da República, de um candidato; mas é comum na história brasileira, infelizmente, que haja muita agressão e até violência, como nós estamos vendo atualmente, por causa do vizinho, que é seu compadre, candidato a vereador, e agora estão falando mal dele”.

Pelo que se tem, visto e conferido, para isso estão aí as rádios e televisões, assim as acusações e diatribes não se resumem as palavras. Tem-se visto de norte a sul, nos lugarejos e capitais.


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Por Manoel Hygino - 21/9/2024 07:03:28
Evocando o Serro

Manoel Hygino

As primeiras vilas surgiram em 1711: do Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, Vila Rica, hoje Ouro Preto; Vila Real de Sabará. Em 1713, Vila de São João del-Rei; em 1714, Vila da Rainha, hoje Caeté; Vila do Príncipe, hoje Serro. Este recebeu terras de Sabará, que compreendiam todo o Norte da Capitania de Minas e São Paulo, com sede na Vila do Ribeirão do Carmo, como reconhecida em 1720 pela metrópole.

Pois, foi lá, no Serro de vultos insignes de Minas, que nasceu o filho de um imigrante italiano Pignataro, que – tão logo pôde – mudou o nome para João Pinheiro, brasileiro como ele pretendia ser desde que a família para a nação sul-americana se transferira.

Inquieto, não se acomodou onde lhe serviu de berço. Escapou a São Paulo e lá se diplomou em Direito, em 1887, na mais celebrada faculdade brasileira, no largo de São Francisco. De volta a Minas, tornou-se o principal chefe da propaganda republicana. Fundou o Partido e dirigiu o jornal “O Movimento”.

Passou à frente. Após exercer a presidência interinamente e por curto período, elegeu-se deputado à Constituinte de 1890/1891, deixando a política em 1893 para se dedicar a atividades industriais. Em 1905, elegeu-se senador e, em seguida, presidente do Estado, em 1906, faleceu em meio ao mandato.

Aristóteles Ateniense, de saudosa memória, num 16 de novembro, data de aniversário de João Pinheiro, fez um discurso em sua homenagem, evocando a seguinte reflexão em uma das paredes do sóbrio gabinete do chefe do Executivo estadual: “Amo a luta com vertigem. Gosto das dificuldades que desafiam a minha atividade. Sou fanático dos grandes obstáculos que exigem esforços supremos. O imprevisto me deslumbra e a necessidade das grandes ocasiões me fascina”.

No programa de governo de João Pinheiro, contudo, há mais que vale ser lembrado: “A escrupulosa gestão dos dinheiros públicos, a interna obediência às leis, o máximo respeito às liberdades do cidadão, o acatamento aos reclamos da opinião pública, a livre manifestação das urnas - são os fatores saudáveis onde o coração republicano bebe força e alento, para ser digno dos princípios que professa do ideal que ama. Com eles e por eles, o mais obscuro filho da livre terra de Minas Gerais apresenta-se às urnas com a alma cheia dos santos pensamentos, de cujas tradições de seu país e de seu glorioso destino”.

Outubro se aproxima. O sentimento de João Pinheiro, mineiro do Serro é perfeitamente válido. Não podemos repetir uma nação ao Norte, sofrendo os males antidemocráticos e os vícios da usurpação do poder.


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Por Manoel Hygino - 18/9/2024 08:48:57
Preparando 2026

Manoel Hygino

Contam-se quase nos dedos os dias que faltam para chegar as eleições municipais. Há uma intensa rede de pesquisas patrocinadas pelos partidos e seus candidatos para se conhecer os problemas e solução de mais demandas. Enfim, é um meio para chegar a amplas parcelas da comunidade e auscultá-las sobre suas necessidades. No entanto, a resposta não é das mais difíceis. Ela está nos buracos nas vias públicas, na dor que invade os lares e exige que o sistema de Saúde a solucione em curto prazo, no transporte coletivo que é dos mais críticos pelos que precisam de locomoção em cidades que não param.

E nem falamos em educação e segurança. Mas, segundo o jornalista e professor Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, Lula está atento às idades dos competidores

Até o fim de agosto, eram 20 candidatos a prefeito municipal com mais de 100 anos. Acima dos 80 anos, autodeclarados, estão registrados candidatos com 87, 88, 96, 98 e suspeitos de mais de 100 anos. D. Salomé (Podemos), uma vovó saudável distinta de 92 anos, é candidata à prefeitura de Santa Cruz de Palmeiras, em São Paulo. Ainda entre paulistas, no município de Tanabi, d. Zulmira Miziara (96) quer demonstrar suas qualidades políticas adquiridas na militância passada do PCdoB. Supostamente, as portas do TSE estarão abertas para Lula, em 2026, quando ele estará completando 80 anos. O grande impasse poderá vir das minorias ativas e conscientes que estão chegando lentamente lá.

Mas há um mundão de dinheiro em jogo e as pessoas se informam pelo noticiário político pensando no que sairá do bolso do cidadão para o pleito deste ano.

Somados, desde a última eleição municipal, chega a R$ 80 bilhões o montante destinado via emendas parlamentares para os prefeitos dos 5.560 municípios brasileiros, e que serviram para alavancar as pretensões de reeleição de 2.873 prefeitos em exercício, alguns dos quais com contas pendentes nos órgãos de fiscalização do Estado. Foram valores (R$ 83 milhões, R$ 25 milhões...) elevados e variáveis destinados a um ou outro município, expondo uma dosimetria assimétrica invisível no destino desses recursos.

Esse dinheiro é sacado do cofre do Tesouro, via no Orçamento da União, rubricado como “emenda parlamentar”- senador e deputado - cujos valores, em sua maior parte, é transferido aos municípios, consequentemente aos prefeitos, pelo modelo “PIX”, em que o político padrinho da remessa faz o saque e a envia pessoalmente, sem a necessidade de dar explicações sobre a sua utilização. O Supremo Tribunal Federal despertou para o processo, considerando-o de “baixa transparência”. Mas ele está ainda presente. É difícil passar por cima das maquininhas trituradoras do dinheiro público.


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Por Manoel Hygino - 14/9/2024 07:09:21
Olhando o cérebro

Manoel Hygino

Belo Horizonte sediará, neste setembro, o XXXV Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, o que constitui marco expressivo para a medicina. Em registro histórico, a escolha se fez por ser a Santa Casa BH o maior hospital do país em número de internações, o que lhe concedeu a oportunidade de ser a primeira instituição no gênero a utilizar o revolucionário microscópio cirúrgico digital Aesculap Aeos, tecnologia de ponta destinada a transformar a neurocirurgia, elevando ao máximo o padrão de excelência em atendimento.

O equipamento, que chegou à Santa Casa BH - hospital de alta complexidade 100% SUS - no mês passado, foi utilizado durante agosto permitindo a equipe médica da instituição realizar procedimentos pioneiros com a tecnologia inovadora. O Aesculap Aeos substitui a óptica tradicional do microscópio, em que o cirurgião precisa olhar diretamente pela lente, por exibição 3D em telão. Essa exoscopia, como é chamada pela fabricante, revoluciona a forma como as neurocirurgias são realizadas. Proporciona-se uma visualização detalhada e precisa do campo operatório, o que resulta em mais segurança e eficácia nos procedimentos.

Além disso, o microscópio proporciona mais conforto para o cirurgião, que não precisa manter cabeça e pescoço tensos no intuito de permitir a visão binocular e, principalmente, exibe uma visão de cada passo do procedimento cirúrgico. Este é exposto para toda a equipe na sala de cirurgia, tornando consequentemente, o equipamento de magnificação óptica ideal, segundo a gerente de produtos Neurocirurgia Aesculap da B. Braun, Aline Yoritomi.

A Santa Casa BH foi escolhida como pioneira no uso da tecnologia devido à excelência e relevância como uma das instituições de saúde mais importantes do país. Além disso, a parceria com os renomados neurocirurgiões da instituição, Dr. Bruno Costa, que presidirá o congresso, e Dr. Marcos Dellaretti que reforçou essa decisão. “O objetivo é permitir que os médicos da Santa Casa BH realizem procedimentos com essa nova tecnologia antes do grande lançamento, apresentando-a em primeira mão".

O Dr. Marcos Dellaretti relata que o treinamento para utilização do equipamento foi muito tranquilo. “A adaptação da equipe da Santa Casa BH ao microscópio foi rápida e intuitiva. Utilizamos o microscópio Aesculap Aeos em 16 procedimentos, e a expectativa é de que, até final do mês, realizamos entre 20 e 30 cirurgias com essa nova tecnologia. O equipamento se mostrou eficaz especialmente em microcirurgias, o que amplia consideravelmente nossas possibilidades de tratamento", ressalta o neurocirurgião.


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Por Manoel Hygino - 11/9/2024 07:57:31
Firme hora de agir

Manoel Hygino

É comovente a disposição de milhares de candidatos a prefeito e vereadores no pleito do mês que vem, desdobrando-se por meios múltiplos a contribuir ou resolver os problemas inúmeros, às vezes dificílimos, de seus municípios. No último 16 de agosto, começou oficialmente a campanha eleitoral, embora ponderável parcela se esforçasse, subreticiamente ou não, para conquistar votos em outubro, antes do período legal.

Já extinguira um valor destinado a colimado fim. Eram R$ 2 bilhões, formando o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, instituído por força de lei. Aylê-Salassié Figueiras Quintão, jornalista e professor em Brasília observou que esse montante, se aplicado em Saúde, seria suficiente para construir 200 hospitais. É incontestavelmente, um valor expressivo, sobretudo quando estamos com um mundão de outros problemas a resolver e de saldos negativos a pagar.

Wilson Campos, advogado especializado com atuação em direito tributário, trabalhista, cível e ambiental, comentou: “A dívida pública brasileira chega a R$ 7,7 trilhões e deve aumentar até o fim de 2024. O governo federal gasta muito e gasta demais: a dívida do setor público, que engloba governo federal, estaduais e municipais e empresas públicas, já atingiu R$ 8,5 trilhões. Isso significa parcela do Produto Interno Bruto. A continuar assim, a dívida significativa e se torna impagável e o país vai quebrar. Enquanto isso, placidamente nos deparamos com um país inteiro de cócoras, com o queixo nos joelhos.

O próprio causídico considera que já está passando da hora de se adotar uma posição séria diante de uma situação séria, grave e agravante. Para ele, diante do preocupante cenário, “resta exigir que o país inteiro saia da posição de cócoras, levante-se e reaja, retorne o crescimento, cuide do meio ambiente, reduza a desigualdade, realize com justiça as reformas tributária e administrativa, tire o SUS da UTI financeira, incentive o agronegócio, invista em infraestrutura, reduza o déficit educacional, acabe com a queda de braços entre Executivo, Legislativo e Judiciário e reequilibre os Poderes da República, como cada um na sua respectiva função”.



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Por Manoel Hygino - 4/9/2024 09:05:02
Um aviso apocalíptico

Manoel Hygino

Os que viverem depois de agosto não esquecerão os incêndios que dominaram grande parte do território de vários estados no oitavo mês do ano de 2024. A propagação das chamas no período terá - as estatísticas oficiais confirmarão - alcançado os mais longos períodos e as maiores extensões de nossa história.

Não se tem, por motivos óbvios, uma ideia segura dos grandes prejuízos causados a nossa reserva natural, nem à fauna, em limites possivelmente jamais calculáveis. Se autoridades já medem, sim, os danos à produção agropecuária, inúmeros são os cultivadores da terra que sofrerão, e sofrendo já estão, com a destruição de suas áreas de produção.

Cidades de maior expressão populacional foram atingidas ou ameaçadas, os riscos e danos chegaram às capitais, numa inequívoca demonstração do mal a que estão sujeitas as metrópoles, a despeito de disporem de melhores condições de defesa do patrimônio público ou privado. Uma lástima!

No entanto, outra ameaça ronda o planeta e a humanidade, com o aumento do nível dos oceanos, impulsionado pelo o aquecimento em seu ritmo cada vez mais acelerado. O aumento das águas já se sente e se teme, com números e novas informações de entidades técnicas de prestígio e competência indiscutíveis.

A própria ONU se sentiu no dever de alertar as populações nacionais para os riscos que se avultam. Eles conduziram ao alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres, que adverte para “um SOS para o aumento do nível do mar”. No aviso prévio, incluem-se os estados –membros do G20, integrado pelas vinte maiores economias do mundo.

A organização internacional chama a atenção que a ameaça se estende a quase 11 por cento da população mundial, cerca de 900 milhões de pessoas, número projetado para superar um bilhão até 2050.

Está em jogo o futuro da humanidade.

As tragédias anunciadas não constituem um jogo de palavras e de ideias mal concatenadas. Os incêndios desastrosos e o crescimento do volume das águas oceânicas são uma cruel realidade indispensável, porém, é a demonstração sobre o panorama- que se adjetivou de apocalíptico - abrangendo o planeta e as gerações que se estão formando.


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Por Manoel Hygino - 28/8/2024 09:50:25
A dívida de Minas

Manoel Hygino

É manchete quase todos os dias na imprensa de Minas Gerais: A dívida do estado chegou a R$ 165 bilhões e tem exigido esforços inauditos de todos os segmentos sérios da administração pública. Avultam as perguntas, a primeira das quais – como pagar?

Em julho, o estado entrou com medida no Supremo Tribunal Federal para assegurar prorrogação do prazo de homologação do seu Regime de Recuperação Fiscal, aliás deferido pelo ministro Nunes Marques. O novo prazo ficou estabelecido para 28 de agosto. Entretanto, o caso mudou novamente. O senado aprovou, por 70 votos a dois, o projeto de Lei Complementar 121/2024, do senador Rodrigo Pacheco, que cria um novo programa de renegociação de dívidas entre estados, Distrito Federal e União. O Propag - Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados.

À primeira vista, algo de bom: os estados poderão quitar as dívidas e somam mais de R$765 bilhões em até 30 anos, com juros reduzidos e transferindo ativos para a União, como forma de pagamento. A bola foi transferida à Câmara dos Deputados. No entanto, restam sempre indagações pertinentes, mais uma vez. A principal, que sempre intrigou os brasileiros de todos os estados, é a que a economista Eulália Alvarenga, especialista em dívida e gestão pública, tem formulado, sem nenhuma explicação ou argumento válido contrário: “Por que a União cobra juros, e elevados, dos estados, se ela não é banco? ”.

Minas é um dos entes mais endividados devido às desonerações da Lei Kandir, aprovada em 1996, que impôs aos estados, principalmente aos exportadores de produtos primários e semielaborados (minérios e agropecuária), a desoneração do ICMS as exportações de tais produtos para resolver um problema conjuntural (balança comercial e câmbio) do país, com a promessa de ressarcir futuramente os estados pela perda. “Mas esse ressarcimento não veio, o que impactou negativamente as contas e impediu a amortização da dívida”.

Segundo ela, até 2015, Minas perdeu R$135 bilhões com a Lei Kandir, valor próximo da dívida atual divulgada pelo estado. Poderia, segundo ela, ter sido feito um acerto de contas dessas dívidas, mas o estado assinou em 2020 um acordo com a União para pôr fim à disputa judicial em torno da Lei Kandir em troca de receber R$8,7 bilhões até 2037. Em resumo: “Essa dívida nem poderia existir. Ela já foi paga há muito tempo”.


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Por Manoel Hygino - 21/8/2024 09:14:19
Manoel Hygino:

Greta Garbo

Enganam-se, ou pecam por má fé, ou desconhecimento da realidade os que subestimam a importância dos grandes cronistas que produzem hoje para veículos de comunicação. O século XX e o que ora vivemos têm sido pródigos em valores que não se pode desprezar. Em verdade, o surgimento de novos instrumentos para tornar publicas ideias, pensamentos, juízos e sentimentos causou novas maneiras de expressão e novos contingentes de leitores ou interessados no que acontece se dizem atentos aos fatos e consequências. O mundo mudou muitíssimo nessa área de convivência humana. Novos autores entraram em cena e ganharam lugar ao sol.

Sempre se lembra de Machado, que permanece atual em opiniões e considerações. Mas, no século do fundador da Academia existiram numerosos autores que merecem distinção e atenção. Foram também bons e suscitam interesse que se deram ao cuidado e prazer da leitura de seus textos, dignos de aplausos da população que surgiu após seu tempo.

Neste vigésimo-quarto ano do século que caminha para sua metade posso afiançar que, entre os cronistas maiores do Brasil, presentemente, estão dois que escolheram a capital federal para residir. Ambos não nasceram ali. Um é de Minas Gerais, tendo berço da primeira vila, cidade e capital dos montanheses. Foi em Mariana que ingressou na vida, Danilo Gomes, cavalheiro que ama o Brasil e os brasileiros, jornalista que pertenceu ao Palácio do Catete e se transferiu para Brasília, quando JK a inventou; e Edmilson Caminha, cearense de Fortaleza e que acaba de lançar pela Vitalia Editores, “Greta Garbo”, quem diria, não morreu em Araxá”, com recentes artigos e crônicas.

São 30 temas formando a publicação com que se assinala o quadragésimo aniversário do primeiro artigo de Edmilson Caminha, quando tinga 12 anos, fazia a primeira série do ensino médio do Ginásio 7 de Setembro, em sua cidade natal. Escrevera-o a mão, em folha de caderno, pedindo ao pai para entregar na portaria do jornal.

Hoje, consagrado nacionalmente, como Danilo, Edmilson passou pelos três maiores meios de comunicação modernos, se fascina com a máquina de escrever e o desafio do texto, excelente como os deste volume, confirmador de elogios que a crítica, feito por outras obras. Vale a pena ler e conhecer o “Greta Garbo”!


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Por Manoel Hygino - 14/8/2024 08:49:40
Na América Central

Manoel Hygino

Com menos de 1 milhão de metros quadrados e mais de 30 milhões de habitantes, a Venezuela se torna a bola da vez das preocupações neste pedaço de tempo em que as nações latino-americanas entram em conflito interno em busca de solução para problemas que não são de hoje. Ademais, a briga pelo poder na América Central ganha atenção do mundo, dizendo que a questão da paz e da guerra não se cinge ao Oriente ou aos embates históricos da Rússia com seus vizinhos.

Na Venezuela, após a eleição de julho, Maduro - que poderia já ter caído da árvore nacional pelos quase 12 anos de regime imposto à população - persiste na sua voracidade por mais meia dúzia em novo mandato. Não importa que a oposição tenha outra versão. É indispensável manter a cadeira presidencial - com fins perfeitamente conhecidos da comunidade internacional.

Agora é a vez da Nicarágua, o maior país da América Central, com seus menos de 132 mil quilômetros, esforça-se, por um regime não democrático que se estende por dezenas de anos. A despeito da vontade popular, a nação permanece em ebulição, depois de 30 anos de gestão de Anastasio Somoza, substituído em família - de sangue e interesses escusos. Assassinatos se sucedem, o povo sofre e a luta interna não impede que os sandinistas façam intervenções em El Salvador.

O presidente, em nome de uma suposta paz regional, entra em cena, em meio aos percalços de intermediação no caso venezuelano. O presidente Daniel Ortega decidiu expulsar o embaixador brasileiro em Manágua, por não ter comparecido a comemorações da Revolução Sandinista na qual ele foi guerrilheiro.

A coisa não andava boa desde que as relações entre Brasília e Manágua entraram em colapso, em 2022, quando da prisão de bispos, e padres católicos pelo regime, o que levara ao congelamento das relações diplomáticas. O não comparecimento do diplomata Breno Souza da Costa, representante brasileiro na Nicarágua, foi considerado ato hostil.

O assunto não morreu aí. O Brasil, a sua vez, de expulsar a embaixadora nicaraguense Fulvia Patrícia Castro, que imediatamente arrumou as malas e regressou a Manágua. O governo brasileiro resolveu interromper as relações por um ano. Nos próximos dias, mais capítulos da novela serão mundialmente conhecidos. Quando do episódio envolvendo membros do clero católico, Brasília aceitou intermediar uma solução, mas Ortega se negou até a atender um telefonema de Lula, quando procurou este reforçar um pedido do próprio Pontífice, visando libertação dos presos.


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Por Manoel Hygino - 7/8/2024 09:35:02
Atentado à democracia

Manoel Hygino

O que escrevemos, principalmente para os periódicos do dia seguinte, enfrentamos dificuldades notórias para manter atualizadas as informações destinadas ao público, como no atual caso da Venezuela. Os acontecimentos evoluem em alta velocidade, enfrentando óbices de toda natureza para que conduzam a verdade. É a pior vantagem de que gozam os veículos eletrônicos que conquistaram milhões de pessoas em todo o planeta, acompanhando em tempo real os fatos.

No caso específico, o que se pode afirmar é que aquela nação vem enfrentando manifestações em todo seu território contra Maduro e seu governo, há anos, como se sabe, em que a oposição consiga vencer os obstáculos transmitidos por rádio, televisão, internet e redes sociais.

Desde Hugo Chávez, antecessor de Maduro, a situação luta pela aprovação de emenda constitucional que possibilitaria eleições sem limites de tempo para presidente, governador e prefeitos, tese muito conveniente para quem já ocupa a cadeira.

Como nos períodos pré-eleitorais anteriores, a oposição se ergue contra desde 2009. Os integrantes desse grupo, embora não muito coeso, estão dispostos a enfrentar a máquina governamental, principalmente representada pelas forças armadas e, milicianos em longa escala. O presidente chegou a admitir um banho de sangue nas ruas das principais cidades e nos seus conglomerados pobres, o que mais atemoriza a população, a que quase tudo falta mesmo à sobrevivência.

O Maduro insiste em mais seis anos de mandato, já que o segundo, o atual, exauriu-se. O órgão eleitoral anuncia a maioria governamental em julho passado; a oposição contesta com oficial apoio de nações democráticas; a imprensa nacional silencia, porque está sob severa censura.

Meio mês transcorrido da eleição, desde o princípio estigmatizada por suspeita de se falsear a vontade popular, o problema permanece à espera da solução, visto que o governo estabelecido não abre mão de fixar-se no poder por mais seis anos, desaquecendo a esperança e o otimismo em torno do rumo democrático, impregnado pela cultura da liberdade, pela integração latino-americana, para servir bem à modernização e ao progresso com a geral pacificação do hemisfério.



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Por Manoel Hygino - 31/7/2024 09:39:14
Outra vez Venezuela

Manoel Hygino

Transcorridas as primeiras horas e os dias pós-eleições na Venezuela, ficaram as perguntas que naturalmente surgiriam, considerado o ambiente no país. Afinal, quem venceu e quem perdeu? O Conselho Nacional Eleitoral informava que Nicolás Maduro, presidente em exercício, alcançara 51,2% dos votos; Maria Corina Machado, líder da oposição (que não chegara sequer a ser candidata), dava sua versão: Edmundo González, do outro lado do pódio obtivera 70%.

Corina Machado não titubeou: afirmou possuir informações e atas que comprovam a vitória de González, mas o resultado oficial impõe a recondução de Maduro para mais seis anos de mandato, de janeiro de 2025 a janeiro de 2031, ainda que em meio a críticas internacionais sobre a legitimidade do processo.

O mundo, que observa a situação na Venezuela desde a época de Hugo Chavez de antemão achava que o pleito era jogo de cartas marcadas. Mas há muitos e muitos anos, vinha sendo assim e se admitia, quem sabe? – que desta vez, a situação seria outra e a oposição poderia achar caminho.

Aliado, o presidente da Bolívia, Luis Arce, parabenizou Maduro e celebrou a “vontade do povo”. O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu uma auditoria dos resultados. O presidente do Chile, Gabriel Boric, declarou que seu país não reconhecerá resultados não verificáveis; a China, como se esperava, felicitou Maduro e destacou a parceria estratégica.

Costa Rica e Estados Unidos expressaram preocupações sobre a transparência do processo eleitoral e o secretário de Estado do Tio Sam enfatizou a necessidade de uma contagem honesta e transparente de votos.

Curiosa a posição do Chile, cujo presidente é socialista: “É difícil crer nos números anunciados por Caracas”. Ele exige transparência no processo de apuração dos votos e a participação de observadores internacionais “não comprometidos com o governo”, terminando por afirmar que seu país “não reconhecerá resultados não verificáveis”.

Venezuelanos em Brasília manifestaram desejo de mudança com as eleições. Entre eles, o jornalista Manuel Quilarque, que viajou de São Paulo à capital federal, para depositar seu voto. Declarou: “Estamos muito esperançosos para recuperar a liberdade em nosso país”.

No Brasil, onde vivem cerca de 500 mil venezuelanos, apenas 1.059 conseguiram registro. A advogada Paula Marcondes não depositou seu voto em urna e sonhou: “A minha expectativa é que, finalmente, depois de 24 anos, a gente consiga mudar alguma coisa para melhor”. Mas tudo ainda é duvidoso e tenso.



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Por Manoel Hygino - 27/7/2024 08:00:10
Fim do tempo

Manoel Hygino

Falam mal da Imprensa. Mas se não fosse ela, estaríamos muito pior sob múltiplos aspectos, seja na convenção partidária na Venezuela, por exemplo, seja na movimentação política visando ao pleito municipal de outubro no Brasil, em qualquer parte do mundo, e em todas as conjunturas. Sem ela, democracia não existe, o tão comentado estado democrático de Direito não passaria de uma frase... ou de um sonho e esperança.

Faço a observação por ter nascida este ano a Revista da Academia Urucuiana de Letras, sob presidência do advogado e escritor Napoleão Valadares, sempre atento a bem servir aos municípios banhados pelo rio Urucuia, em Minas Gerais, como “um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra”, como registrou Afonso Arinos em escrita imperecível.

Ainda sem chuvas praticamente no ano, amplia-se e se aprofunda o medo de um período triste e mais pobre, como em tempos pretéritos e não esquecidos. Jornal de Belo Horizonte, com reportagens em série, evocando o verbo e a frase perene de Guimarães Rosa, conta a epopeia da resistência da terra e do homem à inclemência da natureza e de desvairada devastação de veredas e campos, antes férteis de riquezas e bondades.

Os repórteres viveram e ouviram sobre a mata e os campos que viraram cinza e ameaçam miséria pelos lados de Paracatu, do Urucuia, do rio das Velhas, do próprio São Francisco, que perde santidade diante de descalabro. Toda a região periga, a todos ameaça e, mais do que tudo, põe em perigo o que sustentou gerações, até a água que menos flui pelos córregos e demais correntes.

O Rio das Velhas, e dos Velhos conheço-o um pouco, e sem suas águas a capital mineira não chegaria ao que chegou e a região metropolitana seria menor e passaria sede, das maiores. O São Francisco, idos períodos, já os vapores encalhavam porque a areia parecia subir do fundo das águas, diminuídas a cada ano e entulhadas de tudo de sujo que vinha das margens, despejo dos que não medem consequências.

O rio maior escorrendo em busca do Atlântico, seus afluentes estão minguados. Corremos riscos a olhos vistos. Tudo padece. Se o poder público não acordar e agir, o porvir será desastroso, pois, até a água agora carrega veneno. Está provado.


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Por Manoel Hygino - 23/7/2024 09:39:30
Tempo de governo

Manoel Hygino

Em minha terra natal, aprendi ainda criança que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. É assim, algo essencial em todo ser humano saber a hora de falar... e a hora de parar. O hoje presidente da República não aprendeu a lição de minha cidade, embora sua primeira esposa lá tenha nascido, para falecer num episódio pouco explorado pelos jornalistas de plantão. O caso caiu no olvido.

O jornalista Acílio Lara Resende, de notório prestígio entre companheiros de profissão e da classe política, entra em cena com outra frase muito útil e oportuna: “O peixe morre é pela boca”, que corresponde à primeira assertiva. Há algum tempo, referi-me aqui à lição inolvidável de história do Brasil como apregoada pelo presidente a respeito da duração de governos brasileiros, não restrito ao do regime instalado em 15 de novembro de 1889.

Para justificar-se ou explicar-se, S. Exa. ensinou “que ninguém esteve mais tempo à frente do Executivo do que ele em seus três mandatos. Observou à nação que o exercício de suas gestões é superior às de Pedro II e Getúlio Vargas”.Ocorre, no entanto, que nosso segundo imperador esteve no trono durante 49 anos, até o fim da monarquia. Quanto a Getúlio, presidiu o Brasil desde 1930, após a Revolução, pois, e até o fim do Estado Novo, quando foi despedido do poder pelos militares, isto é, em 1945; e, eleito pelo voto, assumiu o Catete novamente em 1950 para deixá-lo em 24 de agosto de 1954, após dar fim à vida com um tiro no peito.

É uma simples questão de aritmética, que se aprende ainda no curso primário.

Meses depois de sua declaração primeira, Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista exclusiva à TV Record em que mantém sua versão sobre tempo de governo e reitera os números de sua fala anterior.

Ninguém deve tê-lo advertido do engano ou equívoco, ou ele fez ouvido de mercador, cometendo a gafe novamente.

Antigamente se dizia que “o pior cego é o que não quer ver”. Assim, com a audição. Quem não deseja ouvir - tapa as orelhas com as mãos.


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Por Manoel Hygino - 20/7/2024 07:41:24
O labor literário

Manoel Hygino

O autor é Francisco Chagas Lima e Silva e o livro se publicou no ocaso de 2023. Não obstante, o escritor tem outros trabalhos editados e bem recebidos. Com o texto “Caminhos da Memória”, a presidente emérita da Academia Mineira de Letras Elizabeth Rennó, prefacia o trabalho, a que Jair Leopoldo Raso, da Academia Mineira de Medicina, acrescenta seu justo beneplácito.

A primeira diz que seu preâmbulo é apenas uma síntese sobre o romance, comprovando a excelência do autor, O Buabo, representa o homem e o escritor, pela linguagem, autenticidade, desenvolvimento e humanismo. O segundo observa que, em algum lugar desse complexo Universo, o autor Francisco Chagas Lima e Silva se encontrou com Heráclito de Êfeso e lhe disse que não se banha duas vezes na mesma “Lagoa do velho cercado”.

Mas acontece que o personagem central da história, o dr. Florindo José da Silva, é o alter ego do autor, presente em todas as páginas desde menino e, depois, colando grau em medicina; para honra e glória pessoal, de todos seus familiares e para os moradores do vilarejo distante e desconhecido em que nasceu e ganhou estatura e educação.

Em torno da formatura se desenrola a simples, humana e louvável solenidade em lugar muito próprio, com o diplomando envergando a beca de seda preta da cerimônia. À noite, o baile de sua juventude, já enfeitado com um paletó de linho bege, reformado sob medida pelo alfaiate. Tudo muito simples, mas muito relevante para o diplomando e para os moradores do local.

Francisco Chagas escreve exemplarmente em termos de vernáculo. O vocabulário, amplo e excelentemente eleito, ajuda a construir uma história – ou estória – que dá alegria percorrer nas muitas páginas do romance. O fio da meada conduz à trajetória de um menino do interior que consegue vencer empecilhos e dificuldades e, finalmente, formado em medicina, volta à origem para reencontrar-se. É quando Floriano, o personagem central medita: - Lamento ter perdido um pé de sapato novo, aos quatro anos de idade, no fundo da lagoa.

Como Floriano, Francisco Chagas é médico. Mas se dedica também à pesquisa científica. Ao longo da carreira, tornou-se escritor. E bom.


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Por Manoel Hygino - 17/7/2024 08:39:18
Crueldade flagrante

Manoel Hygino

Formam-se comissões e se promovem reuniões no âmbito legislativo e executivo para conter o desvario, mas permanece a crueldade sobre jovens negras e pardas no Brasil, impactadas pela violência de gênero. Os números que aparecem na Imprensa comumente dando ciência da evolução positiva desse grupo de cidadãos não correspondem à verdadeira situação.

Artistas pardas e negras conseguem alguma situação privilegiada em espetáculos públicos ou em televisão e rádio. Percebem cachês elevados, recebem aplausos em suas apresentações, tornam-se estrelas. Mas são exceções no universo de dificuldades, de até humilhações, para conseguirem um lugar ao sol, no rol das atividades comuns.

No Brasil, as mulheres sofrem toda sorte de infortúnios e são conduzidas a um somatório conhecido de dores para uma sobrevivência, até muitas vezes ainda subumana. As mulheres negras padecem mais duramente, ignominiosamente, se escurece a tez do rosto.

A vulnerabilidade socioeconômica contribui enormemente para submeter esse grupo da espécie humana a toda sorte de padecimento. São pessoas que nascem estigmatizadas, com imensas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, recebendo salários menores e, em consequência, com maior dependência em relação aos parceiros e concorrentes.

Em nosso país, em que tanto já se exaltou a igualdade de direito, sente-se de perto, além de tudo, a influência criminosa do racismo, que não diminui a despeito de tentativas sucessivas nas casas dos três poderes. De modo que não causa surpresa o fato de crianças e adolescentes negras serem vítimas registradas por estupro, totalizando em torno de 40% de pessoas em tais condições, e correspondendo ao dobro da incidência comparativamente às meninas brancas. Não são informações desprovidas de consistência. O quadro integra um painel elaborado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base nos dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.

O levantamento aponta que seis de cada dez registros de estupro no país envolvem meninas com menos de 18 anos e com predomínio de mulheres negras e pardas de todas as faixas etárias vítimas desse tipo de ignomínia. Mais grave ainda: o índice de casos registrados só vem crescendo nos últimos anos.

Como um grande orador romano, pergunta-se: até quando se abusará de nossa paciência ou de nossa indisfarçada omissão?


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Por Manoel Hygino - 13/7/2024 07:01:42
Hamlet entre nós

Manoel Hygino

Em 1965, foi editado em Belo Horizonte um dos meus primeiros livros. Refiro-me a “Considerações sobre Hamlet”, resultado de anos de estudo e pesquisa da obra de Shakespeare e de seu célebre personagem. Inspirara-se o dramaturgo inglês na vida de um príncipe nórdico, cujo pai fora morto pelo próprio irmão, a fim de assumir o trono e o império: como resgatado nas páginas da história por um religioso – Saxo Grammaticus, no século XII.

Se meu trabalho desapareceu na memória dos que o leram, não aconteceu com todo o público. Tanto que ilustre estudioso do assunto, catedrático de universidade no Nordeste do país, recentemente publicou excelente estudo, inspirado em meu livro, sobre uma personalidade marcante da peça do dramaturgo de Stratford.

Não só isso: Hamlet, originalmente encenada em Londres a partir do ocaso do século XIX (em torno de 1596), ainda é uma das peças de teatro mais levadas à cena em palcos de todo o mundo. Tanto que, no finalzinho de junho deste 2024, ela desembarcou em Belo Horizonte com montagem audaciosa, segundo jornal local.

A folha anunciou que “Rodrigo Simas, um rosto conhecido da televisão brasileira, chegava a Belo Horizonte com o monólogo “Prazer, Hamlet”, espetáculo escrito e dirigido por Ciro Barcelos”. Explica-se: “A peça é uma adaptação contemporânea do clássico de William Shakespeare, que mergulha nos dilemas e prazeres ocultos do personagem Hamlet”. Não assisti à peça no Sesc Palladium, nos dois últimos dias do sexto mês, ainda que se anunciasse a peça, “com sua abordagem inovadora e subversiva”, prometendo ressoar com dramaturgos, estudantes de teatro e sociologia”, oferecendo uma experiência teatral única e provocativa, embora o simples fato de ser um “Shakespeare” já fosse um convite no mínimo razoável”.

Simplesmente por ser algo da criação genial do dramaturgo inglês, constituiria um acontecimento para a capital bem mais “novinha” do que a Londres em que a peça se encenara pela primeira vez. E também por se tratar de um personagem novo, imaginado pelo autor Ciro Barcelos para interpretação de Rodrigo Simas.

De todo modo, uma bela oportunidade para a capital mineira ingressar ou enaltecer uma das mais comoventes tragédias do gênio de Stratford, que forneceu à língua inglesa o maior número de expressões de uso comum e inspirou várias dezenas de títulos e temas não propriamente ligados ao conteúdo da peça, como disse o escritor José Guimarães Alves, apresentador de meu livro.

Conclui-se, com orgulho, Hamlet permanece vivo e poderoso depois de 400 anos de sua estreia. A capital de Minas substitui a dos ingleses.


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Por Manoel Hygino - 6/7/2024 07:17:02
Adélia soma prêmios

Manoel Hygino

Nome, Divinópolis. O topônimo significa cidade do Divino e recebeu o nome atual em 1912. Mas é um núcleo dos mais importantes de Minas: de centro ferroviário, sede de indústrias, de comércio forte, de muito que é bom existente em Minas. A hidrelétrica de Gafanhoto, instalada no Governo de Valadares, rica por lá, um ambiente paradisíaco.

Mas José Luciano Pereira, nascido lá, empresário, autor de dois livros de crônicas, que me fez a doação de um exemplar com a obra completa da Adélia Prado, comenta que, no auge do rock`n roll, nem tudo que aparecia lá era bem aceito imediatamente. “Nossa Divinópolis, apesar de cidade progressista, sempre guardou para si a tradição das famílias, quanto aos bons costumes, muitas vezes arraigados em preconceitos”.

Adélia recebeu, faz pouco, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, a mais importante honraria da instituição. Estava festejando, à altura de seus 88 anos, a distinção, quando se soube vencedora do Prêmio Camões, 1924, o que equivale a 100 mil euros, segundo o Ministério de Cultura de Portugal.

É a primeira mineira a vencer a fascinante premiação, já que os anteriores eram homens: Autran Dourado, Rubem Fonseca e Salviano Santiago. Professora, filósofa, romancista, Adélia é autora de uma obra muito original ao longo de décadas e sua poesia, na apreciação de Marcos Luchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, é lírica, metafísica, amorosa e existencial, antiga e moderna, um dos nomes mais importantes da língua portuguesa”.

Em “Bagagem”, a escritora confessa: “Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia, sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia”. O estilo é inconfundível, alerta Augusto Massi.

E pergunta: “A sexualidade, debatida nos divãs dos psicanalistas ou em programas de televisão, pode correr solta pela carne e pela imaginação de uma mineira casada, quarentona, mãe de cinco filhos”?

O catolicismo também gerava certo incômodo e era visto com desconfiança por quem havia mergulhado de cabeça na militância dos anos rebeldes, mas Adélia Prado desarmou a todos. A própria escritora revela que a sua primeira aproximação da experiência poética se deu quando descobriu que São Francisco de Assis escrevia, cantava e tocava banjo. “Mas é este santo que eu quero”, desabafou.

Ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares não deixa passar oportunidade e não emudeceu: “Ela é irmã do primeiro frade franciscano de Divinópolis, Frei Antônio do Prado. Ela integrou a Ordem Terceira de São Francisco na cidade e Adélia assinava publicações com pseudônimo de Franciscana”.


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Por Manoel Hygino - 4/7/2024 09:37:13
À beira do fogo

Manoel Hygino

Nova estação do ano chegou. Desta vez, praticamente todos os países se preocupam com o que virá. Vivemos tempos difíceis e o noticiário de toda a imprensa mundial cuida de divulgar e esclarecer causas da hora presente, como a população deve agir para evitar o agravamento da situação. Jornal de Belo Horizonte estampa a manchete: “Maior parte da área atingida por queimadas era de vegetação nativa do Cerrado e da Amazônia”.

Imagem de satélites permitem análise do padrão histórico das ocorrências, mas se aduz que quase ¼ do país pegou fogo ao menos uma vez em 39 anos. Em nosso caso específico, Minas Gerais é o 9º estado em registro de casos. Informação atormentante, mas a que devem dar especial cuidado não só os prefeitos de agora e seus sucessores, mas todo o contingente humano. Todos temos responsabilidade no processo.

O conceituado jornalista Luiz Carlos Azedo titula seu artigo: “Caixa-d’água do Brasil está pegando fogo”. Eis um parágrafo: “O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva”. “Depois das enchentes no Rio Grande do Sul, que se enquadram na categoria dos eventos externos, os incêndios do Pantanal e do Cerrado estão só começando e já são avassaladores”.
Minas tem intensa responsabilidade em tudo. É um dos maiores, tem a maior rede rodoviária, tem enorme população, envolve um complexo avantajado de cerrado e sofre influência climática de outras unidades federativas que podem ampliar seu potencial de destruição pelo fogo. O Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul estão perto e há condições favoráveis à propagação das chamas, sem lembrar que o território é uma espécie de caixa d’água do Sudeste, podendo aliviar ou ampliar a gravidade da situação atual.

Sem pretender atirar culpa e responsabilidade a quem quer que seja, o quadro de Minas é delicado. Os heróis de Guimarães Rosa, ele próprio nascido e criado, na beira do cerrado, devem estar inseguros e inquietos. Li numa folha: “O cerrado perdeu 1,11 milhões de Hectares de vegetação nativa em 2023, um aumento de 67,7% em relação a 2022 (662.186 hectares), conforme o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pelo MapBiomas”.

O veterano Luiz Carlos completou o raciocínio: “O Cerrado abriga nascentes de nove das 12 principais bacias hidrográficas do país e que contribuem para cursos hídricos de países vizinhos, como Rio do Prata, e essenciais ao agronegócio e à vida humana. A supressão da vegetação compromete a perenidade dessas fontes de água potável, dos rios e dos lagos”.


87112
Por Manoel Hygino - 2/7/2024 08:37:26
O Ministério Público

Manoel Hygino

A palavra é repetida, inúmeras vezes, nos tribunais, nas manifestações de rua, em todos os lugares do país, como um apelo de salvação: Justiça, Justiça, Justiça. Grande parte do noticiário pelos meios de comunicação repete o substantivo e páginas inteiras das informações e das entrevistas, dos artigos de fundo – como se dizia antigamente a reitera. Mas, via de regra, só se apela quando algo está falhando.

Aliás, é o que se deduz do discurso do novo procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares Júnior, ao empossar-se na presidência do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais, CNPG. Com sua autoridade, o chefe do Ministério Público mineiro fez uma advertência: a instituição precisa repensar e buscar novas formas de atuar, objetivando “mais resultados do que processos”.

Na solenidade estavam presentes o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, que devem ter sentido a amplidão da lição, válida para todo o poder. Mas Jarbas foi claro e candente, sem ferir. Registrou, em boa hora, que o Ministério Público deve aprender com erros e acertos, que o modus operandi do “prendo e arrebento” ficou para trás, na Operação Lava-Jato em seu apogeu.
Ter-se-á de atuar com “consenso e consciência coletiva”, alertou, pensando no futuro e diferentemente de como se vinha agindo. Acrescentou em seu discurso, ouvido com especial atenção por todos os presentes: “Não pode nos interessar a destruição de biografias, a interferência indevida em processos que não nos dizem respeito, para no final pedir desculpas ou terceirizar nossos fracassos. Neste contexto, não podemos jamais criminalizar a política, ela é matéria de primeira necessidade, como nos ensina o professor Luís Roberto Barroso, ainda mais nesse ambiente de extremos em que vivemos”.

O procurador-geral ressaltou que os “erros” da Lava Jato acenderam no Ministério Público a “necessidade de mudanças de rumo”, e uma grande reflexão sobre o papel da instituição. Jarbas também defendeu a atividade empresarial, respeito ao Congresso Nacional, e destacou que um membro do MP “não pode ser um justiceiro”.

“A inviolabilidade da sua consciência e autonomia, garantidas pela constituição, impõe o dever de ser o primeiro juiz da causa para formar a sua convicção. (...) Este Ministério Público mais lúcido, experiente, maduro, menos impulsivo, mais inteligente, coeso, mais consciente do seu papel no xadrez institucional pensado pelos constituintes, é o que o CNPG buscará consolidar”.


87109
Por Manoel Hygino - 29/6/2024 07:25:15
Conselho de Lincoln

Manoel Hygino

Laudívio Carvalho, norte-mineiro de nascimento e formação, homem de Imprensa e ex-deputado federal, em certo dia publicou em jornal diário de Belo Horizonte uma carta dirigida ao magistério de sua pátria por um presidente da República. A assinatura é de Abraham Lincoln, que governou os EUA entre 1861 e 1866. Nesta hora de gerações nem-nem, de milhares que não trabalham, nem estudam, a lição do líder do país do Norte é muito válida. Leiam comigo:

“Caro professor, o jovem terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.

Ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.

Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis, e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho.

Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor”.

A lição é válida por todo tempo. Lincoln, décimo-sexto presidente dos Estados Unidos, nasceu em Kentucky, em 1809. Morreu assassinado em Washington, em 1865. Era filho de um carpinteiro e agricultor, tendo recebido, em pequena fraquíssima educação escolar, mas era um leitor infatigável, o que muito o ajudou na juventude. Viajando incessantemente pela pátria, conhece bem o problema da escravidão e da escravatura, pondo-se a serviço da luta contra a insidiosa injustiça social e humana.


87107
Por Manoel Hygino - 27/6/2024 08:43:56
Tempos de governo

Manoel Hygino

Luís Inácio Lula da Silva, o presidente da República em que nascemos e habitamos, no dia 6 de junho, em sua quarta viagem ao Rio Grande do Sul após a tragédia das chuvas, enchentes e destruição, cometeu equívocos históricos. Só não os identificou os que tampouco conhecem fatos e datas.

S. Exa. declarou peremptoriamente e à Imprensa, que não dá sossego: “Possivelmente, muita gente me olha e fala: ‘O Lula nem diploma universitário tem’. Só tem três pessoas que têm mais experiência que eu neste país. Dom Pedro, que governou durante 70 anos, até a Proclamação da República. Getúlio Vargas, que fez a Revolução de 1930, ficou até 1945 e depois foi eleito em 1954. Depois dos dois, só eu. Ninguém tem a quantidade de experiência que eu tenho de viver problemas neste país”.

Pedro II esteve à frente dos destinos da nação por exatamente 49 anos, não dos quase 70 mencionados. Estou seguro de que ele gostaria de aproximar-se das sete décadas, o que não lhe foi permitido. A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889 e a monarquia passou a referência.

A princesa Isabel partiu para a Europa com a família real, para exílio na França, onde montou uma embaixada informal no castelo em que morava na Normandia. Ela foi a primeira chefe de Estado das Américas, uma das nove mulheres a governar uma nação durante boa parte do século XIX. Substituiu o pai, Pedro II, três vezes, quando ele se ausentou por motivo de viagens. Foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir de 25 anos de idade, segundo a Constituição do Império, de 1824.

Getúlio se fez presidente em outubro de 1930, quando foi deflagrada a revolução. Em seu diário anotou: “Que nos reservará o futuro incerto neste lance aventuroso?” Mas aquela primeira série de fatos estava vencida. Veio o Estado Novo: 15 anos, até 1945, quando deposto. Anos após, a nova aventura: vencer as forças armadas, muito estimuladas por Lacerda, desta vez pelas urnas. A eleição foi em 1950.

A despedida do governo e da vida se deu em 24 de agosto de 1954, depois de uma última reunião na sala de refeições dos barões de Friburgo, primeiros donos do Catete, transformado em sede da Presidência poucos anos após a Implantação da República. Anos transcorridos depois da implantação da República, Getúlio usava, naquela manhã, terno azul-cinza e olhava cada participante com o tradicional ar enigmático.


87105
Por Manoel Hygino - 22/6/2024 07:37:17
Nava diplomado

Manoel Hygino

Estou escrevendo sobre Pedro Nava, após 13 de maio, que assinalou 40 anos da morte do escritor e médico, no Rio de Janeiro, num banco de rua da Glória, em bairro de mesmo nome. Na Faculdade de Medicina, iniciativa de profissionais interessados numa escola para formação de médicos, a instituição foi inicialmente à Universidade de Minas Gerais, e ela formou Nava numa turma brilhante. Nela, estavam Juscelino, Odilon Berhens, José Maria Figueiró, Pedro Salles, Flávio Marques Lisboa e poucos mais. O grupo, pequeno, dos menores que se formaram no século. E era 1927.

Ingressar na faculdade era difícil, os preparatórios eram longos, exigia-se muito dos candidatos. Um deles foi exatamente Pedro da Silva Nava, nascido em Juiz de Fora, em 5 de junho de 1903, um ano após JK. Foi com muito esforço e sacrifício da mãe, pois o pai falecera quando ele era menino. Custou o juiz-forano ingressar na faculdade, sonho pessoal e de toda a família.

Gosto de referir-me ao assunto. O plano e vontade geral da família era arrumar um meio de chegar à Santa Casa, único hospital na capital jovenzinha. A faculdade assinara um contrato com a filantrópica para os universitários usarem as instalações da casa de saúde.

Juscelino, como Behrens e Pedro Nava, adentrou as enfermarias do estabelecimento. Um projeto realizado, uma glória. Nava muitos anos após, registrou:

“Bom dia, Irmã Madalena. Bom dia! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado tão bom Senhor”.

Nunca nos momentos de maior êxito de minha vida de médico – conquista de várias chefias de serviços, livre docência, duas cátedras, professorado emérito e honoris causa, três academias, sociedades estrangeiras, presidência da sociedade Continental – nunca na minha vida de médico tive a estasia, o orgulho, uma sensação de plenitude que sentia naquele 1926. Quintanista de Medicina! Interno residente da Santa Casa”.

Nava contou o sucesso à mãe doente, acamada. Depois, ela disse: “faço questão de pôr no seu dedo o anel de seu Pai. E ali ela me casou com a profissão e enfiou no anular a aliança cujo aro pertencera ao velho “Doutor Meton, cuja esmeralda fora de meu tio-avô Leonel Jaquaribe e cujos brilhantes seu Pai comprara completando a joia familiar”.



87103
Por Manoel Hygino - 19/6/2024 08:31:43
Vida pela arte

Manoel Hygino

Não sei se os 94 anos de idade me permitirão ir à Academia Mineira de Letras, no número 1.466 da rua da Bahia, para a posse de Ricardo Aleixo, membro da entidade da cadeira 31, cujo antecessor foi o mui caro e respeitável escritor Rui Mourão, que veio ao mundo um ano antes de mim. Estarei presente em espírito e coração.

Sobre o novo acadêmico já se manifestara Jacyntho Lins Brandão, além de um belo número de autores outros. Declarou o presidente da AML: “Ricardo Aleixo é, sem dúvida, uma das vozes mais potentes e originais da poesia contemporânea. Ao aliar o ritmo do corpo ao da fala, obtém resultados de um rigor poético destacável, o que se mostra presente também em sua prosa. Seu ingresso na Academia é por nós todos com alegria celebrado”.

Mas o confrade não estava só. A escritora e acadêmica Maria Esther Maciel estendeu o raciocínio: “Ricardo Aleixo é um dos poetas brasileiros mais inventivos e multidisciplinares da atualidade, com uma obra de notável consciência reconhecida no Brasil e no exterior. Literatura, música, dança, artes visuais e performáticas mesclam-se no rico repertório de práticas criativas do poeta mineiro, potencializadas pelas suas instigantes pesquisas e reflexões sobre as culturas afro-brasileiras e as questões raciais. Ele sabe, como poucos, conjugar estética e política, imaginação e lucidez crítica. Além disso, é professor emérito de universidades brasileiras, com uma bagagem intelectual admirável. Sua eleição para a AML é um grande presente para nós, integrantes da Casa, e para as Letras de Minas Gerais”.

Mas Ricardo Aleixo já viajara para os Estados Unidos a cumprir programa na Universidade de Nova York. Antes de fazê-lo, contou para quem quis saber suas atividades na prosa ficcional, filosofia, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos.

Ainda na infância, Aleixo iniciou sua formação artística como músico. Aos 17 anos, começou a compor, o que marcou seu primeiro contato com a poesia. O livro de estreia, “Festim, um desconcerto de música plástica”, foi publicado em 1992.

Produtor cultural, foi um dos criadores do Festival de Arte Negra (FAM), em 1995, espaço importante voltado para a promoção da diversidade da herança cultural africana.

Ricardo Aleixo lançou 20 livros. Com Modelos Vivos (2010) foi finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti. Com “Antiboi” (2017), ficou entre os finalistas do Prêmio Oceano.

Em 2021, escritor recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de Notório Saber. Professor visitante da Universidade da Bahia (UFBA), é casado com a pesquisadora Natália Alves, vive atualmente em trânsito entre Salvador e Belo Horizonte.


87102
Por Manoel Hygino - 18/6/2024 07:42:44
Um dia glorioso

Manoel Hygino

Os veículos de comunicação, isto é, a imprensa não falhou em 6 de junho deste ano quando se relembrou o Dia D, o de invasão da França ocupada pelos alemães de Hitler, na II Grande Guerra Mundial. Seria, como foi, o de libertação da Europa do jugo nazifascista. O Dia D é um símbolo da derrota das ideias de Hitler e Mussolini, seu aliado no conflito.

A Segunda Grande Guerra, desde setembro de 1939, com todo o seu cortejo de horrores destruindo Nações e deprimindo o mundo civilizado ainda não engajado na fogueira a guerra, era mundial, mas o Brasil só se declararia contra o Eixo em 22 de agosto de 1942, não se julgando então viável sua cooperação militar a não ser mediante policiamento de nossas costas marítimas ou nas escoltas a comboios no Atlântico Sul.

A participação brasileira só se efetivou em 18 de abril de 1943, sem se ouvir o Parlamento. Até então, o Brasil não era uma nação que entraria em guerra, pois apenas um reforço integrado a Tio Sam, colocando-se deliberadamente sob tutela dos EUA. Os franceses estavam praticamente inexistentes até aquela hora, embora lutassem desesperadamente para ter expressão e os soviéticos fugiam à tutela americana.

Os fatos se precipitavam, enquanto as dificuldades se tornavam crescentes na Normandia. Os diversos teatros de operação em que os americanos operavam com uma mobilização superior a 11 milhões de combatentes começavam a dar sinais de esgotamento dos mananciais humanos, quando a mão-de-obra da indústria comprometida com a guerra e o povo norte-americano já se apresentava extremamente sobrecarregado.

De todo modo, havia absoluta certeza de que os Aliados tinham de enfrentar as forças alemãs concentradas na Normandia. E eram efetivos substanciais: 50 mil homens do 7º Exército da linha de frente, com 40 mil nas praias. Mas a ordem era libertar aquele pedaço da Europa na França em momento dramático: 140 mil homens das Forças Aliadas entraram em ação, com 1.200 navios de guerra, 4 mil lanchas de desembarque, mais 1.800 barcos diversos. Os aliados perderam 10.800 vidas, feridos e desaparecidos, enquanto seus 3 mil canhões entraram em cena, além de 27 mil paraquedistas.

Houve o desembarque glorioso como os cinemas e telas de TV de todo o mundo mostraram. Assegurava-se o triunfo sobre os nazistas, possibilitando a vitória final.


87101
Por Manoel Hygino - 15/6/2024 07:06:46
O cão presidencial

Manoel Hygino

José Mário Pereira assina a última capa do novo livro de Pedro Rogério Moreira, mineiro de quatro costados, mas que mora em outros lugares do país há dezenas de anos, presentemente em Brasília, para onde se transferiu desde que ela é capital. Pois na capa da nova publicação da Thesaurus Editora, José Mario Pereira afirma: “O que vale mesmo na vida política é a dimensão humana. Só ela redime o governante das misérias que comece contra o povo. A dimensão humana vale mais do que uma hidrelétrica, mais do que uma rodovia”.

Pois no seu novo livro, Pedro Rogério Moreira explora exatamente a dimensão humana de ilustres brasileiros - ou não - que habitam a metrópole sonhada por JK, tornada terra para gente morar, tanto pobres e humildes, tanto ricos e portentosos. Com o sobejo conhecimento que angariou da cidade-monumento, o autor conquista mais luz solar para sua já extensa produção: agora com “A vida misteriosa dos gatos”, é um exemplo.

Ele lembra que, quando Dilma se mudou, já presidente, para o palácio do Alvorada, levou consigo o cão Nego (com o som do e fechado). Não era novidade, observa Pedro Rogério, porque Lula também levara consigo à residência presidencial a cadela chamada Michele, cujo nome nada tem a ver com a mais recente ex-primeira- dama. O autor observa que não existe nenhum cachorro mais chamado Baleia, Rex, Plutão. Têm nome de gente. Mas a Michele da Dilma ganhou prestígio quando a Kombi da Presidência da República foi flagrada levando uma cachorrinha do Alvorada para a Granja do Torto, onde se encontravam Lula e Dona Maria Letícia numa reunião ministerial.

A mulher do presidente esclareceu que uma arrumadeira do Alvorada explicara que Michele chorava demais quando a sua dona se ausentava. A Imprensa gostou, foi um escândalo enorme. Os repórteres deploraram o transporte concedido à cadelinha. Pedro Rogério argumentou, então, que não é atentado à lei um presidente conviver com seu animal de estimação sob proteção do Estado. “O rigor dos costumes republicanos não pode chegar a tanto. Todos os presidentes dos Estados Unidos levam seus cães para a Casa Branca e eles até voam no Air Force One. O importante é preservar para a família presidencial as mesmas condições de felicidade doméstica desfrutada em sua casa particular. O buraco de onde se esvai o dinheiro do contribuinte é mais embaixo, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil”.

Lembrou-se: no Brasil o primeiro presidente a gostar de um animalzinho desses: o marechal Deodoro era devotado ao Tupi, que não levou para sua residência oficial, porque essa não existia. Deodoro morava numa casa modesta na rua Taylor, na Lapa, passando os últimos dias da vida acariciando o Tupi, a seus pés, sem palácio.


87100
Por Manoel Hygino - 12/6/2024 08:51:01
Fome no Rio

Manoel Hygino

O assassinato da vereadora Marielle passou a fazer parte do noticiário de todos os veículos de comunicação do país. Não poderia ser de outro jeito e maneira, se nossa Imprensa quiser manter credibilidade. Enfim, o óbito se deu faz anos e ficou por isso mesmo, por mais que se esmerassem as autoridades em apontar culpados. Novas frentes de investigação, não tão novas assim, indicam possíveis mandantes do crime no Rio de Janeiro, sempre preparados para festejos, principalmente os carnavalescos ou esportivos. Sem contar, obviamente, os que enchem os fins de semana na periferia, com muita música, som alto, e sexo, é claro.

Mas o Rio de Janeiro não está sozinho, nem no riso, na alegria, nas cores, porque todo o Brasil se tem deixado envolver pela saga da felicidade, embora efêmera e falsa. Exemplo é o próprio caso de Marielle, que – desde o princípio – traz no rol de suspeitos gente de toda respeitabilidade.

Há mais – apesar de tanto riso, tanta alegria, tanto álcool e droga, outros aspectos a se levar em consideração. Os jornais da semana que passou não deixaram de dar ênfase a outra face da vida carioca, além dos milicianos e invasores de terras públicas ou de terceiros. Quero dizer da fome que perpassa a vida carioca. A insegurança alimentar grave é realidade em 7,9% das casas na capital fluminense. Em números redondos, absolutos, são 489 mil pessoas que passam fome. Isto é, quase meio milhão, sem ter comida suficiente no prato.

Os dados são oficiais, inéditos, inseridos no inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro. A verdade verdadeira é que cerca de 2 milhões de cariocas com algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave. O documento mostra a quem desejar que o percentual de fome no município é quase o dobro, se comparado com a informação nacional recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, merecedor de todo respeito.

Segundo o IBGE, conforme pesquisa divulgada em abril, a fome esteve presente em 4,1% das casas brasileiras. No Rio de Janeiro, o percentual é de 3,1% no Estado, mas a situação na capital fluminense é aguda. Claro que varia muito num país desigual como o nosso.

Um detalhe: a fome é maior nos lares chefiados por pessoas negras (9,5%). E há mais: 8,3% das famílias comandadas por mulheres não têm o que comer.


87098
Por Manoel Hygino - 8/6/2024 07:39:32
Os perigos do poder

Manoel Hygino

Eleições cá e lá. Na África do Sul, o partido do grande Mandela perdeu pela primeira vez em trinta anos. Nos Estados Unidos, é extremamente difícil, ou impossível, prever quem será o futuro presidente. No Brasil, mais uma contenda municipal nas urnas em outubro próximo. Pelo voto no décimo mês do ano, poder-se-á adivinhar o nome do futuro chefe do governo, após o terceiro mandato de Luís Inácio. Ou será ele mesmo?

A luta pelo poder encontra raízes na própria história do homem. A geração atual pretende alcançar o poder por vias outras que não as adotadas até aqui? Afinal, o que é o poder? Como chegar a ele?

Há poucos dias, Dom Walmor de Oliveira Azevedo focalizou o tema com sabedoria. O arcebispo metropolitano alerta para problemas do aqui e agora. “O paradigma tecnocrático, fortalecido pela inteligência artificial e outros recentes avanços tecnológicos, vem alimentando a ilusória convicção de que não há limites para o ser humano. Esse paradigma alimenta-se monstruosamente de si próprio, conforme a indicação do Papa Francisco”.

O nosso prelado observa que “pensa-se que a tecnologia pode levar o ser humano ao impossível. Há, pois, uma ideologia na base desse entendimento equivocado quando se pretende aumentar o poder humano para além de tudo o que se possa imaginar”.

Aí, o engano. “Esse entendimento incapacita a humanidade para a indispensável compreensão de que tudo o que existe é uma dádiva que se deve apreciar, valorizar e cultivar, como aliás constitui o ensinamento do Pontífice, acrescentando que não se deve tornar escravo ou vítima dos caprichos da mente humana.

Traduzindo, o que se adverte é para a urgente necessidade de se repensar o modo como se utiliza e se exerce o poder. Quer-se dizer: Nem todo aumento de poder significa progresso para a humanidade, bastando verificar com tecnologias sofisticadas a serviço do extermínio de pessoas. Isso se constata, a cada dia, bastando apenas estar atento aos noticiários dos veículos de comunicação.

O progresso técnico é admirável, mas lastimavelmente carrega no seu reverso inúmeros horrores, pois não são acompanhados de uma irrenunciável responsabilidade. Esse detalhe se há de medir em caso de grandes conflitos ou de uma simples passagem aérea ou subterrânea nas vias públicas.


87096
Por Manoel Hygino - 5/6/2024 08:36:26
Chegando a hora

Manoel Hygino

Aproxima-se a hora de votar. Os candidatos às eleições deste ano ultimam entendimentos e acertos para o 6 de outubro, a data para os dedos apertarem as teclas. É um instante solene e de grande responsabilidade para os que esperam contribuir com sua escolha para seu município corrigir erros e equívocos dos pleitos anteriores.

O estardalhaço em torno dos concorrentes cresce e incomoda. Os eleitores diante da propaganda eleitoral ficam mais confusos e a confusão pode beneficiar alguns e prejudicar outros. Faz parte do jogo, nem sempre muito limpo.

Fiquemos atentos às normas, inclusive quanto à campanha propriamente. As convenções partidárias e registros de candidatura serão de 20 de julho a 5 de agosto, devendo o registro na Justiça Eleitoral ser feito no prazo fixado pelo Tribunal.

Outro problema é a propaganda. Há dez dias entre o registro da candidatura e o início da divulgação. Visa não só dar tempo à Justiça Eleitoral para confirmar, negar e resolver pendências de candidaturas. Mas, Propaganda Eleitoral tem início mesmo a 16 de agosto. Antes, qualquer publicidade ou manifestação com pedido explícito de voto pode ser considerada irregular e passível de multa. Pesquisas de opinião devem ser registradas no TSE até cinco dias antes da sua divulgação.

Apresentadores de rádio ou televisão pré-candidatos a cargos ficam impedidos de fazê-lo a partir de 30 de junho. A lei eleitoral mostra-se claudicante em relação à propaganda feita via redes sociais. Para muitas candidaturas elas são decisivas. Por outro lado, alguns candidatos não têm a elas qualquer acesso. A propaganda gratuita no rádio e na TV começará em 30 de agosto e se encerrará em 3 de outubro, considerado antevéspera do primeiro turno.

Depois de 6 de julho é vedado aos agentes públicos a realização de nomeações, exonerações e contratações, assim como participar de inauguração de obras públicas. Na legislação anterior esse prazo se estendia por seis meses após o pleito. Candidatos não poderão ser presos. Somente se pegos, pessoalmente, em alguma transgressão

A partir de 10 de outubro quem não pode ser preso são os eleitores: somente em caso de flagrante, ou em cumprimento de sentença judicial por crime inafiançável ou ainda em desrespeito a salvo-conduto. E, assim, deve-se esperar que teremos nossas eleições sempre competitivas, imparciais e democráticas. As eleições municipais são a base da futura eleição para Presidência da República no Brasil. Merece reflexão.


87095
Por Manoel Hygino - 4/6/2024 08:38:32
Hamas, e agora?

Manoel Hygino

A “briga” entre o atual presidente da República e seu antecessor não para, embora a campanha esteja encerrada, há bastante tempo, em âmbito político-eleitoral. Bolsonaro criticou Lula pela postura do petista diante do conflito entre Israel e Hamas. No dia 25 de maio, Luiz Inácio pediu solidariedade para as mulheres e crianças “que estão morrendo na região de Gaza por irresponsabilidade do governo de Israel”.

Por meio de sua conta no X, Bolsonaro acusou seu sucessor de ser amigo do grupo terrorista de Gaza e questionou o interesse do atual presidente e questionando seu empenho em libertar o brasileiro Michel Nisenbaum, sequestrado e morto pelo grupo e cujo corpo foi resgatado pelo Exército de Israel no dia 24 último, como divulgado pela imprensa cá de nossa terra.

Caminhando para um ano a ação terrorista do Hamas, já seria hora de saber o que acontece naquela belicista região do mundo. A causa palestina, que tem servido de motivo para movimentos em vários países da Europa e nos Estados Unidos, passou a plano inferior em meio a uma guerra a partir de outubro deflagrada. A antiga ação movida pela OLP foi chutada para escanteio, ela que defendia e controlava a Cisjordânia e assinara os Acordos de Oslo, que deveriam ter prevalecido.

O Hamas entrou em campo e zerou quase tudo na região, enquanto jovens em países civilizados, desconhecedores do caso e das causas, passaram a fazer balbúrdias nas portas das universidades e nas ruas das capitais, julgando-se em defesa de uma bela e justa causa.

O Hamas aproveitou-se da situação delicada e usou da força para o 7 de outubro, mas a verdade verdadeira é que agiu com apoio de países que têm interesse em dominar aquele pedaço de mundo, principalmente Irã, Rússia e Síria. Conseguiu agravar os problemas com influenciamento das nações compelidas a usar inclusive suas passagens em rotas comerciais e mesmo bélicas.

Márcio Coimbra, com muito senso de oportunidade e conhecimento de causa, julga que o Hamas cogitou usar o Irã, a Rússia e a Síria para estabelecer o predomínio de forças naquela encruzilhada. Nem tudo deu certo, porém se começou a guerra ainda sem fim. Ademais, agora que o Irã perdeu o seu presidente, o que acontecerá? Estamos, mais uma vez, em crise aguda sem saber o que há à frente.

Qual será a posição iraniana com o novo presidente? Sem ele, o Hamas perde muito de sua força.


87094
Por Manoel Hygino - 1/6/2024 07:37:42
Duplo adeus

Manoel Hygino

Perdemos, perdeu Minas Gerais, dois importantes e queridos brasileiros aqui nascidos. Ambos com 80 anos - um que teve berço em Lavras, no Sul de Minas, Aloísio Teixeira Garcia, membro da Academia Mineira de Letras, em que ocupava a cadeia 36, entidade da qual foi secretário geral, além de secretário de Estado da Educação e Secretário de Cultura, chefe de gabinete dos Ministérios da Cultura e dos Ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio, além de deputado; o segundo, Téo Azevedo, nascido no Norte do Estado, cantor, compositor, cordelista e escritor com liames na cultura popular, com mais de 25 mil músicas registradas, tido como o compositor brasileiro com maior quantidade no gênero gravadas no país, com berço e grande parte da existência no distrito de Alto Belo, município de Bocaiúva.

Téo nos deixou no dia 11 e Aloísio Teixeira Garcia no dia 19 de maio, mês em que já de nós se tinham despedido outras expressivas e prezadas personalidades da vida brasileira, deixando lacunas não preenchíveis. Aos que ficamos resta lamentar por terem dito adeus antes de nós e rogar para que se enxuguem as lágrimas dos seus familiares e amigos mais íntimos.

O primeiro, nosso confrade na Academia Mineira de Letras, deixou livros publicados e valiosa colaboração a veículos brasileiros de comunicação, mais especificamente na área econômica a que se devotou, com esmero e sucesso, em ponderável parte da existência; o segundo, Téo Azevedo, conforme a vocação da gente de sua região e sua destinação natural à música, mesmo lá no distante território do sertão mineiro em que nasceu, tornou-se conhecido sobretudo por sua produção artística, que lhe valeu prestígio que ultrapassou os limites de nossa terra.

Sobre o catrumano Téo, declarou o compositor Tino Gomes: “Partiu para os planos celestiais, no toque da viola, um dos maiores defensores da cultura popular deste país, ao qual nós todos devemos reverenciar. Téo foi um lutador pela nossa cultura, nosso povo catrumano. Um poeta e batalhador incansável da nossa cultura. Ela fica mais entristecida, mais pobre”.

Sobre Aloísio, expressou-se o presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares: “Foi um educador comprometido com a causa do ensino de qualidade, tanto na iniciativa privada quanto na vida pública. Na literatura, produziu poesia de destaque. Vivia muito a vida da Academia”. E Jacyntho Lins Brandão, atual presidente, registrou: “Aloísio Garcia teve uma vida plena de realizações, em que se destacam as atividades na área educacional e cultural (...). Seu legado persistirá”.

É o que o signatário desse texto subscreve respeitosamente.


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Por Manoel Hygino - 28/5/2024 09:44:34
Saúde de ponta

Manoel Hygino

É um longo tempo – 125 anos, sobretudo quando se trata de uma instituição filantrópica, que passa invariavelmente por sucessivos e numerosos desafios para sobreviver e que sobrevivam seus pacientes, quando se trata de hospital ou assemelhado. Pois este tempo foi vencido e comemorado pela Santa Casa com celebração ecumênica em ação de graças no dia 21 de maio, no salão nobre do Hospital de Alta Complexidade 100% SUS, como agora identificado.

Presidido o ato religioso pelo Capelão, padre Carlos Alberto Amaral, e pelo pastor presbiteriano, Jorge Eduardo Diniz, com participação do coral Voz e Coração, da instituição, viveu-se uma manhã de profunda emoção, quando se entregou a Medalha Dr. Aloysio Andrade de Faria, Benfeitor da entidade, “reconhecendo o trabalho de pessoas, entidades e empresas que prestam relevantes serviços à sociedade no campo assistencial, em todo o país”.

Receberam a honrosa distinção: o procurador do município, Hércules Guerra; o professor e pesquisador Marcus Vinícius Gomez; a médica oncologista clínica dra. Maria Nunes Álvares; o médico e ex-chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica da Santa Casa BH, Moacir Tibúrcio (homenagem póstuma em que foi representado por sua viúva Vera Lúcia Leonardi Tibúrcio e pelo filho Arthur Emílio Leonardi Tibúrcio); o médico e ex-secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães Júnior; o empresário Pedro Lourenço de Oliveira, representado pela diretora de Marketing dos Supermercados BH, Kátia Andrade; e a voluntária e filantropa Maria Christina (Titita).

O provedor Roberto Otto Augusto de Lima, na oportunidade, destacou a evolução da Santa Casa BH em mais de um século de atuação, e enfatizou o trabalho da instituição nos seus 125 anos de vida, coincidindo com o lançamento de uma campanha publicitária reafirmando o compromisso com a cidade, o estado e o país, sob o mote “sonhos não envelhecem” e se mantendo o princípio de “uma grande ideia com a vontade desmedida de fazer bem ao próximo”.

Finalizou o provedor: “Chegamos a 2024 como o hospital que mais realiza internações no país. Além disso, recebemos pacientes de mais de 90% dos municípios mineiros, somando 3,4 milhões de atendimentos por ano e contamos com 1.153 leitos. Somos, ainda, reconhecidos pela excelência e por sermos referência nacional em alta complexidade, em Oncologia, Cirurgia Cardíaca, Neurocirurgia, partos de alto risco e transplantes”, entre outros.


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Por Manoel Hygino - 25/5/2024 07:12:41
Prevendo 2025

Manoel Hygino

Minas vai bem, obrigado? Ou vai mal? Não desejo fazer intervenção na situação econômica-financeira, que é problema de centenas de autoridades do alto nível da administração pública. Mas só a famosa dívida mineira junto à União já deixa certeza de que as coisas não andam tão bem como se desejaria.

Sabe-se que o Executivo faz das tripas o coração para ver se consegue equacionar os cerca de R$ 160 bilhões da dívida. E a União, como se sabe e se constata, não perdoa. Agora que se tomou conhecimento do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, visando o exercício de 2025, também se vê que há muito ainda a pagar à frente.

O PLDO, encaminhado à Assembleia Legislativa, prevê um rombo menor do que o de 2024. É algo que merece ênfase. A redução se revela inferior à de 2024 em 53,7%. Algo expressivo, sem dúvida, mas que não diminui a angústia para o ano que vem. O governo, contudo, é objetivo e sincero ao declarar que a “situação fiscal é delicada”.

A dinheirama a ser utilizada vem dos impostos, é claro. É histórico e legal, embora a chiadeira generalizada, sobretudo dos que ganham pouco. O gasto previsto para 2025 é superior a R$ 133,2 bilhões, mostrando um de 8% em relação ao orçamento deste exercício. E não há como desviar dos compromissos.

As despesas obrigatórias são muitas e pesadas, a começar do pagamento de salários do funcionalismo o público e encargos sociais. Só estes exigem 82,9% do total e atingem, como estimado, R$ 78,6 bilhões.

Mas há mais: as despesas constitucionais, como pagamento dos pisos salariais da saúde e educação estão avaliados em R$ 12,9 bilhões. Tudo, tudo, tem de sair do bolso do cidadão. Falar em dívida pública no Brasil, em que as demandas são imensas e sempre crescentes, é algo que causa desgosto e inquietação.

O cenário do Regime de Recuperação Fiscal, já homologado, não permite sorrisos, mas se considerando a expectativa de diminuição da expectativa de pagamento do serviço relativo aos contratos administrados pela União, com quem o estado tem vultosa dívida de R$ 160 bilhões, para a qual não se chegou a um consenso.

Muita água vai passar debaixo da ponte ainda. O que se espera é que não se venha a sofrer como o Rio Grande do Sul. Lá, depois das enchentes e da destruição, há a sujeira, uma terrível ruína, que ainda resta a enfrentar.


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Por Manoel Hygino - 21/5/2024 09:02:03
Acontece por aqui

Manoel Hygino

Ouço incessantemente queixas contra ao serviço público de um modo geral, a ineficiência dos órgãos incumbidos de zelar pelo bem-estar e tranquilidade do cidadão e da população. Os mineiros protestam contra o que se deve fazer hoje e se deixa para amanhã. Os problemas, que são meros problemas, se tornam desafios aparentemente insolúveis.

A despeito das promessas, não se cumprem integralmente os compromissos assumidos pelas autoridades. Já nem se fala no pagamento dos juros da dívida de Minas com a União que fica para as calendas, embora os esforços dos que têm o dever de dar-lhe solução. Há o sentimento generalizado de que não se pode mais adiar, mas não se encontra solução adequada.

Os efetivos resultados dos trabalhos da CPI da Pampulha estão adiados e tampouco se sabe qual será o próximo passo. Enquanto isso, acumulam-se as reclamações e protestos pelo mau cheiro aos visitantes da região. Simultaneamente, ouvem-se comentários esplêndidos sobre o Conjunto Arquitetônico reconhecido mundialmente e motivo de orgulho dos mineiros.

Vamos levando.

Não podemos queixar-nos. Depois de 18 anos, o Brasil voltou a ter um caso de cólera confirmado. É uma doença bacteriana transmitida principalmente por água e alimentos contaminados pela bactéria Cholerae, causando sintomas como diarreia e vômito. Aconteceu na Bahia, em que choveu barbaridade no final de abril.
E houve mais. A Polícia Federal do Pará descobriu um banco utilizado para lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas. Os donos do estabelecimento foram identificados como responsáveis por movimentações financeiras milionárias, envolvendo pessoas físicas e jurídicas, muitas delas laranjas e empresas de fachada.

Enquanto uma cantora de nome internacional, cujos méritos não se restringem à voz, conseguia levar mais de um milhão e meio de pessoas a sua apresentação em Copacabana, uma catástrofe no Sul brasileiro levou muitos outros milhares ao desespero, ao desamparo, às dores de falta de abrigo e alojamento, se bem que contando- felizmente- com milhões de conterrâneos solidários e dispostos a bem ajudar.

No Rio Grande, contudo, enquanto tantos se esforçam num mutirão sem fim em favor dos irmãos, muitos fora da lei continuam no seu afã criminoso de saquear, roubar, estuprar, ofendendo todos os que fazem parte desta sociedade. Ainda bem que ainda existem os bons e solidários.


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Por Manoel Hygino - 18/5/2024 07:45:20
Esperando o porvir

Manoel Hygino

Violentos tremores de terra na Turquia, tsunamis, no Japão, abalos na crosta da China, incêndios enormes na Austrália, erupções de vulcões na Europa, tempestades de neve no hemisfério Norte são manifestações da natureza que os brasileiros pensavam que só aconteceriam bem longe. Não é assim e a catástrofe, que atinge o Rio Grande do Sul, e diz alto que também estamos sujeitos aos caprichos geológicos. No estado sulino, grande produtor de bens que servem à mesa de nosso povo e engordam a nossa pauta de exportação agrícola, vive-se um período de calamidade, cujas repercussões se estenderão à economia e a toda a nação, não se sabe até quando e quanto.

Os dados fornecidos pelas autoridades sobre a catástrofe são alarmantes e ainda não são definitivos, mas alertam a população de que somos iguais aos demais países e agentes espalhados por imensos territórios.
Caminha-se para 150 pessoas mortas, de acordo com a Defesa Civil. E quando a somatória de caos chegará ao término? Ninguém poderia dizê-lo. Os desalojados totalizam mais de 340 mil, e 150 desaparecidos. As chuvas duram duas semanas e afetam quase dois milhões de irmãos gaúchos, em mais de 400 municípios.

Milhares já foram alvos, além de animais recolhidos a lugares protegidos, mas tudo isso é apenas um pouco da tragédia iniciada praticamente em setembro do ano passado e só temporariamente interrompida. Jamais, naquele território especialmente querido nos mais de 8 mil quilômetros quadrados, tantos sofrem e tanto sofrem.

Solidariedade não tem faltado, mas incomoda especialmente o imprevisível. Não se trata, ademais, de um problema simplesmente brasileiro. As gerações de agora reconhecem que as perspectivas são mais graves, o que se avaliará nos próximos dias, enquanto o sr. Putin ameaça o planeta com ferramentais bélicos nucleares.

Esperemos, ao contrário, que a catástrofe ao Sul e outras tragédias fecundem a solidariedade e aprendizagem de novas lições e práticas no horizonte. Como proclamou, há poucos dias, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, cardeal-arcebispo de Belo Horizonte: “A lição da catástrofe no Rio Grande, sem perder a referência amarga de tantas outras, é um convite urgente a renovar o diálogo, com inteligência e boa vontade para efetivar propostas do modo como se está construindo o futuro do planeta”.


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Por Manoel Hygino - 15/5/2024 08:52:13
A morte de Nava

Manoel Hygino

Completam-se 40 anos. Na noite de 13 de maio de 1984, no Rio de Janeiro, suicida-se o escritor Pedro da Silva Nava, com um tiro na cabeça após receber um misterioso telefonema.

Havia transcorrido menos de 30 anos do suicídio de Getúlio Vargas, que dera fim à vida mas com um tiro coração, na manhã de 24 de agosto de 1954, em seu dormitório no Palácio do Catete, após reunião com seus mais graduados auxiliares e no ápice de uma crise política.

Médico inovador, juiz-forano, Pedro Nava, memorialista dos maiores a que Minas serviu de berço, ele começa as mais de 5 mil páginas de obra jamais concluída, parafraseando Eça de Queiroz: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se não exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome da Rua Principal e ficou sendo denominada a Rua Direita da Cidade de Juiz de Fora. Nasci nessa rua, número 179, em frente à Mechanica, no sobrado onde reinava minha avó materna. E nas duas direções apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a minha vida”. A literatura brasileira perdeu naquela noite de domingo um de seus mais importantes nomes, o memorialista Pedro Nava. Ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na rua da Glória, no Rio, perto de onde morava. Segundo a polícia, foi suicídio. Ele completaria 81 anos de idade em junho.

Mineiro, médico, companheiro de Carlos Drummond de Andrade na vanguarda modernista, amigo dos mais importantes personagens do mundo cultural do País, até 1972 Nava só havia publicado poemas esparsos. Naquele ano, editou seu primeiro livro ("Baú de Ossos"), ao qual se seguiram mais cinco. Sua sétima obra ("Cera das Almas") já estava praticamente concluída.

Foi possível recompor os últimos passos de Nava. Na noite de domingo, em seu apartamento na rua da Glória, ele terminou de escrever o discurso que deveria pronunciar na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 23, quando receberia o título de Cidadão Fluminense. Mostrou o discurso à mulher, d. Antonieta, e jantou normalmente. Por volta das 20 horas, o telefone tocou e a esposa atendeu, uma voz de homem perguntava por Pedro Nava. Este ouviu em silêncio o que a voz lhe dizia e depois desligou. À mulher, ele informou apenas tratar-se de um trote de mau gosto. Às 22 horas, dona Antonieta foi ao banheiro. Nava então saiu, sem avisá-la (segundo a família, "fugiu"). Mais tarde, foi visto sentado à calçada, parecendo abatido em meio ao movimento de prostitutas e travestis. Às 23h30, o tiro, disparado de um velho revólver calibre 32, do próprio Nava.

Em entrevista concedida à "Folha" em junho anterior, em seu 80° aniversário, ele dissera “ter pensado várias vezes no suicídio, mas que o fato de ser médico o protegera, até ali, contra o ato”.


87082
Por Manoel Hygino - 14/5/2024 09:00:12
Rodas contra câncer

Manoel Hygino

Se há uma área médica a que Belo Horizonte e, por extensão, Minas Gerais dá especial atenção, é a do câncer. O que aqui se fez, desde as primeiras décadas do século passado no combate à doença, até hoje das que mais matam no mundo, é quase inacreditável, considerando que a capital fora inaugurada em dezembro de 1897.

Os profissionais vinham de fora, até porque aqui não havia faculdades de medicina, além de que especialização era coisa raríssima. Somente em 1919, o câncer passou a preocupar. Um grupo de profissionais começou a reunir-se na casa de Ezequiel Dias (ele era cunhado de Oswaldo Cruz) para tratar do assunto, e médicos de alta reputação compareciam para discutir o que se podia fazer. Entre eles, estava – por exemplo – Eduardo Borges da Costa, carioca com dois anos de formado e cheio de entusiasmo. Na noite em que aqui desembarcou, a cidade repleta, ele teve de dormir numa mesa de bilhar no Grande Hotel, porque não havia vaga nem em hospedarias.

No dia seguinte pela manhã, foi à Santa Casa, único lugar de assistência médica e ao provedor Júlio Veiga declarou que queria trabalhar e não ganhar nada. Imediatamente atendido, assumiu de pronto a chefia de Clínica Cirúrgica, onde permaneceu até o final da vida, gloriosa – posso afirmar. Foi importante sua atuação nos meios políticos, conseguindo a constituição de uma comissão para tratar do assunto junto ao presidente de Minas, Artur Bernardes. E mãos à obra.

Em 1922, o Instituto do Câncer foi inaugurado, com a capital e o Estado pioneiramente à frente de toda a América; um júbilo ainda hoje não comemorado com a merecida relevância. Aqui enfim, estava o Instituto, honrando nossa Medicina e a classe médica, o espírito público nas montanhas. Belo Horizonte se equiparava a Paris.


Em 2023, a filantrópica pôs também a serviço da população a Unidade Móvel de Saúde Oncológica SUS, com uma carreta que percorre as cidades de Minas Gerais para exames de mamografia, raio X e atendimentos multiprofissionais na área de câncer, focando ainda a educação, prevenção e identificação de casos de alta suspeição em crianças, adultos e idosos.

Roberto Otto Augusto de Lima, o provedor, no dia do início de trabalho da Unidade, afirmou: “Um marco simbólico para a Santa Casa BH, pois recentemente a gigante da saúde do estado passou por um reposicionamento institucional e tornou-se uma causa: saúde de ponta para todos, e essa causa não cabe mais dentro do prédio.

“Ela é maior do que a própria instituição. E, agora, mais do que nunca, não cabe no hospital, a Santa Casa BH ganhou rodas e vai para as estradas, levando saúde a quem precisa. Vamos levar prevenção e tratamento para toda Minas Gerais. É algo tangível nesta nossa causa”.


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Por Manoel Hygino - 11/5/2024 07:15:03
Drama no Sul

Manoel Hygino

A já longa tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos deixa a todos em sofrimento, se é que somos um povo efetivamente irmão e solidário. Procurei transmitir os sentimentos de que me achava possuído, e me lembrei do nome de um velho tango argentino: “Sin palavras”. Como definir numa palavra única a dor que desabou amplamente pelo nosso estado mais ao Sul?

Catástrofe talvez a mais indicada, porque corresponde a uma grande desgraça, lembrando que o profeta Jeremias expressou sua angústia com a destruição de Jerusalém pelo exército dos caldeus de Nabucodonosor, em 587 antes de Cristo.

A descrição nos leva a ver diante dos olhos extensas regiões de terras gaúchas nos dias de abril e maio. A rua entulhada de destroços do Templo, dos prédios públicos e casas particulares. E, quando Jerusalém ficou deserta, o profeta Jeremias assentou-se a chorar e lançar gritos de dor, as chamadas Lamentações.

O ministro Edson Fachin, gaúcho de nascimento, fez como Jeremias, expressando profunda preocupação com a situação catastrófica do estado, após visitar Porto Alegre e Canoas, ao lado de Lula e outras autoridades dos três poderes.

Vice-presidente do STF, Fachin comparou o impacto da tragédia a uma “Bomba atômica” da natureza, ressaltando que o estado enfrenta uma crise humanitária, social, econômica e ambiental sem precedentes. Ele enfatizou a importância da cooperação entre todas as esferas do Judiciário e dos poderes, incluindo União, Estado e Municípios para enfrentar a situação crítica. Finalmente, destacou a urgência de implementar um regime jurídico emergencial, similar à época da pandemia, para lidar com os desafios decorrentes da catástrofe.

Numerosas estradas estão fechadas ou interrompidas. O aeroporto Salgado Filho deve permanecer com atividades suspensas até o final de maio.

A Abear informou, também, que os aeroportos das cidades de Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Santo Antônio ainda estão operando, mas podem ser impactados pelas condições meteorológicas no estado, onde chove há vários dias. “A Abear se solidariza com a população do Rio Grande do Sul e, junto com as suas associadas, se mantém à disposição para contribuir com ações de logística para viabilizar o transporte de doações”.

Mais de uma centena de mortos, o dobro de feridos e desaparecidos. As chuvas voltaram e o grande medo agora são dos que fazem saques e roubos nas áreas atingidas.


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Por Manoel Hygino - 8/5/2024 08:45:35
O apelo de Maduro

Manoel Hygino

Fica-se imaginando o que serão as eleições na Venezuela, sobretudo porque a hora se aproxima e ninguém segura o tempo. O pleito será no apagar das luzes de julho próximo e ninguém sabe o que a ditadura de Nicolás Maduro poderá tramar até lá. Esse “negócio” de ocupar altos cargos públicos deve ser bom para os candidatos, caso contrário ninguém estaria tão disposto a disputá-los.

No caso específico da Venezuela, a Coordenação Nacional, alinhada ao presidente, anunciou a inabilitação política de mais cinco opositores ao regime, o que dá ideia do tipo de democracia que se pratica no país ao Norte.

Ao longo dos mais recentes meses e anos, Nicolás Maduro vai afastando sistematicamente todos aqueles que querem apresentar-se como candidatos. Nenhum dos que manifestaram desejo e propósito do ilustre titular do palácio, sobrou. Caracas é uma cidade que já foi muito boa para nela se morar.

A lista já extensa de líderes que perderam o direito político antes do processo eleitoral vai-se avolumando e o nome de Maduro é o único intocável, por motivos óbvios. O episódio me desperta para o que aconteceu com Putin, o presidente da Rússia, que tem o mesmo desvelo pelos que pretendem o voto dos patrícios.

Na recente eleição no país do Norte, Vladimir Putin pediu aos compatriotas que votassem para demonstrar patriotismo. Disse com a maior caradura: “Peço que compareçam para votar e expressem a sua posição cívica e patriótica, que votem no candidato de sua escolha, pelo futuro da nossa amada Rússia”, disse Putin em um discurso exibido pela televisão pública russa.

“Participar nas eleições é demonstrar seus sentimentos patrióticos”, acrescentou Putin, candidato à reeleição. “Estou convencido de que compreendem o período difícil que o nosso país atravessa, os difíceis desafios que enfrentamos em praticamente todas as áreas”.

Como se tinha certeza, o eleitorado atendeu ao pedido do titular do Kremlin. Será mais um mandato para o camarada Vladimir, que já deve estar sonhando com mais um período de governo, quanto terminar o que ainda sequer começou.

Depreende-se que tanto no alto do mundo, bem no Norte, se tem igual voracidade de poder como no hemisfério Sul. O antecessor do atual mandatário venezuelano poderia melhor manifestar-se sobre o tema. Se não tivesse sido cerceado pelo câncer, que agora fere profundamente o Mujica no Uruguai, Hugo Chávez daria a resposta. Infelizmente, já partiu, há muito.


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Por Manoel Hygino - 7/5/2024 08:27:06
A hora de Mujica

Manoel Hygino

O Uruguai volta novamente, com destaque, aos principais jornais do Brasil... E do mundo. Desta vez, não para informar que políticos brasileiros ou de outras nações sul-americanas tivessem pedido asilo ou lá se refugiaram. Apesar do pequeno território – menos de 180 mil quilômetros quadrados– quando ditaduras no hemisfério sul apertavam, para lá fugiam os perseguidos. Basta se dar uma volta ao passado para confirmar.

Imprensado entre Brasil e Argentina, pressionado por ambos em momentos decisivos da história, lideranças de outros povos procuravam asilo nos pampas ao sul do arroio Chuí e de outras regiões limítrofes. Páginas heroicas do solo oriental foram escritas, de que muito se orgulham os poucos milhões de uruguaios, que sempre lutaram em defesa de seu território, de suas riquezas e da concretização de projetos e sonhos. Na monarquia ou na república brasileira, foi assim.

Até o século XVII, a região do atual Uruguai era habitada pelos índios charruas, chamaés e guaranis, cujas tribos também habitavam por aqui.

Em 1680, os portugueses criaram uma colônia em Sacramento, mas foram expulsos pelos espanhóis que, em 1726, fundaram São Felipe de Montevidéu.

Daí em diante, portugueses, espanhóis e uruguaios, estarão sempre em guerra para ver com quem ficaria o rico quinhão. Os blancos e colorados acirram o ambiente, do lado dos partidos nacionais. Entra a França na disputa. Em apoio ao caudilho colorado Venâncio Flores, o Brasil intervém enquanto o próprio Uruguai passa a integrar a Tríplice Aliança, ao lado do Brasil e Argentina, na Guerra do Paraguai. Complicado. Em determinado período, o território é anexado ao Brasil, numa espécie de estado, com o nome de Província Cisplatina. Era 1821.

José Mujica, ex-guerrilheiro que governou o país de 2010 a 2014, conquistou prestígio no continente. Agora está gravemente enfermo, de uma doença imunológica há mais de 20 anos e, desde o final de abril de 2024, com câncer complexo.

Há poucos dias, em seu gabinete em Montevidéu, foi claro e peremptório, falando aos jovens: “Vocês que a vida é bela e passa, vai embora, e o cerne da questão, ter sucesso na vida, é recomeçar toda vez que alguém cai. Se há raiva, que a transformem em esperança e lutem pelo amor, não se deixem enganar pelo ódio. Se as drogas os pegarem, não fiquem sozinhos, ninguém se salva sozinho. A única liberdade que existe está na cabeça e chama-se vontade, e se não a usarmos não somos livres. A vida é tão bonita que não faz sentido sacrificá-la pela estupidez”.


87075
Por Manoel Hygino - 4/5/2024 10:20:02
Acerto de conta

Manoel Hygino

Sem contar novidade, a recente afirmativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a jornalistas estrangeiros, foi clara, incisiva e incontestável. Na noite de quarta-feira, 24 de abril deste fluente ano de 2024, o chefe da nação lusa declarou peremptoriamente a correspondentes estrangeiros em Lisboa que “Portugal assumia total responsabilidade” pelos erros do passado e que os crimes incluem massacres, e tiveram “custos”. “Devemos arcar com os custos”, concluiu o raciocínio.

É alto de eminentemente sério, partindo de um chefe de Governo, mas não é a primeira vez que Rabelo de Sousa se manifesta sobre um tema tão candente, tão velho e, simultaneamente, tão atual. Em abril de 2023, ele já dissera que o país deveria desculpar-se e assumir sua responsabilidade pelo comércio transatlântico de escravizados. Por sinal, na época, ele foi o primeiro líder de uma nação do sul da Europa a sugerir tal atitude.

E avançou mais na exposição de seu ponto de vista: “pedir desculpas às vezes é a coisa mais fácil de fazer. Você pede desculpas, vira as costas e o trabalho está feito”, declarou então. Desta vez, foi mais longe e profundamente: mencionou o dever de uma reparação, repetindo que “pedir desculpas é a parte mais fácil”.

Afirmou de modo indiscutível: “Há ações que não foram punidas. E os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”. Vê-se que o presidente assume, neste ano que se aproxima da metade, um grande papel perante sua pátria, perante o Brasil e de relevância supranacional.

Os periódicos que cuidaram do assunto encontraram subsídios fartos, e obviamente o Brasil poderá muito explorá-lo.

Por mais de quatro séculos, milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força em navios por comerciantes principalmente europeus e vendidos como escravos. Aqueles que sobreviveram à viagem acabavam trabalhando em plantações nas Américas, em especial no Brasil e no Caribe. Portugal teve um papel importante nesse sistema, já que traficou quase seis milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia. Até agora, porém, falhou em confrontar seu passado.

A própria declaração de Rebelo no ano passado foi marcada por uma ponderação contraditória que romantiza o modelo escravocrata. Na ocasião, o presidente português disse que a colonização do Brasil também teve fatores positivos, como a difusão da língua e da cultura portuguesa. “Mas, do lado ruim, a exploração dos povos indígenas, o sacrifício dos interesses do Brasil e dos brasileiros”, disse.


87073
Por Manoel Hygino - 1/5/2024 10:30:17
Bom para o Brasil

Manoel Hygino

Não é de hoje nem de ontem que temos advertido para os problemas que a siderurgia brasileira atravessava. Parece incrível que, tantas décadas após a nação ter criado e desenvolvido um setor econômico tão importante, enfrentando o desafio no mercado internacional, ainda estivéssemos a clamar para que a produção alcançasse os níveis desejados, necessários e indesviáveis.

Mais recentemente, o ingresso da China no mercado internacional resultou em abalo enorme nos preços, fazendo tremer nossas contas e perspectivas. Finalmente, transpôs-se a barreira e a situação começa a clarear. É uma bela hora, enfim. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, deu aval à medida providencial aprovada pela União.

Com aplauso, a entidade avalizou a decisão do governo federal de implantar uma cota para importação de produtos siderúrgicos e sobre- taxar em 25% o volume de compras externas que extrapolam o teto. Demorou, mas saiu. Na penúltima semana de abril, o Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior, Camex, colegiado do governo federal, aprovou a medida. Finalmente.

A decisão ocorre depois que as empresas siderúrgicas nacionais protocolarem pedido para aumentar a alíquota do Imposto de Importação dos diversos produtos ligados ao aço para o percentual referido. Foi o período de uma gestação humana. Nove meses de negociação para resolver-se uma situação predatória para o aço aqui produzido, onde se extrai o minério. Quase a fórceps, mas enfim.

O setor se comprometeu a retomar investimentos previstos e manter os empregos nas siderúrgicas, que estavam ameaçados pelo aumento da importação de aço, principalmente da China. O setor aporta, em média, R$ 12 bilhões por ano no Brasil. Valores médios para manutenção das unidades fabris, mas que podem crescer de acordo com os novos projetos. Grandes empresas como Usiminas, Gerdau, Arcelor e Aperam têm planos de investimentos bilionários em curso, boa parte deles em Minas Gerais. Durante os nove meses de tratativas entre o setor e o governo federal para impor essa sobretaxa ao produto importado, esses investimentos foram colocados sob risco.

Agora se espera que a China não volte com novas propostas que comprometam tão valioso setor. Chegamos com algum atraso ao ponto atingido. Não é de bom alvitre nem sensato voltar no tempo, o que representaria uma grande perda em uma área da economia a que o Brasil se acha vocacionado historicamente.




Selecione o Cronista abaixo:
Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
Ivana Ferrante Rebello
José Ponciano Neto
Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
Gustavo Mameluque
Haroldo Lívio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
Isaías
Isaias Caldeira
Isaías Caldeira Brant
Isaías Caldeira Veloso
Isaías veloso
Ivana Rebello
João Carlos Sobreira
Jorge Silveira
José Ponciano
José Ponciano Neto
José Prates
Luiz Cunha Ortiga
Luiz de Paula
Manoel Hygino
Marcelo Eduardo Freitas
Marden Carvalho
Maria Luiza Silveira Teles
Maria Ribeiro Pires
Mário Genival Tourinho
montesclaros.com
Oswaldo Antunes
Paulo Braga
Paulo Narciso
Petronio Braz
Raphael Reys
Raquel Chaves
Roberto Elísio
Ruth Tupinambá
Saulo
Ucho Ribeiro
Virginia de Paula
Waldyr Senna
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